Desde criança, sempre me encantei muito por museus, casarões antigos e antiguidades. Sempre gostei de conhecer suas histórias e raízes. Não é à toa que, durante muito tempo, quis ser museóloga para conhecer mais sobre esses temas e ter mais contato com esse mundo tão rico em detalhes e histórias.
Atualmente, apesar de ter escolhido uma profissão diferente, continuo muito interessada nesse assunto.
Com o passar do tempo, aprendi mais sobre a importância de conhecermos nossas origens e raízes.
Além disso, algo que ocupa meus pensamentos quando caminho pelo centro da cidade e observo os numerosos casarões antigos, especialmente ao redor da praça mais movimentada, é que muitas pessoas que transitam diariamente por lá nem fazem ideia da história por trás desses lugares.
Pelotas, minha cidade natal, no Rio Grande do Sul, teve como sua maior fonte de riqueza e destaque a produção e exportação do charque (carne de sol) bovino no século XIX, se tornando grande potência econômica no cenário nacional da época. No entanto, o enorme lucro dos grandes charqueadores se deu graças a mão de obra escravista, que foi base para alavancar a cidade em vários aspectos.
O período de produção do charque era de novembro a abril, nos outros meses do ano, os escravos trabalhavam nas olarias, produzindo telhas e tijolos. Também eram utilizados nas obras públicas, para abrir estradas, derrubar matos, construir pontes, etc.
No centro da praça mais famosa da cidade, atualmente existe um lindo chafariz francês com a Fonte das Nereidas, cheio de incríveis detalhes trabalhados nas esculturas. Para se ter uma ideia, o chafariz substituiu o pelourinho da cidade, onde aconteciam os castigos e a venda de escravos.
Muitas vezes quem circula por lá não tem noção da riqueza histórica que ambienta os arredores.
Apesar da utilidade de abastecimento do chafariz, além da intenção de mudar a imagem da cidade de um local escravagista para um lugar de riqueza e extravagancia, na época em que foi inaugurado, a substituição do pelourinho pelo chafariz, de certa forma, foi um apagamento histórico das memórias da escravidão.
Tendo em vista que tal feito é prejudicial para todo um povo, pois é extremamente necessário recordar as atrocidades que aconteceram para que não voltem a acontecer nunca mais. Um exemplo disso é a forca que existia na cidade, na mesma época do pelourinho, mas as memórias e registros dela são quase inexistentes.
Apesar da beleza dos prédios e monumentos que nos dias atuais ainda fazem parte da cidade, é necessário sempre enxergar além e manter viva a memória da história que antecede tudo isso e que foi base pra o que vivemos hoje. Não podemos nunca esquecer das nossas origens e raízes.
Tábita Luiza de Ávila Dutra, 18 anos, mora em Pelotas, Rio Grande do Sul. Está se preparando para ingressar na faculdade de medicina. Ela fez Academia Educar on-line e hoje atua como monitora e acredita que o protagonismo começa olhando para o outro.