Se a arte, por si só, luta para ser vista num país com tantas nuances estéticas e regionais, o projeto MAIS – Memória, Arte, Identidade e Sustentabilidade quer mais! Tirar do mapa do invisível os artistas LGBTQIAPN+ do interior de São Paulo. A ideia é documentar, preservar e promover a memória desta comunidade. E o site para isso é o maismemoria.org.br.
Nele serão apresentados os acervos dos artistas já mapeados. Nesta primeira etapa são 30 participantes, com registros de obras, textos curatoriais e trajetórias, que seguem a um padrão museológico de catalogação. O MAIS já possui 136 nomes de artistas e coletivos inscritos, que serão acrescidos ao longo do(s) ano(s) à plataforma, acompanhando o ritmo orgânico das novas inserções e colaborações.
A primeira exposição
Afora isso o projeto terá exposições virtuais, caso da “Atlas de Poéticas Interrompidas”, com curadoria do artista visual e designer de moda Rafa Cavalheri.
Esta é a primeira mostra do MAIS e reúne 21 pessoas artistas, que atuam em diferentes linguagens, como artes visuais, literatura, fotografia e audiovisual. O lançamento oficial do site será dia 10 de janeiro, às 9h30, no Museu da Diversidade Sexual de São Paulo, na Capital.
Outras frentes
Além das exposições virtuais, o projeto traz a Escola MAIS, dedicada à formação artística e cultural da comunidade LGBTQIAPN+, espaços de partilha e publicação independente voltados à arte contemporânea e à produção descentralizada. Desde já o público também pode interagir com o Centro de Memória no perfil do Instagram (@cm.mais).

Gestação
“O projeto começou a ser idealizado em 2022, a partir das investigações acadêmicas e da minha prática curatorial”, explica Rafa Cavalheri.
Nascido em José Bonifácio, no interior de São Paulo, ele conta que identificou em suas pesquisas “a ausência de um mapeamento e registro da memória da comunidade artística LGBTQIAPN+, especialmente no interior paulista”.
A partir daí o Centro de Memória começou a ganhar corpo. Juntou-se ao projeto a pesquisadora Graziela Zanin Kronka, que há mais de 30 anos trabalha com temáticas deste nicho.
“Contemplado por um edital do ProAC, da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, esse reconhecimento permitiu a formação da equipe, a estruturação das ações e o início da formalização do MAIS como um centro vivo dedicado à preservação das memórias e produções LGBTQIAPN+”, lembra Cavalheri.
Em 2025 o projeto passou a contar também com a pesquisadora Ana Cecília Pereira Batista, colaborando nas frentes de pesquisa e documentação, além da equipe técnica formada por João Maiolini (designer gráfico) e Renan Dadelte (programador e web designer), responsáveis pelo desenvolvimento visual e digital da plataforma.
O motivo
Cavalheri reconhece que a motivação de criar este projeto veio de uma urgência de reparação, para dar não só visibilidade, “mas um sentido de pertencimento para artistas e coletivos que, historicamente, além de não serem reconhecidos, foram silenciados pelos sistemas institucionais da arte e da cultura”.
Por isso ter um espaço voltado à comunidade LGBTQIAPN+ tem tanto peso.
“Significa garantir memória e representatividade desse e para esse grupo, que sofre (sofreu) muitas violências e apagamentos ao longo da história”.
É só o começo!
A proposta é atuar a partir do interior paulista, em diálogo com iniciativas em âmbito nacional e internacional. “A plataforma nasce regional, mas com vocação para conectar redes e ampliar o alcance das memórias e produções LGBTQIAPN+ de todo o país”, reconhece o pesquisador.
O mapeamento do MAIS já alcançou diversas regiões do Estado de São Paulo, passando por grandes polos como Campinas, Ribeirão Preto, Presidente Prudente, São José do Rio Preto, Piracicaba, Limeira, Sorocaba e Jundiaí, e também por cidades menores, como Barretos, Lins, Itapecerica da Serra, Ourinhos, Sertãozinho, Votorantim, Capão Bonito, Tambaú, Monte Mor, Iracemápolis, Espírito Santo do Pinhal e Ilhabela.
Desdobramentos
Futuramente, diz Cavalheri, não se descarta a possibilidade de se expandir o acervo digital para um espaço físico, aproximando público, território e memória.
“Para nós, a arte e a exposição são instrumentos de educação e reconhecimento. Expor é nomear, é existir. Mesmo quando aborda temas específicos da comunidade LGBTQIAPN+. A arte dialoga com todas as pessoas, pois promove empatia, diversidade e um convite à escuta sensível”.












