Se você me acompanha há algum tempo, já sabe que eu não nasci me comunicando bem. Na verdade, demorei a encontrar a minha voz. Durante muito tempo, falar em público era um território de insegurança.
Eu era introspectiva, vivia mais dentro do pensamento do que nas palavras. E, por mais que entendesse as pessoas com facilidade, transformar o que eu sentia e pensava em discurso parecia sempre uma travessia longa demais.
A vida, porém, tem um jeito curioso de nos empurrar para o que precisamos aprender. Foi assim que descobri que a comunicação é um espelho. Ela reflete o quanto você se conhece, o quanto se aceita e o quanto se permite ser visto.
Foi diante desse espelho que encontrei um dos meus maiores desafios: gravar vídeos. Lembro perfeitamente do dia dessa foto, há dez anos. Eu e o profissional que me acompanhava passamos quatro horas tentando gravar um vídeo de três minutos e quarenta segundos. E o resultado não ficou bom. Não por falta de técnica, mas por excesso de medo. Eu não sabia como me relacionar com a câmera. Sempre fui boa com pessoas, mas diante de uma lente fria e silenciosa, perdia a naturalidade. A voz saía trêmula, o corpo travava e o rosto denunciava tudo o que eu tentava esconder. A insegurança era nítida, e assistir à gravação me fazia querer desistir.
Mas eu não parei ali. Continuei gravando, avaliando, pedindo feedback, ajustando, tentando de novo. Busquei ajuda e segui. Mesmo quando o resultado parecia distante do que eu queria transmitir. Mesmo quando seria mais fácil desistir e dizer que aquilo “não era pra mim”.
Cada nova tentativa foi uma pequena vitória sobre o medo. Com o tempo, percebi que o processo era menos sobre falar diante da câmera e mais sobre aprender a lidar comigo mesma, com as minhas vulnerabilidades e com a coragem de me expor.
Hoje, gosto de assistir aos meus vídeos. Não porque estejam perfeitos, mas porque cada um deles guarda a lembrança de uma escolha: a de não desistir. A verdade é que todo líder pode se comunicar bem, independentemente de ser extrovertido ou introvertido. Comunicação não é um dom reservado a poucos, é uma habilidade construída com paciência, prática e autoconhecimento. O que diferencia quem chega lá de quem fica pelo caminho é simples: a coragem de começar e a sabedoria de entender que um resultado ruim não é o fim, é apenas um dado que mostra por onde seguir.
Quando olho para trás, vejo que diante dos desafios da comunicação existem sempre dois caminhos. O primeiro é o de quem paralisa e se convence de que não nasceu pra isso. O segundo é o de quem entende que falar bem é um ato de coragem, de amor-próprio e de construção diária.
Falar bem não foi sorte. Foi escolha, persistência e um compromisso comigo mesma de não deixar o medo definir até onde eu posso ir. E é exatamente esse compromisso que transforma uma voz insegura em uma voz presente, verdadeira e inesquecível.
Cecília Lima é fonoaudióloga, especialista em Oratória e Comunicação para Líderes. Há 20 anos, dedica-se a guiar líderes a colocarem suas ideias com confiança, clareza e assertividade, conquistando a influência que precisam para crescerem na carreira e na vida. Conheça:@cecilialimaoratoria







