Um jogo de futebol com amigos, um estilhaço no trabalho, uma queda em casa. Situações corriqueiras como essas podem terminar em algo grave: o trauma ocular, lesão que pode ir desde uma batida leve até uma perfuração grave do olho. O problema é mais comum do que se imagina e é hoje a principal causa de cegueira legal — termo usado quando a visão está tão comprometida que impede atividades básicas mesmo com óculos ou lentes — em pessoas com menos de 50 anos, alerta o oftalmologista Pedro Antônio Nogueira Filho, chefe do Pronto-Socorro do H.Olhos, da Vision One.
“O dado é alarmante porque afeta justamente indivíduos em idade produtiva, que dependem da visão para trabalhar e ter qualidade de vida. O impacto é grande não apenas para a pessoa, mas para a família e para a sociedade. Estudos indicam que homens têm nove vezes mais chances de sofrer esse tipo de lesão do que mulheres, principalmente por estarem mais expostos a atividades de risco no trabalho e no lazer”, alerta o oftalmologista.
O trauma ocular pode se manifestar de formas diferentes. Há casos de trauma contuso (batida sem corte) e casos de perfuração, quando há abertura no globo ocular e, às vezes, até saída de conteúdo interno. “Os sinais de gravidade incluem perda súbita de visão, dor intensa e qualquer indício de perda de conteúdo do olho. Nessas situações, cada minuto conta. É fundamental proteger o olho afetado, sem comprimir, e procurar imediatamente um pronto-socorro oftalmológico”, explica.
Um erro comum é tentar resolver o problema em casa. “A automedicação pode agravar a lesão e gerar danos irreversíveis. Usar colírios sem prescrição, por exemplo, é extremamente arriscado. Muitas vezes, o tempo perdido tentando cuidar sozinho é o que define se o paciente ficará com sequelas ou se conseguiremos preservar a visão”, alerta o médico.
No pronto-socorro, a primeira providência é um exame clínico detalhado feito por um oftalmologista. “Só após essa avaliação inicial é possível definir se serão necessários exames complementares e qual será o tratamento adequado. Em alguns casos, o manejo é clínico, mas em outros é preciso cirurgia de urgência”, afirma Nogueira. A cirurgia é indicada principalmente em perfurações ou quando há danos internos, como lesões no cristalino (a lente natural do olho), na retina ou hemorragias dentro do olho.
As consequências podem ser duras. O trauma ocular é uma das principais causas de comprometimento visual no público economicamente ativo. Pode gerar desde limitações parciais até perda total da visão. Mesmo após o tratamento inicial, a reabilitação pode durar meses, exigindo acompanhamento constante com um especialista, detalha o especialista.
A prevenção é o caminho mais seguro e, muitas vezes, o mais simples. “O uso de equipamentos de proteção individual, especialmente óculos de segurança, é a forma mais eficaz de evitar lesões oculares graves. Isso vale para ambientes de trabalho, prática de esportes e até tarefas domésticas que envolvem risco”, reforça.
Dados internacionais reforçam a importância da atenção imediata. Um estudo de 2008 apontou que o trauma ocular representa cerca de 3% de todas as visitas a departamentos de emergência nos Estados Unidos. “A avaliação e o exame rápidos após o acidente são cruciais para evitar mais danos e preservar a capacidade visual. É essa combinação de conhecimento técnico e agilidade que salva a visão do paciente”, finaliza o médico, chefe do Pronto-Socorro do H.Olhos, Hospital de Olhos, da Vision One.











