A Academia Campinense de Letras (ACL) fará uma viagem pelo universo dos Almanaques de Farmácia durante sua Sessão Literária, nesta terça-feira (23), a partir das 19h30. Fonte de informação que pautava o dia a dia dos brasileiros, o material foi tema de pesquisa da pedagoga, doutora em educação e pesquisadora Margareth Brandini Park, que ocupa a cadeira 4 da Academia.
O registro do trabalho está nas páginas do livro “Histórias e Leituras de Almanaques no Brasil”, lançado em 1999 e que integra a Coleção Histórias de Leitura da Editora Mercado de Letras de Campinas. O livro será tema de debate e análise pelos acadêmicos em evento aberto na sede da ACL, no Centro.
“Os Almanaques de Farmácia foram manuais de civilidade, saúde, educação, diversão, religiosidade, entre outros temas, da população brasileira”, relata Margareth, ao justificar a relevância dessas publicações dentro do processo de construção da identidade do País.
O acesso gratuito e as tiragens “astronômicas”, como define Margareth, oferecem à autora uma base da influência que essas publicações tinham na vida das pessoas.
“O mais famoso, que era do Biotônico Fontoura, chegou a ter tiragem de 100 milhões de exemplares”, ilustra.
Peças publicitárias dos laboratórios de medicamentos, os almanaques eram comprados pelas farmácias e chegavam ao público por meio de distribuição como brinde nos finais de ano, explica a pesquisadora. “Tratava-se de um calendário, no qual havia de tudo, como horóscopo, santo do dia, dicas de culinária, de educação e de remédios, piadas, brincadeiras, cartas enigmáticas”, relata.
“As pessoas pautavam suas ações por meio do que era publicado”, comenta. “Não havia um conteúdo principal. Eram vários conteúdos que compunham uma proposta civilizatória para um país que buscava uma identidade como nação”, avalia.
Um dos levantamentos que compõem o livro são cartas de leitores de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul destinadas aos editores dos almanaques às quais a autora teve acesso. Os conteúdos, afirma ela, revelam o forte envolvimento das publicações nas diversas questões ligadas aos costumes das famílias brasileiras. “Serviam, por exemplo, como inspiração para batismo de crianças, dependendo do santo do dia”, expõe. “Havia também muitos agradecimentos pelas possibilidades de diversão e reuniões em casas que os conteúdos geravam.”
Margareth ainda observou que as cartas tinham como remetentes pessoas de diversas classes sociais e diferentes níveis culturais, exemplificando a popularidade dos almanaques. “Os remetentes iam de professores universitários e gente erudita até a agricultores semianalfabetos.”
Uma das curiosidades levantadas pela autora é que os Almanaques de Farmácia foram precursores das agendas. “Haviam muitos espaços em branco destinados para o leitor fazer anotações”, aponta.
A capa e as ilustrações eram outras particularidades. O Jeca Tatu estampava o Almanaque do Biotônico Fontoura, cujo primeiro exemplar com a figura do personagem de Monteiro Lobato foi publicado em 1920. “O Ziraldo ilustrou algumas publicações”, revela a escritora, lembrando o famoso cartunista que morreu no último dia 6 de abril.
Pessoas famosas ainda tiveram suas imagens estampadas em diversas capas. “A Xuxa foi uma delas”, conta a educadora.
Os Almanaques Iza, do laboratório Kraemer, e da Sadol, do Catarinense, também foram temas da pesquisa. Margareth afirma que as publicações da Sadol existem até os dias de hoje, na versão impressa e digital.
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