O vereador Zé Carlos (PSB) anunciou seu afastamento da presidência da Câmara de Campinas na noite desta segunda-feira (26). A decisão aconteceu após uma série de pedidos por parte dos parlamentares durante a sessão ordinária. “Vou acatar. Cuidarei da minha saúde e da minha defesa. Mas vocês podem ter certeza que sou inocente. Minha intenção é e sempre foi reduzir os custos da Casa”, disse Zé Carlos, que é investigado pelo Ministério Público por crime de corrupção e se viu ainda mais pressionado após a divulgação de áudios comprometedores na última quinta-feira.
Antes de anunciar o afastamento, Zé Carlos se manifestou de forma emocionada a respeito dos áudios. As conversas que revelam pedido de propina por parte do vereador à empresa terceirizada foram distorcidas e divulgadas fora de contexto, afirmou o parlamentar na tribuna da Casa. Ele se diz vítima de perseguição política e afirma estar sofrendo junto da sua família diante de “tanta calúnia”.
“Tenho fé em Deus que eu e minha família passaremos por mais essa turbulência”, encerrou seu discurso de pouco mais de seis minutos. Após uma pausa de 15 minutos na sessão, ele anunciou o afastamento.
Devassa
“Podem fazer uma devassa”, pediu aos vereadores, que ainda articulam a instauração de uma Comissão Especial de Inquérito para avaliar contratos da Câmara com empresas terceirizadas. “Vocês vão ver que não existe nada”, garantiu Zé Carlos, que até citou o prefeito Antônio da Costa Santos, assassinado em 2001, em sua defesa.
“Aprendi com o Toninho a chamar as empresas para negociar e reduzir custos. É isso que estou fazendo.”
Zé Carlos ainda classificou sua gestão à frente da Câmara como histórica e corajosa, ressaltando também a ação dos vereadores. Falou a respeito dos leitos de UTI instalados para o combate da pandemia, a mudança parcial da sede das sessões durante a reforma da Câmara e das economias que alcançou. “Conseguimos uma devolução ao Executivo de R$ 38 milhões. E com as licitações, a economia foi na casa de 1 milhão e 380 mil.”
A investigação
A investigação veio à tona no dia 17 de agosto, quando uma operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado) realizou buscas e apreensão na Câmara e em endereços ligados a Zé Carlos. E na última quinta-feira, áudios divulgados revelaram o vereador pedindo dinheiro a um empresário ligado à administração da TV Câmara. As gravações foram feitas em 2021 e era época de renovação de contrato.
“…Estou dependendo da tua resposta para ver o que a gente faz. Você esqueceu da última conversa?…Se quiser deixar o dinheiro…Estou aguardando você pra gente definir…não tem nada gravando aí, né?”, diz Zé Carlos em um dos trechos do áudios. O advogado Rafael Creato, subsecretário de Relações Institucionais da Câmara, também aparece nos áudios.
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Ataques
Antes de Zé Carlos anunciar seu afastamento na sessão desta segunda-feira, os debates na tribuna foram tensos. Além de pedirem o afastamento do presidente e a instauração de uma CEI, os vereadores também se atacaram entre si, lembrando antigas rusgas.
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