Sempre me considerei uma pessoa educada. Cumpria com cordialidade as interações sociais, mantinha uma postura respeitosa e valorizava o profissionalismo em todas as minhas relações. Mas, vez ou outra, surgiam comentários que me faziam refletir. “Eu tenho medo de te atender”, confessou uma profissional do salão de beleza. “Não te achei simpática quando te conheci”, disse outra pessoa. Essas falas me intrigavam. Afinal, sempre fui reservada, disciplinada e muito focada na excelência. Características que, sem dúvida, me ajudaram a conquistar muitas coisas. Mas, apesar de me considerar uma pessoa querida – afinal, fui madrinha de casamento 18 vezes! – percebia que, no primeiro contato, eu não transmitia tanta abertura. Algo em mim não permitia essa conexão imediata.
Então minha filha nasceu. No primeiro ano da pandemia. Sem vacina. Um momento de incertezas e medos. E, entre tantas preocupações, uma nova pergunta se impôs: e se ela se tornasse uma pessoa fechada? E se, por minha forma de ser, eu acabasse privando-a de experiências que pudessem torná-la mais leve, mais acessível ao mundo? Foi nesse momento que comecei a mudar. Passei a descer com ela no carrinho, a apresentar-me mais ativamente às pessoas do condomínio, a trocar palavras com outros pais e mães. Pequenos gestos que se tornaram grandes oportunidades de interação. Conversas que, antes, eu talvez considerasse banais, tornaram-se preciosas. Um espaço de troca genuína.
Sem perceber, algo foi se transformando em mim. Passei a sorrir mais. A cumprimentar primeiro. A me interessar, de fato, pelas histórias alheias. E o mais curioso: tudo isso não me fazia sentir vulnerável ou exposta, mas sim mais conectada. Foi então que compreendi: carisma não é sinônimo de ser extrovertida, falante ou expansiva. Carisma é sobre acolher. É sobre fazer o outro se sentir bem-vindo, se sentir à vontade. É sobre abrir espaço para que a conversa flua sem pressa, sem julgamentos, sem barreiras invisíveis erguidas por medo ou insegurança.
E no mundo profissional? Essa descoberta fez toda a diferença. Como especialista em oratória, sempre soube que uma comunicação eficaz ia além da escolha certa das palavras. Mas só quando passei a experimentar isso de forma autêntica é que compreendi o real impacto. Pequenas mudanças – um olhar mais atento, um sorriso espontâneo, um tom de voz acolhedor – transformaram não só minha imagem, mas a forma como as pessoas se sentem ao meu redor. O que antes parecia frieza ou distanciamento, hoje se traduz em empatia e conexão genuína.
E você? Já viveu algo que mudou sua maneira de se comunicar? Já percebeu como pequenas mudanças podem influenciar a forma como é percebido? Talvez o carisma não esteja em gestos grandiosos, mas nos detalhes cotidianos. Num cumprimento mais caloroso, num interesse sincero pela história do outro, num sorriso despretensioso. Porque, no fim das contas, comunicar-se bem não é apenas falar. É se conectar. É fazer sentir.
Cecília Lima é fonoaudióloga, especialista em Oratória e Comunicação para Líderes. Há 20 anos, dedica-se a guiar líderes a colocarem suas ideias com confiança, clareza e assertividade, conquistando a influência que precisam para crescerem na carreira e na vida. Conheça:@cecilialimaoratoria