Oi, tudo bem? Qual o seu nome?” O fluxo de uma caminhada pelo calçadão da 13 de Maio, em Campinas, frequentemente é alterado por abordagens como a de Andreza Gabrieli, de 18 anos. Ela é vendedora de uma ótica e busca pela sobrevivência. Em um cenário no qual milhares de pessoas circulam diariamente, Andreza faz parte de um grupo que está atento aos movimentos de quem passa para não deixar escapar o sustento de cada dia.
Os vendedores do Centro de Campinas, há cerca de cinco anos, segundo cálculos do Augusto Sobrinho, gerente do restaurante DonDorê, na Regente Feijó, saíram de vez de seus estabelecimentos para abordarem os clientes nas ruas.
E nesse corpo a corpo, que se verifica principalmente na 13 de Maio, vence a concorrência quem tem a melhor estratégia de convencimento. Mas não é fácil. O medo da violência por parte das pessoas e a correria do dia a dia são alguns dos obstáculos para superar.
“Eu vou me desviando deles, não quero perturbação”, diz o aposentado Sérgio Vigor, exemplificando a atitude da maioria das pessoas que passa pela 13. “Eles têm que trabalhar, mas às vezes dá medo também.”
E paciência para tentar “fisgar” o cliente não é virtude de todos os vendedores. “Você não vai entrar para fazer exame de vista? Não se pode deixar para amanhã o que se pode fazer hoje”, resmunga um dos vendedores de ótica, impaciente, diante da negativa de um consumidor.
Na luta contra a crise, a grande estratégia e desafio é não perder a cabeça e colocar a educação e o respeito acima de tudo. É a dica de Joel Jesus, que trabalha como vendedor há 16 anos e fica em um ponto estratégico da 13 de Maio, em frente a Ótica Invictus.
“Muitos desrespeitam os clientes, mexem com as meninas, esses não sabem trabalhar. Primeiro, não podemos tomar a frente da pessoa na abordagem, temos que acompanhá-la, respeitosamente”, ensina.
Agindo assim, ele conta que no último mês conseguiu fechar 54 vendas, uma média de quase duas por dia. Além do salário fixo, ele ganha a comissão por vendas, assim como grande parte dos funcionários que ficam em contato direto com os consumidores no calçadão.
Já a vendedora Yasmim exibe com orgulho a medalha de segundo lugar em vendas que conquistou no último mês, do restaurante Segredo Caseiro, na Rua Costa Aguiar.
“Captei 300 clientes para o restaurante em julho. Pensa bem, é um real por cliente”, conta.
No DonDorê, do total das pessoas que entram diariamente no restaurante, cerca de 70% são consumidores abordados na rua, contabiliza o gerente Augusto Sobrinho.
No entanto, a caminhada na 13, como na vida, não é fácil. O consumidor, na maioria das vezes, se sente incomodado e o vendedor, por sua vez, se frustra quase sempre. Mas fica um alento em algumas ocasiões. “Pelo menos, às vezes, dá pra fazer uma breve amizade”, resume Andreza Gabrieli.