Um dos maiores gênios da história do futebol, bicampeão mundial com a Seleção Brasileira, sendo protagonista na dobradinha de títulos conquistados em 1958 e 1962, o eterno ídolo Garrincha completaria 90 anos neste ano de 2023, se ainda estivesse vivo.
Nascido no dia 28 de outubro de 1933, em Magé, na Baixada Fluminense, Manoel Francisco dos Santos morreu de forma precoce, aos 49 anos, no dia 20 de janeiro de 1983, no Rio de Janeiro, vítima de cirrose hepática, fruto do alcoolismo. A morte de Mané Garrincha completa exatamente 40 anos nesta sexta-feira (20).
Lendário ponta-direita, conhecido como “anjo das pernas tortas”, em alusão à distrofia física que possuía, Garrincha jogou a maior parte da carreira no Botafogo, clube onde conquistou vários títulos e se tornou grande ídolo, mas também teve passagens, embora bem mais curtas, pelos dois clubes de maior torcida do Brasil, Corinthians e Flamengo, além de outros times de menor expressão.
Apesar de não constar nos registros oficiais por se tratar de um jogo-treino, Garrincha chegou a atuar uma vez na cidade de Campinas nos tempos de atleta profissional, e ainda por cima vestindo a camisa da Seleção Brasileira, para deixar a ocasião ainda mais especial.
Embora nunca tenha enfrentado Guarani nem Ponte Preta de forma oficial durante a sua trajetória como jogador profissional, entre os anos 50 e 70, Garrincha integra a extensa lista de craques históricos do futebol que pisaram – e desfilaram – em gramados campineiros.
O memorável episódio aconteceu às vésperas da Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. Na ocasião, em reta final de preparação para o Mundial, a Seleção Brasileira disputou uma partida de caráter amistoso no estádio Brinco de Ouro da Princesa, diante de cerca de 15 mil torcedores, e com renda recorde para a época, contra um combinado campineiro formado por atletas de Guarani e Ponte Preta. Mediado pelo importante árbitro carioca Armando Marques, o duelo foi realizado no dia 1º de junho de 1966 e terminou, acredite se quiser, empatado em 2 a 2.
Além de Garrincha, à época com 32 anos, o histórico duelo em território campineiro também contou com a presença em campo de ninguém menos do que Pelé, o Rei do Futebol, então com 25 anos e autor do segundo gol do Brasil naquela partida. O primeiro tento da seleção canarinho, que abriu o placar, foi anotado pelo grande meia Gérson, o “Canhotinha de Ouro”.
“A Seleção Brasileira jogou de camisa vermelha e calção azul, mas a foto só mostra o agasalho verde e amarelo”, explica o historiador bugrino Fernando Pereira.
Por incrível que pareça, Garrincha nunca perdeu atuando ao lado de Pelé na Seleção Brasileira. Ao todo, entre 1958 e 1966, a dupla disputou 40 partidas, com 36 vitórias e quatro empates. Juntos, marcaram 55 gols: Pelé, 44, e Garrincha, 11. O retrospecto não contabiliza o jogo-treino em Campinas, assim como outros tantos realizados na época.
Os gols do time campineiro, que mostrou muita disposição e buscou o empate duas vezes, foram marcados por dois jogadores bugrinos: os atacantes Nelsinho e Peri, que decretou o placar de igualdade nos minutos finais.
O misto campineiro entrou em campo com uma escalação mesclada bastante equilibrada entre os dois rivais do futebol da cidade: seis titulares pontepretanos e quatro bugrinos. No total, o jogo contou com a participação de oito atletas da Macaca (Egídio, Beto, Geraldo Scotto, Joaquinzinho, Walter, Rodrigues, Geraldo José e Jonas) e sete do Bugre (Dimas, Deleu, Américo, Nelsinho, Carlinhos, Joãozinho e Peri).
“Encontrando no Combinado Campineiro, formado por jogadores do Guarani e da Ponte Preta, um sparring disposto a jogar e não simplesmente a treinar e, por isso, decidido não só a vender caro a derrota como também a tentar, se possível, a vitória, a Seleção Brasileira, no confronto desta noite, não foi além do empate”, descreveu o jornal Folha de S. Paulo, em sua edição de quinta-feira, dia 2 de junho de 1966.
