O dia 29 de maio de 2025 entra para a história da pecuária brasileira como a data em que o Brasil foi oficialmente reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) como zona livre de febre aftosa sem vacinação. A decisão foi anunciada durante a 92ª Sessão Geral da Assembleia Mundial de Delegados da OMSA, em Paris, e representa um avanço estratégico para a agropecuária nacional.
Este reconhecimento, fruto de décadas de trabalho técnico, controle sanitário rigoroso e envolvimento de profissionais da Medicina Veterinária em todas as regiões do país, projeta o Brasil em outro patamar no cenário global de exportação de carnes.
A seguir, detalho 10 pontos fundamentais para entender a importância e os desdobramentos dessa conquista.
1. Reconhecimento internacional pela OMSA
A OMSA é a entidade máxima em saúde animal no mundo, responsável por estabelecer diretrizes sanitárias que orientam o comércio de produtos de origem animal entre os países. O reconhecimento do Brasil como zona livre de febre aftosa sem vacinação confirma que o país atingiu um nível elevado de biossegurança e vigilância sanitária em seus rebanhos, dispensando o uso da vacina para controlar a doença.
2. Avanço na credibilidade do agronegócio brasileiro
Essa conquista fortalece a imagem do Brasil como potência agropecuária moderna, segura e confiável, demonstrando ao mundo a competência técnica dos nossos produtores, veterinários e órgãos de fiscalização. A credibilidade sanitária é um diferencial competitivo e estratégico no mercado internacional.
3. Abertura de novos mercados
Países como Japão, Coreia do Sul, México, Canadá e União Europeia mantinham restrições à importação de carne bovina proveniente de zonas que ainda utilizavam vacinação contra a febre aftosa. Com o novo status, o Brasil abre portas para mercados mais exigentes e de maior valor agregado, o que deve impulsionar significativamente as exportações.
4. Impacto direto na economia brasileira
O setor de carnes é um dos principais motores da economia do Brasil. A projeção é de que o reconhecimento internacional como zona livre sem vacinação gere bilhões de reais em novos negócios, com aumento nas exportações, maior competitividade dos produtos brasileiros e fortalecimento da cadeia produtiva da carne.
5. Histórico de controle e erradicação da aftosa
A febre aftosa é uma doença viral altamente contagiosa que afeta animais de casco fendido, como bovinos, bubalinos, suínos e caprinos. Desde a década de 60, o Brasil vem implementando políticas públicas de vacinação em massa, rastreabilidade e vigilância ativa, o que permitiu controlar a doença de forma eficaz e segura até chegar ao atual estágio de erradicação.
6. Valorização da Medicina Veterinária
A atuação da Medicina Veterinária foi fundamental em cada fase deste processo. Médicos-veterinários atuaram na prevenção, vacinação, diagnóstico, educação sanitária, vigilância epidemiológica e na implementação dos protocolos exigidos pela OMSA. O reconhecimento do país reforça a importância do profissional veterinário na proteção da saúde animal, humana e ambiental.
7. Fortalecimento da saúde pública e do conceito de “Uma Só Saúde”
Ao eliminar a necessidade de vacinação, o Brasil demonstra maturidade no conceito de One Health (Uma Só Saúde), que integra saúde animal, humana e ambiental. O controle da febre aftosa não é apenas uma vitória econômica, mas também uma ação preventiva para proteger a saúde pública e evitar a disseminação de doenças com potencial zoonótico.
8. Novos desafios: vigilância permanente e fronteiras
Apesar da conquista, o trabalho está longe de terminar. O tráfico clandestino de gado, especialmente pelas fronteiras com países vizinhos que ainda não têm o mesmo status sanitário, representa um risco real de reintrodução da doença. Reforçar a vigilância, aumentar a fiscalização e investir em inteligência sanitária serão fundamentais para manter o status conquistado.
9. Oportunidades para inovação e tecnologia no campo
Com o novo cenário, aumenta a demanda por soluções tecnológicas que garantam rastreabilidade, monitoramento em tempo real, integração de dados sanitários e sistemas de resposta rápida a emergências veterinárias. Isso abre espaço para startups, universidades, centros de pesquisa e agritechs atuarem em conjunto com produtores e veterinários.
10. Compromisso contínuo com a qualidade e biossegurança
Agora, mais do que nunca, o país precisa manter o compromisso com a sanidade animal e com a produção responsável. Isso exige políticas públicas consistentes, investimentos em capacitação profissional, campanhas educativas e fiscalização rigorosa em todos os elos da cadeia produtiva.
O reconhecimento do Brasil como zona livre de febre aftosa sem vacinação é um marco técnico, sanitário e político. É o resultado de uma jornada que envolveu ciência, comprometimento e trabalho integrado entre produtores rurais, profissionais da saúde animal, instituições públicas e privadas.
Mais do que comemorar, é hora de assumir a responsabilidade de manter esse status com excelência. A medicina veterinária brasileira está pronta para esse desafio — assim como a missão da Faculdade de Medicina Veterinária Qualittas, de seguir na construção de um agronegócio mais seguro, moderno e respeitado globalmente.
Francis Flosi e médico-veterinário e diretor da Faculdade Qualittas











