Nesse dia 17 de outubro de 2025, véspera do “Dia do Médico” comemorado dia 18 de outubro, teremos uma solenidade de re-formatura da oitava turma de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, turma esta que iniciou seu curso em 1970 e se formou em 1975. Esta é a minha turma! 50 anos de formados! Quanto tempo se possou e não nos demos conta! Quanta honra e quanta alegria nessa data. Rever queridos colegas que não encontramos há tempos, alguns deles há muito tempo, outros, felizmente nem tanto.
Homenagear novamente nossos professores responsáveis por nossa formação médica e humana. Homenagear aqueles que nos deixaram e não poderão compartilhar conosco a alegria deste momento único. Eu e alguns outros colegas ficamos na Unicamp como médicos residentes e alguns de nós, posteriormente, professores. Eu sou docente desta nossa Universidade há 46 anos. Fiz toda minha carreira ligada à Universidade e devo muito do sucesso desta minha longa jornada à nossa Universidade. Muita coisa mudou.
Como já escrevi em um texto anterior, nem nossa Faculdade nem nossa cidade são semelhantes àquele tempo. Em 1970, Campinas tinha 350 mil habitantes e praticamente a cidade terminava na Via Anhanguera. Hoje ela tem 1.2 milhão de habitantes sendo que a maioria da população mora, trabalha e descansa nas regiões noroeste, sudoeste e sul-sul de nossa cidade. Impressionante o crescimento de nossa cidade e da Universidade em tão pouco tempo.
Nosso curso básico na Unicamp foi feito em dois galpões no campus universitário. Em Barão Geraldo, não havia quase nada. Carinhosamente, nós chamávamos de “Barrão” Geraldo (isto mesmo, barrão – muito barro). Quantas vezes precisávamos empurrar ônibus na Avenida 1 ou ficávamos sem energia elétrica devido às chuvas no meio das aulas. Nosso ciclo clínico foi feito, em grande parte, no prédio da Santa Casa de Campinas no Centro da cidade/Cambuí, prédio secular e que funciona até hoje em seus dois hospitais: Santa Casa e Hospital Irmãos Penteado. A casa histórica, totalmente reformada e onde hoje funciona o Bar e Restaurante Giovanetti, era o nosso prédio de ambulatórios. Tínhamos um ótimo Centro Acadêmico, apesar do período político bastante conturbado do país, em uma linda casa de estilo normando e que não existe mais e onde hoje há um Hotel, em frente à Praça Carlos Gomes. Todas 5ª feiras tínhamos em nosso CAAAL, o concorrido “Sambão”.
Minha residência médica (1976-1979) também foi feita na Santa Casa. Em 1979, fui contratado com outros colegas de turma como docentes da Unicamp, logo após as nossas residências, onde estou até hoje, agora, muito próximo a aposentadoria compulsória (expulsória), rsrs. Devemos lembrar que a FCM Unicamp teve sua aula inaugural proferida em 20/05/1963 no Teatro Municipal “Carlos Gomes”, que, infelizmente, não existe mais.
A FCM foi precursora da própria Universidade Estadual de Campinas, que iniciou as suas atividades em 1966. Todos os Departamentos da época, tinham suas instalações e atividades dentro do edifício secular da Santa Casa. Ali, fizemos grandes amigos e colegas que convivemos até hoje. Os professores e alunos tinham uma convivência muito estreita. Além das atividades acadêmicas (aulas, visitas, discussões…), muitas horas de recreação e convivência também aconteciam.
Como já disse anteriormente, Campinas era uma outra cidade, pequena (não mais do que 300-350 mil habitantes) e muitas de nossas atividades recreativas ocorriam no Centro da Cidade. Muitas e muitas vezes saiamos para comer pastel no “Bar do Voga”; comer sanduiches no “Ponto Chic”, “Giovanetti”, “Facca”; tomar chopp no “Bavaria”, comer pizza no Rosário ou na Torre de Pisa (Castelo), etc., etc. Muitos destes locais já não existem mais. Outros, mantém suas atividades até hoje. Jogávamos futebol, pebolim, “ping-pong” etc. com os professores e tínhamos uma forte participação na “Intermed”.
Eu fui Secretário do Diretório Acadêmico “Adolfo Lutz” (na época não podíamos chamar de Centro Acadêmico) e por dois anos Presidente da “Associação Atlética Acadêmica Adolfo Lutz”. Produzíamos o nosso jornal “O Patológico” em mimeógrafo (os menos experientes nem sabem o que é isto) com os riscos inerentes à época. O baile do calouro era um enorme sucesso com 2-3 mil pessoas, na maioria das vezes no ginásio de esportes do Tênis Clube de Campinas. Era um acontecimento único na cidade.
Tínhamos a semana do calouro quando tivemos a oportunidade de trazer (pasmem) Milton Nascimento e Som Imaginário, os Irmãos Villas Boas para um ciclo de debates e etc. etc. Nossa Faculdade era, certamente, outra. Não se pode dizer melhor ou pior, mas era outra. Eram as condições da época e com os enormes desafios de construir um futuro vitorioso e brilhante. Nossas enfermarias eram enormes com 33 leitos coletivos (não haviam leitos individuais), tanto masculina como feminina, e compartilhávamos, no mesmo salão, os leitos com as outras disciplinas do Departamento de Clínica Médica. As condições sanitárias eram precárias. Hoje, certamente, a vigilância sanitária não permitiria.
Quando vejo agora nosso complexo de saúde e incluindo o nosso Hemocentro, realmente temos um enorme orgulho de quanto fizemos e caminhamos ao longo destas décadas. Não havia o SUS (criado pela constituição de 1988) e muitos dos pacientes não tinham acesso à saúde e à previdência social. A Santa Casa e a FCM eram as únicas “portas” para os seus cuidados de saúde.
É muito importante relembrarmos grandes mestres e colegas que já não estão entre nós. Pela FCM e pela nossa oitava turma passaram grandes personalidades da medicina, da ciência e da educação em saúde. Seria impossível lembrar e dar o justo tributo a todos eles. Fica aqui a modesta lembrança e nosso agradecimento pela oportunidade da convivência e do aprendizado de vida e profissional. Nós todos passaremos, mas é fundamental marcarmos estas datas com o carinho e a importância que têm. Viva a Oitava turma de Medicina da FCM Unicamp. Vida longa e felicidades a todos nossos queridos colegas médicos formados nesta turma.
Carmino Antonio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020. Secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo em 2022 e atual Presidente do Conselho de Curadores da Fundação Butantan. Diretor científico da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH). Pesquisador responsável pelo CEPID-CancerThera apoiado pela FAPESP.











