No último dia 15 de agosto terminou em Genebra, na Suíça, mais uma e novamente fracassada tentativa de um acordo mundial para a redução da produção e descarte de plástico no meio ambiente. Há dois anos e meio as Nações Unidas tentam a costura de um acordo, uma primeira rodada fracassou (em Busan, Coreia do Sul, em dezembro de 2024) e agora a segunda foi pelo mesmo caminho.
Não houve acordo sobre os pontos mais sensíveis, como metas para redução de produção e descarte de plásticos, eliminação progressiva de produtos nocivos e financiamentos justos e equitativos, de modo que os países mais pobres possam fazer transições mais sustentáveis. Ao final, foram suspensas as negociações, que serão retomadas em data e local ainda a serem acertados.
O ponto central das negociações em Genebra foi que os interesses dos grandes produtores de plástico mais uma vez falaram mais alto. Mais uma vez, a presença de lobistas do plástico foi maior do que a de muitas delegações de países participantes.
De acordo com um estudo do Centro de Direito Ambiental Internacional (CIEL, na sigla em inglês), os lobistas da indústria química e dos combustíveis fósseis superaram em número as delegações diplomáticas combinadas de todos os 27 países da União Europeia e da UE (233).
“As principais empresas de combustíveis fósseis e produtos químicos e seus lobistas estão particularmente bem representados, com a Dow e o Conselho Americano de Química trazendo sete lobistas cada, enquanto a ExxonMobil trouxe seis”, informou o CIEL.
Ainda segundo o CIEL, 19 lobistas de combustíveis fósseis e produtos químicos garantiram lugares nas delegações nacionais do Egito (6), Cazaquistão (4), China (3), Irã (3), Chile (2) e República Dominicana (1). “Os lobistas da indústria química e de combustíveis fósseis superam a Coalizão de Cientistas para um Tratado de Plástico Eficaz (60) em quase quatro para um, e o Fórum Internacional dos Povos Indígenas sobre Plásticos (36) em quase sete para um”, completou o Centro de Direito Ambiental Internacional.
É importante lembrar que os plásticos derivam de combustíveis fósseis, cujos produtores continuam investindo alto em sua fabricação. O tema dos plásticos, portanto, está diretamente relacionado ao das mudanças climáticas. São grandes interesses políticos e econômicos envolvidos.
De acordo com o Centro de Direito Ambiental Internacional (CIEL, na sigla em inglês), altos investimentos no gás de xisto nos Estados Unidos, por exemplo, está alimentando a infraestrutura para a indústria do plástico.
Conforme o CIEL, “em menos de cinco anos, esses investimentos podem aumentar a capacidade global de produção de plástico em um terço, levando as empresas a produzir volumes cada vez maiores de plástico nos próximos anos. Se esse plástico for produzido, as empresas encontrarão mercados para consumi-lo. A produção impulsionará a demanda. Essa onda de investimentos aumenta os riscos de poluição para as comunidades da linha de frente em toda a cadeia de suprimentos de plástico e prejudica diretamente os esforços de cidades, países e da comunidade global para combater a crescente crise do plástico”. Centro de Direito Ambiental Internacional, a indústria de produção de gás de xisto, nos Estados Unidos, “está alimentando uma construção maciça de infraestrutura de plástico nos EUA e além”.
Em menos de cinco anos, segundo o CIEL, “esses investimentos podem aumentar a capacidade global de produção de plástico em um terço, levando as empresas a produzir volumes cada vez maiores de plástico nos próximos anos. Se esse plástico for produzido, as empresas encontrarão mercados para consumi-lo. A produção impulsionará a demanda. Essa onda de investimentos aumenta os riscos de poluição para as comunidades da linha de frente em toda a cadeia de suprimentos de plástico e prejudica diretamente os esforços de cidades, países e da comunidade global para combater a crescente crise do plástico”.
Ocorre que a questão dos plásticos é de grande interesse para a saúde pública.
Muitos aditivos químicos tóxicos estão presentes em alguns processos de fabricação. A poluição por microplásticos, do mesmo modo, é cada vez mais inquietante. Já foi detectada a presença de microplásticos em muitos órgãos humanos. E sem falar em sua presença na cadeia alimentar nos oceanos.
Os nanoplásticos estão em todo lugar. Uma coalizão internacional de cientistas criou a Pesquisa Global de Plástico Estético, envolvendo várias expedições entre 2024-25. “Os microplásticos foram encontrados em praticamente todos os lugares que os pesquisadores pensaram em procurar – de 30.000 pés no fundo do mar, no fundo da Fossa das Marianas, a quase 30.000 pés nas encostas do Everest e em todos os lugares intermediários. Não apenas flutuando nos oceanos, mas dentro de nosso suprimento de alimentos e no ar que respiramos”, concluiu o estudo.
O tema é muito sério. Mais uma vez se adiou uma decisão fundamental para o destino da humanidade e do planeta. Ainda haverá tempo?
José Pedro Martins é jornalista, escritor e consultor de comunicação. Com premiações nacionais e internacionais, é um dos profissionais especializados em meio ambiente mais prestigiados do País. E-mail: josepmartins21@gmail.com











