Mais uma vez, vou sair um pouco de meu tema central que é a Saúde para escrever sobre algo magnífico que é a formação das crianças e cientistas do futuro. No final de junho estive com minha família em um importante e inusitado evento no Instituto Butantan (IB) em São Paulo.
Temos falado, escrito e exaltado o trabalho do Instituto Butantan pelo seu papel fundamental no enfrentamento da pandemia do SarsCov2 tanto pela produção da primeira vacina utilizada por mais de 50 milhões de brasileiros, a CoronaVac, bem como na criação e gestão de uma extraordinária rede de laboratórios para diagnóstico e monitoramento epidemiológico da pandemia. Mas, o trabalho do IB, todos sabemos, vai muito além disto.
Neste evento, foi “devolvido” aos cidadãos de São Paulo e do país, o “Parque da Ciência”, um extraordinário complexo educacional e recreativo. Utilizando o próprio conteúdo do folder por eles fornecido e para não cometer qualquer erro na sua descrição, vou descrever o que vi e sugerir fortemente que o nosso leitor visite o parque com a família e, principalmente, com as crianças, e veja esta maravilha.
Sabemos que as crianças são curiosas e a ciência nada mais é do que o desvendar as curiosidades e perguntas através dos métodos científicos. Assim, nesta visita, podemos estar criando pesquisadores do futuro.
O Parque da Ciência do IB está inserido em uma área verde de 725 mil m2 no coração de São Paulo, dentro do complexo do IB e do campus universitário da Universidade de São Paulo (USP). É incrível estar naquele lugar sabendo que estamos em uma cidade frenética, barulhenta, agitada etc. Um lugar de paz, silêncio e descobertas.
O Parque da Ciência tem como objetivo inspirar o interesse e a curiosidade pela ciência e a pesquisa por meio de ações educativas, ambientais e de lazer para os públicos mais diversos, desde crianças até adultos, de todas as idades ou formações. São mais de 20 atrações incluindo museus, viveiros, horto florestal, construções históricas, além de grande acervo no Centro de Memória que registra as atividades e transformações do IB desde a sua fundação ainda no final do século XIX. Existem 12 prédios históricos tombados espalhados por todo o Parque. São edifícios com estilos variados, dependendo do período em que foram construídos, desde Arte Déco até residências campestres do início do século XX. O Parque ainda possui vias e caminhos originais ao período de suas construções, que fazem do IB um “museu a céu aberto”.
Dentro os museus, o parque abriga quatro espaços de coleções biológicas, cultura científica, educativa e de objetos centenários.
As exposições exibem animais vivos como serpentes, lagartos e anfíbios, documentos históricos da ciência e da saúde pública, atividades e oficinas com temas relevantes sobre microbiologia, a história da saúde pública, com ênfase aos combates às epidemias do século XX e, finalmente, a importância dos imunobiológicos, com destaques às vacinas, para a população. São quatro os museus abertos à visitação: Museu Biológico, Museu Histórico, Museu de Microbiologia e o Museu da Vacina (em fase final de construção e montagem). Em relação aos viveiros, são quatro espaços que simulam habitats naturais.
O “Macacário” que abriga uma colônia de animais do grupo Rhesus (muito importante para a medicina transfusional – todos conhecem o fator Rh do sangue – Rh de Rhesus), espécie Macaca mulata, em um ambiente com vegetação, rochas e enriquecimento ambiental. No “Reptilário”, vivem os lagartos e uma diversidade de quelônios da fauna brasileira.
O “Serpentário” permite a observação de serpentes da fauna brasileira (e algumas asiáticas), inclusive as que são usadas na produção de soros e venenos. Estes espaços, permitem ainda a realização de pesquisas sobre biodiversidade, biologia e conservação.
O “Centro de Memória” disponibiliza um importante acervo histórico do IB. Tem foco no incentivo da produção do conhecimento, no apoio a pesquisadores científicos, na promoção de oficinas, eventos culturais e acadêmicos. O “Horto Florestal Oswaldo Cruz”, totalmente recuperado, é uma “fazenda” de plantas medicinais e de informações de como estas plantas podem e foram utilizadas através dos séculos na busca de novos fármacos e princípios ativos.
Tem um pequeno “teatro de arena” para apresentações, discussões e aulas a céu aberto, um laboratório “mirim”, a exposição da maior flor existente na terra (maior que um ser humano), um “Jardim Sensorial” onde as crianças e os visitantes podem sentir aromas, tocar as plantas, etc.; tem a estátua do “curupira” que tem os pés invertidos para ludibriar os caçadores que querem atingi-lo e uma trilha de 700 m extremamente prazerosa para aqueles que gostam de caminhar dentro de um ambiente sereno e gostoso.
O Parque da Ciência oferece ainda múltiplas atividades para as escolas com ações especiais para estudantes e grupos de escolares dentro dos próprios museus. São atividades interativas e imersivas sobre temas ambientais, biológicas e científicas que devem ser previamente agendadas no site .
Uma atividade interessante ainda, é a visitação da praça Vital Brasil onde há uma estátua de bronze do próprio Prof. Vital Brasil sentado em um banco e onde as pessoas podem fazer fotografias com ele. Há ainda um áudio que conta muitas das histórias do IB e de seus pesquisadores históricos. Finalmente, há um lindo boulevard, com dois espelhos de água para caminhada e, como poderia deixar de ser, uma boutique (lojinha) com objetos e presentes com motivações do parque e do IB para serem adquiridos.
Assim, fica aqui uma “dica”: visitem o Parque da Ciência do IB, levem seus filhos e família. Uma visita como esta pode mudar o futuro de uma criança despertando o interesse pela ciência, pesquisa, meio ambiente e pela diversidade da natureza.
Vale a pena, é um passeio muito diferente e educativo. Este é mais um serviço extraordinário do IB à nossa população.
Carmino Antonio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020