A ideia de escrever esse artigo surgiu para fazer uma crítica àquelas pessoas que apenas dizem: “Não deixe a peteca cair, levanta essa cabeça, engole o choro e continue!”, como se o momento em que certa pessoa passa de desânimo, tristeza, decepção, não merecessem ser sofridos.. Como se tais momentos tivessem de ser apagados da vida das pessoas, ou melhor: que tais momentos devessem ser “pulados”, encobertos, fazendo assim com que a vida seja ‘um mar de rosas’…
Sobre essas pessoas, não ousarei comentar nada, mas à você leitor, leitora, sugiro que não deixe qualquer um guiar sua vida, assuma as rédeas dela, permita-se sim viver dias tristes, pois o fundo do poço ensina lições que o topo de uma montanha jamais ensinará. Quer mais clichês? Mar calmo não faz bom marinheiro. Quer mais um famosíssimo? Os humilhados serão exaltados! O artigo de hoje também está embasado no Janeiro Branco, mês dedicado aos cuidados com a saúde emocional
Acho que agora você se sente mais confortável e pode se permitir chorar em paz. Neste capítulo tratei à vocês a crítica ao chamado Utilitarismo, feita por um filósofo chamado Aldous Huxley, famoso por ter escrito uma romance intitulado ‘Admirável mundo novo’. A corrente filosófica denominada Utilitarismo foi criada no século XVIII pelos filósofos britânicos Jeremy Bentham e John Stuart Mill.
Esse modelo é caracterizado por ser um sistema filosófico moral e ético onde uma ação útil é denominada como aquela que visa maior prazer e menos dor. Fazendo referência ao Estoicismo na Grécia Antiga. Tal corrente é muito bem vista e utilizada até os dias de hoje no mundo capitalista no qual vivemos.
Segundo essa linha de pensamento você precisa comprar; você precisa viajar, você precisa postar, você precisa parecer estar feliz, você precisar aparentar ser perfeito (a) e acreditar nisso. Mas isso não se sustenta por muito tempo, é como se vivemos num mundo onde devêssemos buscar sempre o prazer e eliminar todo e qualquer tipo de dor, sofrimento…
Fazendo-nos escravos do chamado “parecer ser”, ou o “acreditar ser o que não se é”; fazendo-nos correr única e exclusivamente atrás de obter aquilo que o dinheiro compra ao invés de buscarmos aquilo que o dinheiro não compra. Cito Huxley: “As flores do campo e as paisagens têm um grande defeito; são gratuitas. O amor à natureza não estimula a atividade de nenhuma fábrica”.
Huxley é um tanto quanto realista/pessimista em sua linha de raciocínio. Segundo ele o Utilitarismo nos faz correr excessivamente atrás de uma felicidade que talvez seja uma utopia, ou que até possa existir, mas não exista 24 horas por dia, 7 dias por semana. É como se a crítica dele em relação aos que buscam eliminar a dor sejam tal como pessoas despidas do uso do intelecto, infantilizadas. Você talvez possa não concordar com Huxley, mas não pode negar que a grande massa social habita ‘nesse mundo utilitarista’.
Acerca desta nossa reflexão você pôde perceber que a minha crítica não é só minha, mas de tantos outros filósofos ao longo da história da humanidade. Há ainda quem ‘pegue mais pesado’, intitulando-nos como seres angustiados. Pensadores como Pascal, Kierkegaard, Sartre, que dizem basicamente o seguinte: buscamos tapar o Sol com a peneira! Buscamos dar sentido (inutilmente) à uma vida que não tem sentido algum, vida essa por si só extremamente angustiante, que gera pessoas ansiosas e a desenvolverem doenças psicossomáticas consumindo e enriquecendo indústrias farmacêuticas que com seus fármacos apenas remedeiam os sintomas dos pacientes.
Dr. Freud, o pai fundador da psicanálise, explora e muito a responsabilidade de buscar uma ajuda terapêutica para que com ela (mais especificamente a psicanálise, área na qual atuo profissionalmente) o paciente possa acessar a origem de traumas que hoje são efeitos, que na verdade geram efeitos emocionais na vida dela.
Melhor do que parecer ser, é ser, mesmo que imperfeito e aceitar isso como um fato. Parafraseando o pensador francês René Descartes, estamos na era digital na qual a máxima vigente é a: “Posto, logo existo”.
E no final de tudo isso, segundo essa linha de pensadores: nós somos a angústia! É um banho de água fria, eu sei. Porém não se deixe assustar com tais ideias, o que adoraria que você refletisse é justamente a respeito da crítica em relação ao excesso de busca de felicidade, em parecer ou querer ser ‘de ferro’ em detrimento de momentos não felizes.
Ao vivenciar profundamente momentos de não felicidade, traga consigo aprendizados, nunca é demais olhar para si, buscar a si, investir em si mesmo enxergando suas mazelas existenciais. Termino com Huxley: “Há um único recanto do universo que podemos ter certeza de melhorar; o nosso próprio eu”.
Thiago Pontes Thiago Pontes é Filósofo, Psicanalista e Neurolinguísta (PNL) – Instagram @institutopontes_oficial











