O Dia Mundial dos Animais é comemorado nesta segunda-feira (4), com o objetivo de destacar a importância da preservação da fauna e o compromisso necessário com o meio-ambiente. A data foi instituída oficialmente em 8 de maio de 1931, durante o Congresso Internacional de Proteção Animal, em Florença, na Itália, atendendo a proposta do escritor e ativista ambiental alemão Heinrich Zimmermann, que havia idealizado a celebração em 1925, em Berlim, na Alemanha.
O Dia dos Animais, celebrado em 4 de outubro, coincide com a data da festa católica de São Francisco de Assis, padroeiro da ecologia, conhecido como o santo protetor dos animais e da natureza.
No fim dos anos 70, houve a publicação da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, criada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Proclamado no dia 27 de janeiro de 1978, em assembleia realizada em Bruxelas, na Bélgica, o documento garante que todos os animais devem ser protegidos e respeitados pelo ser humano, com parâmetros jurídicos estabelecidos para todos os países membros da Organização das Nações Unidas (ONU).
Na legislação brasileira, a Lei Federal 9.605/98, conhecida como Lei dos Crimes Ambientais, é responsável por orientar as ações judiciais e aplicar penas para quem cometer maus-tratos, abusos e violência contra animais silvestres e domésticos.
Resgate de animais em Campinas
Especialista em fauna silvestre e exótica, o veterinário Roberto Stevenson resgata e presta socorro a animais selvagens há quase duas décadas em Campinas e região. “Eu trabalho de forma voluntária há 16 anos com todos os tipos de animais que aparecem atropelados, queimados, eletrocutados e atacados por pessoas ignorantes ou mesmo predadores, que muitas vezes matam a mãe e deixam um monte de filhotes órfãos. São várias as situações que envolvem o socorro para esses animais que não tem um espaço que os recolha aqui na região. O lugar mais próximo é a Mata Ciliar, em Jundiaí, mas lá já está entupido de bicho”, explica Stevenson, que luta pela criação de um Centro de Recuperação de Animais Silvestres (C.R.A.S) em Campinas. “Essa construção é uma promessa milenar da Prefeitura”, cobra o veterinário.
“Quando o animal sobrevive, muitas vezes está polifraturado. Dependendo do caso, eu consigo cuidar em casa ou na clínica, às vezes fica até com a própria pessoa que encontrou. Mas se for um animal de grande porte, realmente tem que ser levado para um zoo ou algum outro lugar que tenha estrutura”, explica Roberto Stevenson, que estima receber entre três e cinco chamadas por dia na região de Campinas. “Agora é época de reprodução, então aumenta ainda mais a quantidade”, ressalta.
No último dia 12 de maio, Stevenson foi acionado para socorrer uma onça parda macho adolescente que havia sido atropelada por um caminhão na Rodovia Professor Zeferino Vaz (SP-332), na altura do Km 118. No entanto, quando o veterinário chegou ao local, o felino já estava morto.
“Eu faço monitoramento há cerca de cinco anos e realmente aquele é um ponto problemático, na região do corredor entre a Fazenda Rio das Pedras e a Mata Santa Genebra, com uma média de 33 animais acidentados por mês. É como se fosse um por dia. Há alguns anos, quando morreu a última jaguatirica que havia ali, eu me rebelei e ameacei atear fogo na pista, mas não deixaram. Tive então a primeira reunião com a concessionária Rota das Bandeiras, mas não fizeram nada como prometido e os animais continuam morrendo. Como envolve gasto, embora não seja muito perto do que arrecadam, e não existe retorno financeiro, falta boa vontade”, aponta Stevenson.
O caso da morte da onça revoltou ativistas ambientais e da causa animal, provocando a criação do Movimento Popular em Defesa de Passagem de Fauna, com o objetivo de lutar pela instalação de estruturas que permitam a circulação de animais silvestres entre áreas verdes sem riscos de atropelamento e acidentes na pista.
