Cuidado com as coisas fantásticas que estão dizendo sobre a “comida de computador”. Os alimentos ultraprocessados já são um risco, imagine os feitos por computador. Aliás, o termo alimentos ultraprocessados foi cunhado por Carlos Monteiro, um cientista brasileiro, em 2009. Sua equipe de nutricionistas observou que, embora as pessoas no Brasil estivessem comprando menos açúcar e óleo, as taxas de obesidade e diabetes tipo 2 estavam aumentando. como consequência de uma ingestão maior de açúcar, gorduras e aditivos em lanches embalados e refeições pré-fabricadas. Em resposta, Dr. Monteiro propôs um sistema de classificação de alimentos que levasse em conta o grau de processamento envolvido na sua fabricação.
O processamento pode tornar os alimentos saudáveis insalubres: as frutas, por exemplo, à medida que são desidratadas, espremidas ou adoçadas, deixam sua categoria nutricional de um dos melhores alimentos a se consumir. O sistema de Monteiro, chamado NOVA, coloca os alimentos em quatro “categorias”: alimentos não processados ou minimamente processados; ingredientes culinários processados; alimentos processados; e alimentos ultraprocessados. Isso permite uma distinção mais fina entre os diferentes graus de processamento.
Assim, alimentos básicos como arroz, óleo ou farinha, que exigem processamento mínimo para consumo, não são colocados na mesma categoria que salgadinhos e outros ultraprocessados.
Os AUP, como são chamados os ultraprocessados em sigla, geralmente passam por muitos processos industriais sofisticados. Isso não os torna todos insalubres por padrão — um substituto de carne à base de soja pode fazer parte de uma refeição equilibrada, por exemplo — mas o consumo frequente de AUP causa uma constelação de problemas. A maioria contém uma mistura de ingredientes artificiais, muito sal e açúcar, além de poucos nutrientes.
Indiscutivelmente, alguns são mais parecidos com produtos industriais do que com alimentos.
Ao marcar seu sabor pela palatabilidade, os AUP são projetados para serem mais fáceis de comer em grandes quantidades do que alimentos integrais. O que facilita seu consumo indiscriminado e preferência por parte de muitos, em especial crianças e adolescentes.
Comer AUP também tem sido associado à saúde precária de forma mais ampla. Um estudo de 2019 encontrou uma associação entre a ingestão de AUP e o risco geral de doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, que afetam o cérebro, como derrames.
Outro estudo mais recente mostrou que comer menos AUP estava associado a um menor risco de vários cânceres. Uma dieta alta em AUP também parece afetar a microbiota intestinal, os trilhões de bactérias que existem em nossos corpos e contribuem para a saúde de várias maneiras.
Esses estudos de associação não podem provar a causalidade. Ensaios controlados randomizados seriam ideais, mas testes mais ambiciosos podem não ser eticamente possíveis, dado o efeito deletério suspeito desses tipos de dietas.
Dito isso, há muitas evidências que ligam muitos ingredientes em AUP, como açúcar, sal, carboidratos refinados e gorduras saturadas, a resultados negativos para a saúde. Ou seja, podemos ter uma noção bastante segura de que não são a forma mais saudável de se alimentar.
Busque sempre comer produtos mais próximos do menor grau de processamento, ainda que a correria do dia a dia afete nossas escolhas, não podemos ficar apenas dependentes da praticidade. Quando possível, opte por grãos naturais, e frutas frescas, não se prive de prazeres, mas considere sempre a sua saúde, evite ao máximo os ultraprocessados.
Luis Norberto Pascoal é empresário, empreendedor e incentivador de projetos ligados à educação e à sustentabilidade. A Fundação Educar Dpaschoal é um dos pilares de seu trabalho voltado ao desenvolvimento humano e social.