O ano de 2021 deverá ser lembrado com um dos mais sangrentos da história de Campinas. Dados da Secretaria de Saúde obtidos pelo Hora Campinas que levam em conta o mês da morte e não o mês do registro, mostram que nos três primeiros meses deste ano e, em 21 dias de abril, a cidade registrou 1.365 mortes por Covid-19 – o equivalente a 90% de todos os óbitos notificados ao longo do ano passado.
A cidade registrou 1.365 mortes até 21 de abril, contra 1.509 de todo o ano passado
O mês de março é o mais aterrador da pandemia até aqui: foram 610 mortes – incluindo a de um homem de 68 anos, que morreu no dia 22 de marco, mas que foi registrada apenas no boletim divulgado ontem. Isso dá uma média de 19 óbitos por dia.
O mês de abril – que ainda tem mais oito dias pela frente – já soma 340, incluindo os 38 óbitos registrados de ontem (22) e deve se transformar, muito provavelmente, no segundo mês com maior número de mortos em toda a pandemia. Em janeiro foram 188 óbitos e em fevereiro outros 227, totalizando os 1.365 deste ano até agora.
Nos 12 meses de 2020, Campinas registrou 1.509 mortes. Os meses de junho, julho e agosto foram os mais difíceis. Em junho foram 289 óbitos. Esse número subiu para 408 no mês seguinte – o mais letal de todo o ano passado – mas voltou a cair em agosto, que registrou 287 mortes.
Especialistas
O infectologista da PUC-Campinas, André Giglio Bueno diz que o principal fator que explica esse resultado é o relaxamento em relação as medidas de isolamento. Mas não só isso. Para ele, a variante P1 – que resultou num vírus mais transmissível – também pode ter se tornado mais letal.
“O principal fator que explica esse quadro é o relaxamento nas medidas de prevenção”
“O principal fator que explica esse aumento expressivo do número de óbitos que a gente vem tendo desde o início do ano, é com certeza, o relaxamento das medidas de prevenção por boa parte da população”, diz o infectologista.
“O fato de a gente estar em pandemia já há mais de um ano é um fato que dificulta a adesão das pessoas. As pessoas vão ficando, de fato, cansadas com essa situação e acabam relaxando, participando de aglomerações”, diz ele.
“Também existe a estratégia de comunicação no Brasil como um todo, que tem sido muito ruim, visto que a mensagem que o governo federal passa, maior parte das vezes, é o contrário do que deve ser feito – estimulando as aglomerações, questionando a utilização de máscaras. Tudo isso fala muito contra o que, de fato, deve ser feito”, reclama.
“Agora, é fato que houve uma mudança de padrão na gravidade da doença. Então a gente passou a observar mais pessoas jovens, sem comorbidades, precisando e internação, evoluindo para casos graves; evoluindo para óbitos, numa forma desproporcional em relação ao número de casos”, adverte o professor da PUC. “Mesmo levando em conta o aumento grande no número de casos, tem havido um aumento desproporcional no número de óbitos”, afirma.
“Mesmo levando em conta o aumento grande no número de casos, tem havido um aumento desproporcional no número de óbitos”
“Isso (número de mortes) pode ser explicado, sim, por uma possível maior virulência dessa cepa. É possível que ela tenha de fato um risco maior de provocar doença grave. A gente já teve alguns trabalhos publicados; algumas análises iniciais nesse sentido, com dados do Rio Grande do Sul e de outros lugares do Brasil, mas a impressão é que seja uma variante, além de mais transmissível, que tenha potencial de provocar doença grave, sim”, conclui o infectologista.
A epidemiologista Raquel Silveira Bello Stuchi, professora da Faculdade de Medicina da Unicampm é um pouco mais cautelosa em relação a isso. “O que nós sabemos, e isso já está documentado, é que a cepa se transmite muito mais e que as pessoas ignoraram o isolamento”, avalia ela.
Para a especialista, a população que se se expõe mais é aquela abaixo dos 50 anos, por motivos diferentes. “Ou indo trabalhar no transporte público que continua uma horror neste um ano, ou que se expõe mais nos encontros, nas festas , nos bares e restaurantes”, avalia.