“Mais passagens de fauna aliviariam a vida dos animais, diminuiriam bastante o número de ocorrências e me desafogariam também. Querendo ou não, a concessionária é responsável por proteger quem usufrui da rodovia. Se acontece algum acidente, eles têm que pagar, mas nem sempre são acionados. Se um motorista se assusta com uma onça que pulou na frente do carro, o veículo pode capotar e a família inteira morrer”, alerta Roberto Stevenson.
“Como sou morador de Barão Geraldo, socorro muitos animais nessa região, mas tem milhares de outros pontos com atropelamentos constantes de animais silvestres em Campinas, desde mata e beirada de rodovia até centro urbano”, alerta o veterinário.
Nos dias 4 de julho e 14 de agosto, integrantes do coletivo em defesa da construção de passagens de fauna, incluindo Roberto Stevenson, realizaram marchas e manifestações no ponto exato do acidente fatal que vitimou a onça na Rodovia Zeferino Vaz. Curiosamente, a data do segundo protesto coincidiu com a instalação de uma ponte verde na Estrada da Rhodia, em Barão Geraldo. Em setembro, outras duas estruturas foram erguidas na Rodovia José Bonifácio Coutinho Nogueira (SP-81), que liga os distritos de Sousas e Joaquim Egídio.
“Por enquanto, só fizeram passagens de fauna para animais de pequeno porte, mamíferos arborícolas, como macacos, gambás e ouriços. Eu luto há anos e nunca tinham feito nada, então já é um avanço, mas ainda precisa muito mais do que isso. Com cada vez mais expansão imobiliária, esses animais não tem por onde passar e acabam morrendo aos montes”, diz Roberto Stevenson. “O único túnel que existe fica na Avenida Mackenzie, em Sousas, mas mesmo assim morrem alguns animais que precisam de outros tipos de passagem de fauna”, pondera o veterinário.
“Com esse cenário de áreas de mata pegando fogo, o animal não tem opção: ou morre queimado ou atravessa a pista e é atropelado. Como quase não resta mais mata, o animal migra para a cidade e acaba sofrendo acidente. Ou então não se adapta e volta para a mata, correndo novamente risco de ser atropelado. Estou até desanimando porque não tem mais o que fazer. Desse jeito, só teremos animais empalhados no museu para as próximas gerações”, prenuncia Stevenson, em tom cético.
“Como daqui a pouco só vai sobrar concreto, temos que plantar muitas árvores frutíferas porque assim pelo menos servirão de abrigos e alimentos para os animais. Além disso, vamos poder ter sombra, água e comida orgânica de graça”, conscientiza Roberto Stevenson.
Concessionária contesta
Em contraposição aos dados informados pelo veterinário Roberto Stevenson, a Concessionária Rota das Bandeiras esclarece que a média mensal de acidentes envolvendo animais silvestres na Rodovia Professor Zeferino Vaz (SP-332) corresponde a três, entre os Kms 114 e 148, e não a 33, somente no Km 118, como afirmou Stevenson.
“Desde maio, o veterinário insiste na informação errônea de que, em média, 33 animais silvestres são atropelados por mês na região da Mata Santa Genebra, em Campinas. Na realidade, em um trecho de 34 km da via, entre os km 114 e 148, que abrange os municípios de Campinas, Paulínia e Cosmópolis, a Concessionária registra uma média de três ocorrências desta natureza por mês. Os números corretos, inclusive, foram apresentados em reunião realizada pela Concessionária. Embora afirme que todos os dias há acidentes, o exemplo citado pelo veterinário é sempre do atropelamento de uma onça, registrado em maio. Evidente que, se o número divulgado tivesse algum embasamento na realidade, outros exemplos do gênero poderiam ser apresentados”, pontuou a concessionária, em nota enviada por meio de sua assessoria de imprensa.
“A Concessionária reitera que a implantação de uma passagem de fauna na região está prevista no cronograma de obras da Concessionária e faz parte da obra de implantação de vias marginais na rodovia, com início previsto para o primeiro semestre de 2022, prazo condicionado à emissão da Licença de Instalação pela Cetesb. O projeto contempla passagens seca e úmida para a fauna silvestre, assim como a implantação de estrutura para direcionamento dos animais”, acrescentou a Rota das Bandeiras.