Em 2016 Raissa Gabaldi, então com 28 anos, saiu de Manaus, no Amazonas, rumo a Campinas em busca de tratamento para o seu filho, Adriel, de 3 anos, que havia sido diagnosticado com leucemia e estava com 93% da medula comprometida. “Eu fazia exames periódicos e em janeiro estava tudo certo. Em março, Adriel começou a ter sintomas como febre, dores nas pernas, hematomas pelo corpo, foi tudo muito rápido”, lembra.
Eles ficaram seis meses tratando na capital amazonense, mas o caso dele não apresentava melhoras. “As plaquetas estavam sempre baixas, atrasava a quimioterapia e ele vivia internado com algumas complicações”, conta. Foi durante a conversa com algumas mães que estavam passando pelo mesmo desafio que Raissa ficou sabendo que o Centro Infantil Boldrini era uma referência no tratamento de câncer infantil, não só no Brasil, mas na América Latina. “Eu percebi que Adriel teria mais chances de cura no Boldrini e fomos em busca de uma transferência”, lembra.
Raissa conta que o filho passou por uma avaliação criteriosa e que, desde a primeira quimioterapia feita em Campinas, não teve mais internações nem intercorrências.
“Nós dois viemos morar na Casa Ronald McDonald Campinas. Ficamos dois anos lá, e ter esse espaço de acolhimento foi fundamental durante o processo de tratamento. Desde o primeiro momento que eu pisei no hospital Boldrini, tive a esperança de cura e a certeza de que meu filho estava recebendo os melhores tratamentos possíveis”, diz.
Mas o Boldrini vai muito além de um hospital. “Vale destacar o olhar amoroso e cuidadoso e a humanidade presentes nos médicos e em toda a equipe hospitalar, é inesquecível. Sem contar que existem espaços como a brinquedoteca, onde a criança se diverte, e isso ajuda a trazer bem-estar, não só para a criança como para a família. Existe também uma equipe de pedagogas para o acompanhamento escolar. Até mesmo a forma em que se tira o sangue das crianças para um exame é diferenciada. A presença dos voluntários também é algo muito relevante e fundamental”, conta.
Passados seis anos, Raissa e Adriel seguem morando em Campinas, mas agora eles contam com a presença do marido de Raissa, que veio acompanhar a família. “Alugamos uma casa aqui e refizemos nossa vida para estarmos perto do hospital, para todos os acompanhamentos necessários”, diz. Em dezembro, Adriel recebeu a notícia de que agora só terá que voltar uma vez por ano para refazer os exames, e neste caminhar segue cada dia melhor, sapeca e cheio de sorrisos para o mundo.
Este é um dos milhares de exemplos que habitam a história dos 45 anos do Boldrini, completados no último dia 25 de janeiro. E neste período já passaram pelo hospital 9.502 pacientes diagnosticados com diferentes tipos de câncer, sendo mais de 6.536 curados (dados referentes ao período de 1978 a 2021).
Prestes a completar 80 anos em março, a idealizadora e médica Silvia Brandalise segue incansável em sua luta no combate ao câncer da criança e do adolescente. “Eu ainda sofro ao saber que uma criança está com câncer e não sossego enquanto não tivermos 100% de cura”, conta.
O fato inegável é que o Boldrini mudou e segue mudando a história do câncer infantil no Brasil. E a Dra. Silvia gosta de falar que considera o Boldrini como seu quinto filho. Ela destaca algumas novidades que devem contribuir muito com os avanços de tratamentos, prevenção e cura de câncer.
“O prédio da radioterapia está trazendo o projeto de montar no Brasil a protonterapia, um dos meios mais avançados do mundo para o tratamento de câncer e que não existe ainda na América Latina. E estamos com um projeto em andamento, que é do Núcleo da Saúde da Criança e tem como o objetivo lutar para que as crianças brasileiras vivam num ambiente saudável, respirem um ar saudável e tenham alimento e água de qualidade”, explica a médica.
Dra. Silvia ressalta ainda que “viver não é estar no mundo, é ser do mundo. É participar da melhoria do coletivo, é modificar realidades, juntar forças para melhorar para todos. Ter a visão do futuro que sempre já está presente no dia de hoje. Essa é uma tarefa que nunca vamos abrir mão”.
Kátia Camargo é jornalista e guarda um poema que ganhou da Dra. Silvia durante uma de suas entrevistas. A médica contou que o ganhou da família de um ex-paciente que veio visitá-la, quando ele já não estava mais por aqui: