Para o pensador Vitor Leonardo, “nascemos para sofrer, para ter que aguentar o peso do mundo em nossos ombros, e como se não bastasse isso, a cada escolha errada, um grão de areia é posto no deserto acima de nós, no qual nós temos que carregar onde quer que estejamos”.
Pois bem, se o sofrimento é inevitável, cada um de nós deveria buscar uma forma de sobreviver a isso. Esta é a grande magia da vida: exigir de nós uma força, uma determinação e um enfrentamento que não sabíamos que existia até então.
Enfrentar o sofrimento é permitir-se passar por ele e o modo como isso é feito faz toda a diferença.
Tolerar o sofrimento é também superar um incidente emocional sem piorá-lo. Sem se sobrecarregar por situações estressantes, mas descobrir como você pode não se entregar ao desespero e, assim, encontrar uma forma de superar este momento.
Em junho de 2012, completava um ano da minha preparação para fazer o Caminho Francês de Santiago de Compostela (870 km de bicicleta), programado para setembro do mesmo ano. Nos preparativos, uma rotina de atividades na academia e trilhas intensas pela região de Joaquim Egídio (distrito de Campinas).
Sentia-me forte física, mental e emocionalmente. Quando na “segurança” da minha casa, eu caí de uma escada de apenas três degraus e quebrei o punho direito e o calcanhar do pé direito. No braço tive perda óssea e até hoje convivo com uma placa.
Quando ouvi o som de meus ossos quebrando, a primeira coisa que pensei foi: “e a minha viagem?” Faltavam somente dois meses para o embarque.
Fui socorrida e levada ao hospital. Passei por cirurgia por meio das mãos de uma equipe maravilhosa e um ortopedista ímpar. Quando lhe perguntei se conseguiria realizar o Caminho, ele disse que sim, desde que não tivesse trepidação da bike no sentido vertical.
Que boa notícia!!!! Mas, no Caminho havia muitas pedras e buracos, então era trepidação o dia todo. Passei 14 dias pedalando uma média de 60 km por dia à base de anti-inflamatório e analgésico.
Eu só tinha uma direção: seguir em frente orientada pelas setas brancas dos bicigrinos. As setas amarelas são dos peregrinos. E uma certeza de que NADA me desviaria do meu objetivo.
Não foi fácil, mas valeu cada minuto desta vivência. Hoje, os recursos psíquicos que desenvolvi para enfrentar meus desafios, muitos deles tiveram origem nesta “viagem”.
Segundo Carl Gustav Jung, para que o sofrimento seja superado, é preciso suportá-lo. “O sofrimento, muitas vezes, está chamando para um realinhamento do ego com a totalidade do self e uma retomada do processo de individuação.”
Viver dói muitas vezes, mas o que fazemos com esta dor determina nossa qualidade de vida.
Até breve!
Márcia Romão é psicóloga junguiana há 40 anos. Desenvolve consultorias empresariais e atendimento clínico em Campinas e região. Instagram: @marciaromaopsi











