O voo do brasileiro Alberto Santos Dumont, em uma distância de 60 metros com o 14-Bis, no Campo de Bagatelle, em Paris, marcou historicamente aquele 23 de outubro de 1906 e consagrou ainda mais o inventor. O aparelho subiu 2 metros de altura e foi o bastante para a humanidade olhar para cima e para o futuro de forma diferente.
O feito inédito que completa 115 anos neste sábado (23), porém, é “apenas” a parte mais famosa das conquistas, segundo apontam os pesquisadores da vida e das obras daquele mineiro que ficou conhecido como o Pai da Aviação.
A postura de Santos Dumont não era apenas a de um inventor, mas a de um divulgador científico, explicam os pesquisadores. “Ele foi um divulgador honesto.”
Campinas
E parte dessa genialidade passou por Campinas, quando nos idos dos anos de 1880 ele estudou no Colégio Culto à Ciência, que acabara de ser fundado. A escola foi criada por proprietários de terra e representantes da elite à época, interessados em oferecer uma educação de qualidade aos seus filhos. O Culto à Ciência nasceu sob os ideais do positivismo e isso atraiu a família do pequeno Alberto.
Dos dez aos 12 anos, aproximadamente, morou em Campinas e estudou no Culto à Ciência, tornando ainda mais famosa a escola, que até hoje é lembrada por grandes nomes da arte, literatura e outros segmentos sociais que passaram por seus bancos.
Pesquisadores avaliam que a passagem por Campinas foi essencial nos planos ambiciosos do pioneiro da aviação, já que desde pequeno sonhava em criar um aparelho que permitisse ao homem voar, mantendo controle sobre o curso da “geringonça”.
Ele mudara-se para a França na década anterior, final do século 19, após a doença do pai, que adiantou a herança aos filhos.. Entre 1901 e 1906, Santos Dumont passou a entender o que era o voo do avião. “O 14-Bis ele fez em pouquíssimo tempo, pouco mais de um mês. Em setembro, por exemplo, ele experimenta e faz vários testes com o aparelho.”
Em 23 de outubro de 1906, ele, após quatro tentativas, consegue voar os 60 metros. Assim ele mostra para todos os aviadores da época que era possível voar. Uma revolução. A vitória significou o Prêmio Archdeacon. Bastaria voar 25 metros. Santos Dumont fez um percurso de mais que o dobro.
Demoiselle, a primeira de uma série
Depois do voo, outros inventores entenderam quais eram os problemas. Em 1907, Santos Dumont apresenta o Demoiselle (invenção número 20), um ultraleve. “No ano seguinte, Santos Dumont publica em uma revista popular o plano detalhado do Demoiselle para quem quisesse construir. Esse modelo passa a ser o primeiro produzido em série na aviação”, explica Lins de Barros. O modelo foi vendido para um pioneiro da aviação na França, Roland Garros.
Irmãos Wright
Nessa época, também, surge uma polêmica com dois norte-americanos, os irmãos Wright (Wilbur e Orville), que alegam terem sido os pioneiros do voo. Os pesquisadores explicam que os aviadores não têm registros de voos, com decolagem, dirigibilidade e pouso antes de 1906 sem uso de catapultas (que impulsionavam os aparelhos para o ar).
Em 1908, Santos Dumont, acometido por esclerose, abandonou o voo. O registro é de que ele se suicidou em 1932, em um hotel no Guarujá (SP).
O biógrafo do aviador, Fernando Jorge, lamenta que o final da vida do genial brasileiro tenha sido de martírio diante da doença e da depressão. “Ele era um homem tímido e que revelava que não queria casar porque não queria deixar a esposa viúva. De toda forma, o que sempre me impressionou na personalidade dele foi a combinação impressionante da tenacidade, da coragem e da perseverança. Foi um gênio da humanidade.”
(Agência Brasil, com Hora Campinas)