Há um tempo, passei por uma situação simples, engraçada e que me fez refletir bastante sobre minha atuação nos relacionamentos.
Passei um tempo com minha sobrinha Manu, que na época estava com sete anos. Como sempre, ela foi me acompanhar enquanto me maquiava para sair e se maquiou junto comigo.
Eu estava bastante focada no que eu estava fazendo e não vi que ela pegou meu batom e, além de passar nos lábios, fez um risco na bochecha. Eu olhei e, para não dar ênfase ao que ela tinha feito e ao mesmo tempo ensinar, eu disse:
– Nossa, Manu, batom nas bochechas! Agora aproveita e usa como blush!
O que eu estava querendo dizer? Para ela espalhar com os dedos, pois ficaria clarinho e iria parecer blush.
Como será que uma garotinha de sete anos recebe uma mensagem como essa?
Mesmo eu tendo plena consciência sobre o que é ter uma comunicação clara, cometi uma falha muito comum. Acompanhe como minha sobrinha reagiu à minha fala.
Voltei minha atenção para minha maquiagem e trinta segundos depois, eu noto que minha sobrinha estava fazendo um círculo em cada bochecha com o batom, com muito vigor e alegria, como se estivesse me dizendo: “Que legal, batom também pode ser blush!”
Quando ia dizer “poxa, Manu, o que você está fazendo?”, me dei conta de que ela estava fazendo exatamente o que eu disse para fazer e que eu havia me comunicado com ela como se estivesse falando comigo mesma.
O que será que uma menina de sete anos entende sobre o uso correto do blush?
Essa foi uma situação que resultou na perda de um terço de um batom e muitas gargalhadas e eu te convido a refletir no quanto isso acontece todos os dias em nossas vidas em situações complexas de trabalho e vida pessoal, favorecendo erros, complicações e discórdias sérias.
Muitas vezes, colocamos (sim, me coloco nesse grupo mesmo tendo grande consciência do que é o melhor fazer!) nossas ideias como se estivéssemos falando com o espelho, totalmente focados na nossa forma de ver a situação e ignoramos um dos mais importantes pré-requistos para uma comunicação influente: entender quem escuta, procurar entender como essa pessoa (ou grupo) enxerga o assunto a partir de quem ele é, do que ele sabe, do que acredita e vivenciou sobre aquilo.
Uma das crenças de pessoas que se comunicam bem é: “a responsabilidade por ser compreendido é minha”.
O melhor caminho para conseguirmos clareza em nossa forma de expressar nossas ideias é sair do “nosso mundo” e “entrar no mundo do outro”, nos flexibilizando. Oferecer dados e informações que, muitas vezes, são óbvias do nosso ponto de vista, clarear cenários e contextualizar consequências torna nossa comunicação mais eficaz.
E essa clareza nos levará a resultados mais rápidos, relacionamentos mais saudáveis e, além disso, economia de tempo, energia e, no meu caso, pouparia um bom dinheiro que gastei comprando um batom novo!

Cecília Lima é fonoaudióloga, especialista em Oratória e Comunicação para Líderes. Há 20 anos, dedica-se a guiar líderes a colocarem suas ideias com confiança, clareza e assertividade, conquistando a influência que precisam para crescerem na carreira e na vida. Conheça:@cecilialimaoratoria











