Há pouco menos de um ano, após ter encerrado meu período de oito anos à frente da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas e de retomar plena e exclusivamente minhas atividades acadêmicas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), recebi um honroso e desafiante convite da editoria do recém-criado jornal virtual Hora Campinas para escrever uma coluna semanal, fundamentalmente sobre as mais diversas experiências que vivi como médico, professor de medicina, pesquisador e gestor de saúde. Denominei esta coluna como “Letra de Médico” pois entendi que o mais importante seria transmitir meus conhecimentos, experiências e opiniões, principalmente, dentro do campo da saúde pública ou especializada. Quero dizer, não é fácil! Trata-se de um tremendo desafio discorrer, discutir, opinar, desenvolver ideias sobre os mais diversos temas ainda mais com esta periodicidade.
Além disto, não poderia deixar de lado o contexto desafiador do enfrentamento da pandemia do novo coronavírus (SarsCov2) e a grave doença associada que foi denominada pela OMS como Covid-19 bem como todos os aspectos diretos e indiretos ligados a esta grave crise sanitária. Em adição, seria muito importante discutir todas as dificuldades que os sistemas de saúde, sejam públicos ou privados, teriam dentro deste cenário. Certamente, teríamos dois sistemas de saúde convivendo e por um tempo indeterminado: o que sempre houve, já muito desafiador e o sistema ligado à Covid-19.
Meu primeiro movimento foi fazer um elenco de temas que pudessem ter interesse e/ou importância no campo da saúde pública e onde eu pudesse ainda contribuir ao conhecimento e ao debate destes vários temas.
Minhas experiências anteriores como “escritor” estavam ligadas, em sua grande maioria, a escrever e corrigir artigos científicos, portanto, com a formatação e apresentação exigida pela comunidade científica. Busquei abrir um “leque” de assuntos pelos quais percorri em minha carreira de modo a transferir ao leitor um pouco do que vivi ao longo desta minha longa jornada como profissional de saúde e acadêmico de medicina.
Procurei ainda, além de temas primordialmente assistenciais, incluir temas de interesse educacional e mesmo científico tentando contextualizar tudo isto nas “ciências da vida”, talvez a maior e mais complexa área do conhecimento neste século 21. Sempre acreditei que estamos vivendo o século da biologia e do meio ambiente. Os desafios aos mais de sete bilhões de seres humanos que hoje habitam nosso planeta são crescentes. Como faremos para prover todos os meios de subsistência a todos os seres humanos? Teremos água para todos? Teremos alimentos para todos? Teremos trabalho para todos? Viveremos de epidemias em epidemias?
Nesse ano de 2021, escrevi ainda meu primeiro livro não técnico e não científico, com o apoio técnico e de coleta de depoimentos do jornalista José Pedro Soares Martins, onde pude relatar um pouco destas minhas experiências nos enfrentamentos das pandemias ♦. Esta foi outra experiência nova e que, confesso, gostei bastante de ter feito e publicado e que me estimulou a fazer novos relatos editoriais no futuro.
Escrevendo este livro, pude recuperar muitos dados históricos de meus antepassados e rever caríssimos amigos de infância, colegas das escolas públicas primária e secundária que frequentei e colegas e grandes amigos de profissão que há muito não encontrava bem como aqueles com quem ainda convivo diuturnamente ou frequentemente.
Alguns dos nossos textos do Hora Campinas foram replicados em outros órgãos de divulgação e serviram como textos para debates, reflexões e informação sobre vários temas na saúde.
Nunca tive ou terei a presunção de ser o “dono da verdade” ou “detentor das soluções”, mas sim tentar contribuir para o bom debate, honesto, propositivo e institucional, e promoção de nosso compromisso com a sociedade do aperfeiçoamento de nosso trabalho e do bem-estar de nossos concidadãos. Procurei ainda, sempre que possível, dar um caráter geral às discussões de modo que, apesar de interessar sempre a nossa cidade e/ou região, os relatos pudessem ser estendidos a outros níveis como o estadual e nacional.
Creio que é nossa obrigação enquanto professores de medicina, particularmente, quando atingimos o topo da carreira (professor titular), é levar à sociedade informações e projetos que possam modificar e melhorar as nossas vidas projetando um futuro de uma sociedade mais justa e saudável. Certamente, é o que a sociedade espera de nós.
Enfim, praticamente um ano se passou. Espero ter atendido, ainda que parcialmente, as expectativas da editoria do jornal, mas, principalmente, dos leitores para quem escrevemos e tentamos levar a boa e necessária informação.
A comunicação se transformou em um enorme desafio de nossos tempos. Como enfrentar as notícias falsas e maliciosas que podem comprometer o bom entendimento dos vários temas e problemas da sociedade bem como das possíveis soluções?
É nossa obrigação e sempre, se confrontar à má informação e trazer, sempre que necessário, o justo, o correto, o técnico, o ético e, principalmente em nossos tempos, o que tem suporte científico. Devemos lembrar, sempre, que o conhecimento evolui e está sempre em constante modificação. Existem estimativas de que, pelo menos, 20% dos conceitos são, de algum modo, modificados ou substituídos a cada ano. Devemos estar abertos às evoluções e mudanças que o conhecimento nos oferece. Não seria inteligente se não fosse assim. Vamos tentar manter no futuro estas contribuições com absoluta honestidade e isenção. Vou continuar compartilhando alguns textos com colegas que tenham conhecimento específico maior do que o meu e que possam agregar dados e informações relevantes. E, a todos vocês leitores, grato pelo apoio e parceria.
♦ Carmino Antonio de Souza: “Minha Vida na Saúde Pública: Os Desafios das Epidemias”. São Paulo – Editora dos Editores – 2021-2022, ISBN 978-65-86098-55-6, páginas 1-224.
Carmino Antonio de Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020