Era para ser aqui, mas no começo parecia que não era. Fiz o primeiro vestibular na PUC-Campinas e não passei. Fiquei em um hotel no centro, que depois descobri ser próximo à Treze de Maio. O calçadão me chamou a atenção e algo me dizia que eu voltaria.
Passei no segundo vestibular, em outra PUC, a do Rio, época de muitos achados, da Gávea ao Leblon. Mas a vida muda de uma hora para outra e acabei concluindo o curso em Piracicaba. Foi uma das melhores coisas que me aconteceram. A Unimep estava em grande efervescência, com um reitor iluminado, o Elias Boaventura, que já dizia com o nome a pessoa que era. Muitos novos aprendizados, o início do jornalismo socioambiental e a essencial luta pelos direitos humanos entre eles, em função da batalha daquela cidade pelo seu maior patrimônio, o rio Piracicaba, e da atuação de pessoas que gostam de pessoas.
E a vida continuava dando voltas, mudança para São Paulo, para Brasília (no período mágico da Constituinte), para Santos. E de novo a mãozinha do destino, que eu chamo de Deus, e agora sim, Campinas.
Que, eu aprenderia, Campinas do Matto Grosso, sob as bençãos de Nossa Senhora da Conceição. Já com alguma bagagem, mas ainda com muito caminho a percorrer, e como andei!
No jornalismo diário em redação, um mergulho no coração da metrópole, com todas as suas camadas, as suas contradições, as suas belezas peculiares. Acho que conheci cada pedacinho da cidade e foi uma emoção atrás da outra, com a alegria do menino com deficiência na rua Moscou, com o ipê branco florescendo no meio do canavial, com o nascimento do Reviva o Rio Atibaia, com os macacos-prego passando na nossa frente na primeira vez na mata de Santa Genebra, com os tantos campineiros, nativos ou não, que lutaram pela dignidade nos tempos bravos da ditadura.
Nessas andanças, a maior descoberta, as pessoas, a gente de Campinas. E foram tantas e continuam sendo. Não dá para citar porque não caberia neste espaço tanto agradecimento, mas com elas conheci novos mundos, os mundos que existem em Campinas.
A cidade que brilha quando é corajosa, quando ousa, a cidade que tem vocação solidária como diz o título de um de meus livros, e já foram tantos, quase todos escritos e lançados aqui. Devem se orgulhar os moradores de uma cidade que tem uma Sanasa, um Boldrini, uma Sobrapar, uma Fundação Educar, uma Casa da Criança Paralítica e tantas outras instituições que abrem os braços para acolher o outro, não importando a sua etnia, o seu gênero, a sua classe social, pois afinal todos têm os mesmos direitos, proclama essa cidade que defende princípios civilizatórios.
Uma cidade que tem uma Fundação FEAC, modelo único de ação social no país, e com a qual tenho orgulho de ter contribuído (inclusive com o lançamento do seu prêmio de jornalismo), pode dizer que é iluminada. Uma cidade que tem tantas universidades de ponta, tantos centros de ciência e tecnologia, pode continuar sonhando com um futuro mais sustentável.
Claro, essa mesma cidade continua com suas injustiças estruturais, aliás como o nosso querido Brasil como um todo. Um passado com muita tristeza e muito horror no período da escravidão, com muita dor na febre amarela e, há pouco, na cruel pandemia, mas que tem grande capacidade de reinvenção porque resiste. Pela ação de sua gente, de seu povo.
No meio desse povo, quantos amigos e amigas. Através deles e delas conheci a Campinas que inspira, que dá vontade de continuar lutando. O que essa cidade já conquistou é uma credencial para imaginar os seus desafios, e são tantos, sendo superados.
Então, um brinde à Campinas que brilha e à amizade, riqueza inestimável, antídoto contra os tempos atuais de mercantilização da vida, de negacionismos e retrocessos até há pouco tempo inimagináveis. Parabéns por mais um aniversário!

José Pedro Martins é jornalista, escritor e consultor de comunicação. Com premiações nacionais e internacionais, é um dos profissionais especializados em meio ambiente mais prestigiados do País. E-mail: josepmartins21@gmail.com











