A invenção da célula solar fotovoltaica, tecnologia que converte luz solar diretamente em eletricidade, data de 1954. No entanto, foi apenas em 2022 que o mundo alcançou a instalação de um terawatt(1 trilhão de watts) de energia solar. O segundo terawatt veio dois anos depois, e o terceiro deve ser atingido até o final deste ano.
Esse crescimento impressionante é resultado da aceleração tecnológica e econômica: hoje, o mundo instala cerca de um gigawatt (1 bilhão de watts) de painéis solares a cada quinze horas (o equivalente à capacidade de produção de uma grande usina a carvão). A energia solar é uma das fontes que mais crescem na história da geração elétrica, seguida de perto pela energia eólica, que aproveita o vento gerado pelo aquecimento desigual da Terra, também causado pelo sol.
Em 2023, 96% da nova eletricidade gerada globalmente vieram de fontes renováveis, como solar, eólica e hídrica. Dessas novas adições, 90% foram compostas por energia solar, eólica e uma variedade crescente de baterias, que armazenam a eletricidade gerada e garantem fornecimento, mesmo quando não há sol ou vento.
Esse avanço oferece uma chance real de corrigir parte dos erros do passado. A crise climática, provocada pela queima desenfreada de combustíveis fósseis, já apresenta efeitos concretos e graves. Agora, com o avanço das energias limpas, é possível suavizar os impactos dessa trajetória marcada por décadas de omissão.
Apesar dessas conquistas, os efeitos do aquecimento global continuam se manifestando forma severa. As inundações parecem ter aumentado: o aquecimento das águas do Golfo do México eleva a umidade do ar e intensifica eventos extremos, como chuvas torrenciais e tempestades.
Em território brasileiro, o investimento em energia solar e eólica cresce, mas ainda está aquém do potencial. O País dispõe de vastas áreas ensolaradas e ventosas, ideais para projetos que integrem energia limpa com agricultura sustentável.
O uso de energia solar para irrigação, aliado ao plantio de árvores, pode formar corredores verdes que reduzem o calor, aumentam a umidade e favorecem a produção agrícola. As árvores também liberam compostos naturais, que contribuem para a formação de nuvens e resfriamento local em certas condições.
A China, por sua vez, lidera a revolução energética global, respondendo por mais da metade das instalações de energia renovável e armazenamento no mundo. O país também domina o mercado internacional de painéis solares e baterias, muitos deles exportados para o Brasil. Uma das empresas chinesas, a BYD, inclusive instalou sua fábrica no Techno Park, em Campinas, onde produz placas solares destinadas ao mercado nacional.
Em 2024, quase metade dos veículos vendidos na China foram elétricos ou híbridos. Isso confirma uma transformação estrutural: grandes economias estão adotando soluções sustentáveis em escala. Com a queda nos preços e a maior oferta global, países com laços comerciais fortes com a China têm hoje a chance de avançar rapidamente na transição energética.
Mas essa oportunidade precisa ser democratizada. As fazendas, os prédios e as residências brasileiras podem, e devem, gerar sua própria energia, reduzindo a conta de luz e contribuindo diretamente para o combate ao aquecimento global. A tecnologia está disponível e os custos estão em queda. Os benefícios são múltiplos: ambientais, econômicos e sociais.
O verdadeiro desafio ainda é enorme. Precisamos de políticas públicas mais ousadas, informação acessível e participação social. O Brasil tem tudo para liderar em energia limpa, mas para transformar esse potencial em realidade, é preciso visão, compromisso e ação coletiva.
Luis Norberto Pascoal é empresário e presidente da Fundação Educar











