Chorei 30 anos atrás por comoção coletiva. Choro hoje por opção individual. Após assistir a um envolvente documentário italiano “L´ultimo giro di Senna” (A última volta de Senna), pude perceber a grandeza desse ser humano. Várias designações poderiam ser dadas para Ayrton, tais como gênio, herói, campeão, extraterrestre, mas a que melhor se encaixa nele é “ser humano”.
Ayrton conseguia entrar no coração das pessoas, e o faz ainda hoje.
Nas pistas, foi o piloto mais rápido que os circuitos testemunharam.
Muitos pilotos que correm hoje não eram nem nascidos quando Senna partiu, mas mesmo assim, têm em Ayrton um ídolo, pois o carisma do campeão era tão envolvente e seu humanismo tão marcante que a idolatria a Senna se tornou intergeracional.
O Brasil, que deve seu amor às corridas a Chico Landi, Piero Gancia e à família Fittipaldi, teve em Senna a coroação. Um país pobre que até hoje ostenta 8 títulos mundiais.
E por falar em sua última corrida e suas últimas voltas, não custa lembrar também do trágico acidente que privou da vida, um dia antes, o austríaco Roland Ratzenberger. Senna viu o acidente a partir dos monitores a partir do box da Williams e se comoveu.
Sua insatisfação continuou até o dia seguinte. Talvez nunca tenha se visto Senna entrar no carro sem a balaclava, nem o capacete. E depois, por minutos, observar aquele olhar dele. O que será que ele pensava? Senna sentia a dor da morte de um companheiro no dia anterior? Ou talvez pressentisse que algo ruim lhe podia acontecer? Nunca saberemos.
Um mês antes da corrida, Senna já havia dito em entrevista que o asfalto da pista, principalmente antes da curva Tamburello, quicava muito, era muito irregular. E Senna também havia pedido para que o volante de sua Williams fosse posicionado um pouco mais para baixo, para favorecer seu estilo de pilotagem.
A solda mal feita na barra de direção para a cumprir a exigência de Senna se rompeu, ele perdeu a direção do carro, e bateu no muro. Mas o que realmente o matou foi um braço da suspensão que correu como uma lâmina fatal e entrou entre seu capacete e a viseira.
A morte tentou atingir a velocidade de Senna, mas não conseguiu. Ele é eterno.
Essa coluna foi a mais rápida que escrevi.
Minha homenagem a você, Ayrton, 30 anos depois! Sua vida é uma inspiração.
Gustavo Gumiero é Doutor em Sociologia (Unicamp) e Especialista em Antigo Testamento – gustavogumiero.com.br – @gustavogumiero