O Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), organização social supervisionada pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), sediada em Campinas, teve seu projeto para o desenvolvimento de um acelerador linear de prótons aprovado pelo Ministério da Saúde. O foco é garantir a autonomia nacional e permitir que várias regiões do país, hoje sem acesso à tecnologia, possam realizar exames para a detecção da doença e oferecer tratamentos oncológicos.
O investimento total é de aproximadamente R$ 27 milhões do Ministério da Saúde, via Programa de Desenvolvimento e Inovação Local (PDIL) e o prazo de execução é de dois anos.
Atualmente, a produção nacional de radioisótopos usados em exames de diagnóstico depende de aceleradores do tipo cíclotron, fornecidos por empresas estrangeiras. Esses equipamentos têm limitações que tornam sua instalação, operação e distribuição relativamente complexas. Um dos maiores desafios é a infraestrutura exigida: os cíclotrons precisam de áreas amplas e de estruturas robustas de blindagem para garantir a segurança dos operadores e do ambiente. Nesse contexto, desenvolver equipamentos e instalações mais compactos e simples pode reduzir custos, facilitar a logística e tornar a produção e o fornecimento de radioisótopos mais ágeis e eficientes, beneficiando diretamente os serviços de saúde pública e o acesso a tratamentos radiofarmacêuticos.
O CNPEM não irá tratar pacientes, o objetivo é a viabilização da tecnologia. Outras instituições poderão aplicá-la nas áreas médica e farmacêutica. O Diretor Adjunto de Tecnologia do CNPEM, James Citadini, explica que o novo equipamento será mais acessível e vai garantir a engenheiros e pesquisadores brasileiros o domínio de uma tecnologia estratégica para aplicações que vão desde a análise de materiais até a medicina nuclear, incluindo o tratamento de câncer com feixes de prótons.
O projeto também tem impacto estratégico para o Sistema Único de Saúde (SUS). “O foco é garantir a autonomia nacional e permitir que várias regiões brasileiras, hoje sem acesso ao equipamento, possam viabilizar a produção de radioisótopos para diagnósticos e tratamentos”, observa.
O engenheiro lembra que o Brasil depende fortemente da importação desses materiais, que têm vida útil muito curta. “Existem poucos locais que produzem radioisótopos no país, e muitos deles decaem em poucas horas ou minutos. Isso torna inviável transportar o material por longas distâncias e a solução ideal é ter produção local, próxima aos hospitais”, afirma.
Os radiofármacos são medicamentos que unem radioisótopos a moléculas capazes de direcionar a radiação diretamente às células tumorais, aumentando a precisão do tratamento e reduzindo efeitos colaterais. Mas quando o nível da radiação cai, o medicamento deixa de ser eficaz.
A proposta é desenvolver um protótipo nacional capaz de produzir radioisótopos para diagnósticos por imagem e terapias oncológicas, iniciando com flúor-18 e gálio-68. A escolha do flúor e do gálio foi feita por serem amplamente usados na área de diagnóstico hoje.
O primeiro protótipo do acelerador já está em fase de testes. “Começamos o desenvolvimento no início do ano passado. Projetamos, construímos e integramos os subsistemas para acelerar os primeiros prótons”, detalha Citadini.
Ao final do projeto, o CNPEM pretende entregar um sistema capaz de gerar feixes de prótons de até 7 megaelétron-volts (MeV), o suficiente para produzir alguns dos radioisótopos mais usados em medicina nuclear. “Nosso objetivo é dominar toda a tecnologia. Na sequência, aumentaremos a energia para permitir a produção de uma maior variedade de radioisótopos”, conclui o engenheiro.