“O quadro brasileiro não repetiu a atuação que teve no jogo-treino com o Juventus, e só se admitirmos a possibilidade de haver encarado o encontro de hoje mais como treino do que como jogo é que poderemos encontrar uma explicação para a atuação apenas regular do conjunto dirigido por Vicente Feola. O combinado jogou com maior empenho e levou a peleja muito mais a sério, mas, mesmo assim, esperava-se melhor atuação por parte do selecionado”, observou a reportagem da Folha.
“Aquela foi a única vez que Garrincha jogou no Brinco como profissional. Depois de encerrar a carreira, ele ainda disputou um jogo beneficente ao qual assisti”, relata o historiador bugrino Fernando Pereira da Silva, testemunha viva da segunda aparição de Garrincha no Brinco de Ouro, em meados dos anos 70, quando o craque disputava partidas ocasionais de exibição pelo time de várzea Milionários, após abandonar o futebol profissional.
Apenas quatro dias antes do empate no Brinco de Ouro, os reservas da Seleção Brasileira haviam sapecado goleada por 5 a 1 sobre o Guarani, no dia 28 de maio de 1966, no Estádio Municipal, em Serra Negra, local que serviu de palco para treinamentos preparatórios do Brasil para as duas Copas disputadas nos anos 60.
No dia 4 de maio de 1962, apenas um mês antes da conquista do bicampeonato mundial, Garrincha participou de um jogo-treino contra o Guarani no então recém-inaugurado estádio de Serra Negra. Numa partida com três tempos de 35 minutos, o craque das pernas tortas atuou apenas na segunda etapa, onde houve vitória do escrete nacional por 3 a 0, com dois gols de Pelé e um de Vavá.
Um dos principais destaques da Copa de 1958, na Suécia, mesmo passando em branco, e quatro anos depois eleito o melhor jogador do Mundial de 1962, no Chile, com direito a quatro gols na competição, dois nas quartas de final contra a Inglaterra e outros dois na semifinal diante dos anfitriões, Garrincha não conseguiu repetir o mesmo desempenho na Copa de 1966, onde marcou apenas um gol, na vitória por 2 a 0 sobre a Bulgária, logo na estreia.
Com a camisa amarelinha, que vestiu entre 1955 e 1966, Garrincha marcou 17 gols em 60 partidas, com 52 vitórias, sete empates e apenas uma única derrota: 3 a 1 para a Hungria, no segundo jogo da Copa do Mundo de 1966. O Brasil acabaria eliminado de forma precoce na primeira fase, algo que nunca mais aconteceu desde então. Garrincha se despediu da Seleção Brasileira em 1966, logo após o Mundial, e deixou oficialmente os gramados em 1972.
Confira abaixo a ficha técnica da partida entre Seleção Brasileira e Combinado Campineiro, realizada em junho de 1966, às vésperas da Copa do Mundo da Inglaterra:
Combinado Campineiro (2): Dimas; Deleu, Egídio, Beto e Geraldo Scotto; Joaquinzinho e Américo; Walter (Geraldo José), Nelsinho (Joãozinho), Rodrigues (Peri) e Carlinhos (Jonas). Técnico: desconhecido.
Seleção Brasileira (2): Gilmar; Fidelis, Djalma Dias (Bellini), Leônidas (Altair) e Paulo Henrique; Dino (Zito) e Gérson; Garrincha (Jairzinho), Servílio, Pelé e Amarildo. Técnico: Vicente Feola.
Gols: Gérson, aos 6′, e Nelsinho, aos 37′ do 1º tempo; Pelé, aos 37′, e Peri, aos 45′ do 2º tempo.
Data: 01/06/1966 (quarta-feira).
Local: Estádio Brinco de Ouro da Princesa, Campinas (SP).
Público: 14.447 pagantes (menores não pagavam ingresso e três mil foram distribuídos).
Renda: Cr$ 45.741.000,00 (recorde absoluto do estádio).
Árbitro: Armando Marques.