Diante da imponente sede da Academia Campinense de Letras (ACL), na noite desta segunda-feira (6), um ato envolvendo ex-funcionários do Correio Popular chamou a atenção dos convidados que estiveram no salão nobre para as celebrações de 68 anos da ACL. Indignados por conta dos créditos que têm a receber do veículo de comunicação, resultado de sentenças judiciais não cumpridas, jornalistas e outros ex-trabalhadores do jornal promoveram um protesto contra o proprietário do Correio, o empresário Sylvino de Godoy Neto.
Presidente do Conselho Editorial do jornal e acionista do veículo, Sylvino recebeu o título de membro honorário da Academia Campinense de Letras, em homenagem outorgada, segundo a ACL, pelo reconhecimento do apoio do jornal à Academia, desde a sua fundação.
As lideranças do ato consideraram incoerente e revoltante a outorga a Sylvino em razão de ele não ter cumprido com as suas obrigações trabalhistas.
A dívida milionária do Correio Popular com seus ex-funcionários, incluindo jornalistas, publicitários e pessoal das áreas administrativas e de circulação, é caso notório e evidente no mercado. É igualmente de conhecimento de parte da opinião pública o sofrimento destes ex-trabalhadores. Parte deles desenvolveu doenças como depressão. Outros não conseguiram até hoje se reeguer financeiramente.
Há também quem teve que se desfazer de bens móveis e imóveis para sobreviver à falta de pagamento. O grupo que lidera e que está envolvido no projeto Hora Campinas é um dos que segue aguardando o pagamento de seus créditos.
Entre os que aguardam a quitação das dívidas, há pelo menos dois grandes grupos: 1) ex-trabalhadores que entraram com ações individuais, que ganharam na Justiça mas que não tiveram seus acordos honrados; 2) ex-funcionários que ingressaram com ação coletiva, que também ganharam seus direitos na Justiça, mas seguem sem nenhuma perspectiva de receber o dinheiro.
Além da leniência e da falta de compromisso do jornal, alegam os ex-funcionários, há também uma enorme decepção e frustração com a Justiça do Trabalho da 15ª Região.
Eles não compreendem por que a demora para executar as sentenças. O Hora Campinas apurou que parte das ações não cabe mais recursos. Elas estão adormecidas nas gavetas do TRT-15, sem que o andamento anime os credores. Ao contrário, há uma grande indagação sobre os próximos passos, além de enorme silêncio dos devedores e da própria Justiça.
Liderança do protesto
A líder do ato desta segunda-feira é a jornalista Kátia Fonseca, que por décadas trabalhou no Correio Popular na área de cultura e na produção de conteúdo on-line. Atriz e atualmente se dedicando a um trabalho artesanal para gerar renda (ela é crocheteira da Fio e Pavio), Kátia é reconhecida nacionalmente por sua luta em defesa das pessoas com deficiência (PCD), cobrando políticas públicas e inclusão. Ela mesmo jamais se entregou às suas limitações. Ao contrário, enfrentou as adversidades no trabalho e na vida.
É esta personalidade que se expôs, mais uma vez, para liderar o protesto diante da Academia Campinense de Letras.
Há três semanas, Kátia Fonseca iniciou uma campanha nas redes sociais cobrando o pagamento de sua dívida e de seus colegas. No Instagram e no Facebook, a jornalista narra sua epopeia em busca dos recursos e contextualiza a sua angustiante espera.
“Após trabalhar mais de 30 anos no Correio Popular – do Grupo RAC – eu (assim como dezenas de outros trabalhadores da mesma empresa… centenas talvez) ficamos a ver navios, sem receber salários, férias, horas extras e diversos outros direitos trabalhistas. Entrei com processo contra a empresa (eu e dezenas ou centenas de colegas), obtive ganho de causa em todas as minhas reivindicações, o juiz determinou que a empresa não tem nem mesmo mais direito a recursos (no meu caso) e, mesmo assim, esse dinheiro não aparece…”
“Cadê meu dinheiro, Correio Popular?”, é o slogan que Kátia usa em seus protestos.
No ato desta segunda-feira, além dela e de outros ex-funcionários, havia representantes do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, entidade que apoia a causa dos ex-profissionais do Correio Popular.
A Sessão Literária Solene comemorativa do 68º aniversário da ACL foi presidida pelo acadêmico Jorge Alves de Lima. O evento contou ainda com a palestra “As Academias e as Mudanças Climáticas”, proferida pelo ex-desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, José Renato Nalini. Ambos fazem parte do Conselho Editorial do Correio Popular, presidido por Sylvino de Godoy Neto. Sylvino é também o presidente do Grupo RAC.
Na campanha liderada por Kátia Fonseca nas redes sociais, ela também cobra o atual presidente-executivo do Correio Popular, Ítalo Hamilton Barioni.
O Hora Campinas está aberto às manifestações dos empresários Sylvino de Godoy Neto e Ítalo Hamilton Barioni, da Justiça do Trabalho (TRT-15) e do Ministério Público do Trabalho em Campinas. Para isso, coloca os e-mails [email protected] e [email protected] à disposição para eventuais posicionamentos.