Uma lenda polêmica da Polícia Civil do estado, que prendeu criminosos famosos e se envolveu em denúncias e CPI. Assim era Antônio Lázaro Constâncio, o Lazinho, que faleceu neste domingo (22), em Campinas, aos 81 anos. O corpo será velado e sepultado às 16h, no Cemitério das Aleias, em Campinas.
Lazinho capturou assaltantes igualmente lendários, como Luiz Carlos do Valle e Idelmax Rita. Também ajudou na solução do sequestro de Wellington Camargo, irmão da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano.
Ainda passou 30 dias detido, em 1999, a pedido da CPI do Narcotráfico, acusado de envolvimento com o crime organizado. Como a proposta da CPI foi negada, foi liberado ao término da prisão temporária e reassumiu seu trabalho na Polícia Civil.
O delegado José Henrique Ventura, diretor do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior (Deinter 2), descreve Lazinho como um investigador “lendário e folclórico” da Polícia Civil de Campinas e do estado.
“Ele era conhecido no estado todo e até fora, pela atuação dinâmica, de campo realmente. É com muito pesar que a gente toma conhecimento do falecimento do Lazinho, porque ele foi um profissional que sempre levou o nome da Polícia Civil para os quatro cantos”, afirmou Ventura.
Adagoberto Batista, ex-repórter policial em Campinas, conheceu Lazinho no início dos anos 1990, quando começou a cobrir Polícia pelo jornal Diário do Povo. “A morte do Lazinho, na minha concepção, encerra uma Era da Polícia Civil não só de Campinas, mas do Estado de São Paulo. Um policial que, efetivamente, investigava, fuçava, resolvia casos. Ora com ações controversas, mas em qual profissão não temos atitudes controversas por vezes? Muita paz no coração dos familiares do Lazinho”, afirmou o jornalista.
“Aprendi muito com ele, por vezes em entrevistas, por vezes tomando um café, fosse a passar informações ou então a me instigar a ser mais ainda detalhado no meu olhar. Apelidou-me de pequinês de madame, por eu agarrar no pé dele quando queria uma informação, tipo aquele cachorro pequeno que cola nos pés das pessoas para chamar a atenção, persistente”, recorda.
Carreira
Admirado por uns, questionado por outros, Lazinho trabalhou na polícia por mais de 50 anos. Durante as investigações, usava estratégias inusitadas, como se disfarçar de gari atrás de informações. A carreira longeva passou ainda pelo serviço no período da repressão do regime militar, o que, dizia ele, tinha sido um trabalho “obrigado”. Foi investigador da Polícia Federal no Deops/SP, a partir de 1969, e na década de 1980 passou pelo Deic, símbolos máximos da ditadura no estado.
Entre policiais, propaga-se a história de que Lazinho construiu um arquivo pessoal com fichas e fotos de pelo menos 40 mil suspeitos. Certa vez, ao efetuar uma prisão, o repórter indagou o investigador sobre o motivo de ter saído do estado por uma captura. Lazinho teria respondido: “bandido não tem dono”.
Em 2011, Lazinho entrou com uma liminar contra sua aposentadoria compulsória da Polícia Civil, por atingir 70 anos de idade. Queria continuar trabalhando até os 75. O pedido foi negado. O investigador deixou suas funções na polícia e muita história para contar.
*Matéria atualizada as 11h, com horário do enterro