A Cruz Vermelha e a Organização Mundial de Saúde (OMS) apelaram nesta terça-feira (18) às partes beligerantes no Sudão para assegurarem o acesso humanitário às pessoas necessitadas.
“Milhares de voluntários estão prontos, aptos e treinados para prestar serviços humanitários. Infelizmente, devido à situação atual, eles não são capazes de se deslocar”, disse o chefe da delegação da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IFRC), Farid Aiyywar, durante uma videoconferência desde Nairobi.
“Temos ambulâncias, temos pessoas que podem prestar primeiros socorros e apoio psicossocial, mas isto só será possível quando os corredores humanitários forem garantidos por todas as partes”, insistiu, sublinhando que “as organizações humanitárias estão muito frustradas” por não poderem fazer o seu trabalho.
O pessoal das Nações Unidas também não pode trabalhar. “Temos cerca de 4.000 funcionários trabalhando no país, [incluindo] 800 funcionários internacionais. Estamos evidentemente preocupados com a sua segurança”, disse a porta-voz da ONU Alessandra Vellucci em Genebra.
Apesar dos apelos da reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 no Japão, da ONU e dos Estados Unidos “para pôr fim imediato à violência”, os combates continuam no Sudão, onde está em curso uma luta de poder entre dois generais. As recentes hostilidades já provocaram cerca de 200 mortos, segundo a ONU.
Os residentes permanecem fechados nas suas casas sem eletricidade ou água corrente e veem as suas reservas alimentares diminuir. “Estamos recebendo chamadas de todos os lados, de pessoas que querem coisas básicas, comida para as suas famílias, reunir as crianças com os seus pais, e, mesmo assim, não nos podemos mudar, não podemos fornecer-lhes serviços básicos como uma garrafa de água ou uma refeição para uma criança”, disse Aiywar. O sistema de saúde está gravemente perturbado e, “se isto continuar, pode entrar em colapso”, advertiu.
“Muitos dos nove hospitais de Cartum que estão recebendo civis feridos estão ficando sem sangue, material para transfusões, soluções intravenosas, equipamento médico e outras necessidades básicas”, disse uma porta-voz da OMS em Genebra, Margaret Harris.
A OMS denunciou também os ataques às infraestruturas de saúde. Três ataques foram até agora registrados pela OMS, “mas sabemos que há muitos mais”, disse Margaret Harris.
“As partes devem assegurar que os cuidados possam ser prestados, o que não é possível se o pessoal, as ambulâncias e os abastecimentos não puderem deslocar-se em segurança”, insistiu.
Os confrontos, que começaram no sábado, entre as forças armadas, lideradas pelo líder de fato do país desde o golpe de Estado de 2021, o general Abdel Fattah al-Burhan, e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF), chefiado pelo general Mohamed Hamdane Daglo, conhecido como “Hemedti”, que orquestrou em conjunto o golpe de 2021, mas que se tornou entretanto inimigo.
Face à tragédia em curso, diplomatas de diferentes países tentaram sem êxito negociar uma trégua, e o Conselho de Segurança da Nações Unidas foi convocado para discutir a crise.
A violência trouxe o espectro da guerra civil, numa altura em que os sudaneses estavam tentando incrementar um governo democrático e civil, após décadas de governo militar.
Sob pressão internacional, Al-Burhan e Dagalo tinham recentemente feito um acordo com partidos políticos e grupos pró-democracia, mas a assinatura foi repetidamente adiada à medida que as tensões aumentavam entre as duas fações em resultado da integração das RSF nas Forças Armadas e da definição da futura cadeia de comando.
Apenas há quatro anos, o Sudão inspirou esperança após uma revolta popular, ajudando a depor o líder autocrático de longa data Omar al-Bashir, mas a agitação desde então, especialmente o golpe de 2021, frustrou o impulso democrático e arruinou a economia.
(Lusa News)