A cada ano pelo menos 100 mil novos casos de Alzheimer são diagnosticados no Brasil, mudando a vida de pessoas e famílias. Para fortalecer a divulgação de informações sobre os principais sintomas, formas de tratamento e aconselhamento relacionados à doença – enfermidade degenerativa mais comum do mundo – foi escolhido o dia 21 de setembro pela Associação Internacional do Alzheimer como Dia Mundial de Conscientização da Doença de Alzheimer.
Nesta entrevista ao Hora Campinas, o neurocirurgião Marcelo Valadares, médico do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), conta que o alzheimer costuma afetar principalmente os pacientes idosos, aparecendo em geral acima dos 65 anos.
O especialista, que tem na Neurocirurgia Funcional como principal área de atuação, explica que não existem uma forma de prevenção, uma cura conhecida ou uma forma de bloquear a evolução da doença de Alzheimer. “Infelizmente, mutas vezes o diagnóstico demora para acontecer, impossibilitando que estes pacientes se beneficiem dos tratamentos implementados médicos e pela equipe multidisciplinar desde o início”, aponta o especialista.
Hora Campinas – O que é o alzheimer? Há estatísticas relacionadas à doença, número de casos e idade das pessoas mais acometidas pela doença?
Marcelo Valadares – Podemos afirmar, atualmente, que o Alzheimer é a doença neurodegenerativa mais comum do mundo. Se apresenta comumente como demência ou perda de funções cognitivas (memória, orientação, atenção e linguagem). Acontece por conta de um acúmulo de duas proteínas, chamadas de Beta-amiloide, e proteína Tau, que geram inflamação, desorganização e destruição das células, principalmente em regiões como o hipocampo e o córtex.
Estatisticamente, de acordo com a OMS, estima-se que existam 35,6 milhões de pessoas tenham a condição. Este número tende a dobrar até o ano de 2030 e triplicar até 2050.
No Brasil, em 2021, cerca de 1,2 milhões de pessoas sofriam com a doença e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano, segundo o Ministério da Saúde.
A doença costuma afetar principalmente os pacientes idosos, aparecendo comumente acima dos 65 anos. A doença é, ainda, mais comum entre as mulheres: cerca de 70% dos pacientes são do sexo feminino. Também existe o que chamamos de Alzheimer precoce, que afeta pessoas abaixo desta idade.
Quais são os principais sintomas? Como a doença se instala no paciente?
A causa do Alzheimer ainda é desconhecida. Podemos afirmar que aspectos genéticos existem e aumentam os riscos da doença, mas não são determinantes. Um dos sintomas mais conhecidos do Alzheimer é a perda de memória, que pode acontecer gradualmente. Entretanto, também existem outros sinais, como alterações de comportamento e de outras funções mentais, que também ocorrem progressivamente.
Os sintomas podem ser separados por fases, por apresentarem quadros clínicos diferentes. Na primeira (inicial) o paciente apresenta sintomas leves. Por essa razão, muitas vezes acontece o diagnóstico tardio. Já na segunda fase, também chamada de intermediária, a ausência de memória já existe, além das alterações simples de comportamento. A terceira fase, por sua vez, compromete as funções sociais de uma forma mais agressiva. O paciente muitas vezes tem dificuldade de controlar a urina, de deglutir os alimentos. A quarta e última fase (terminal) é a mais desgastante, tanto para os pacientes, quanto aos familiares. Podem acontecer o mutismo, infecções frequentes e, além disto, o paciente frequentemente fica restrito à cama.
Há formas de prevenção? Hábitos que podem frear o avanço da enfermidade?
Não existem uma forma de prevenção, uma cura conhecida ou uma forma de bloquear a evolução da doença de Alzheimer. Infelizmente, mutas vezes o diagnóstico demora para acontecer, impossibilitando que estes pacientes se beneficiem dos tratamentos implementados médicos e pela equipe multidisciplinar desde o início.
Embora o diagnóstico precoce em si não garanta que os sintomas não irão evoluir, implementar os cuidados adequados rapidamente pode melhorar a qualidade de vida do paciente.
Quais os avanços mais recentes em medicamentos e tratamentos que surgiram relacionados à doença?
Atualmente, existem medicações eficazes no Brasil e no mundo que visam atenuar os sintomas da doença. Além da medicação, o envolvimento em atividades sociais para estimular o intelecto, atividades físicas, se for possível, e alimentação saudável podem fazer parte do tratamento.
Recentemente foram lançados nos Estados Unidos medicamentos que prometem adiar o agravamento dos sintomas quando utilizados na fase inicial da doença, mas que ainda são controversos quanto à sua real eficácia.
Como a família pode lidar no dia a dia com pacientes doentes de alzheimer, nos casos leves e nos mais avançados?
Os pacientes precisam ter clareza da sua condição de saúde, apoio e suporte dos familiares e pessoas que importam com eles. Qualquer doença neurodegenerativa demanda um trabalho em conjunto do médico que faz parte da equipe multidisciplinar que irá apoiar o paciente, com familiares e cuidadores.
Este 21 de setembro é o Dia Mundial da Doença de Alzheimer e Dia Nacional de Conscientização da Doença de Alzheimer. Datas assim são importantes para chamar atenção para a doença?
A data é de extrema importância, pois alerta não só a população em geral e familiares de pacientes com suspeita de Alzheimer, mas também profissionais da área da saúde sobre a importância de um tratamento multidisciplinar e do diagnóstico precoce.
Como explicamos, quanto mais cedo acontece o diagnóstico, mais chances de melhorar a qualidade de vida de quem tem a condição.