Talvez, você nunca tenha ouvido essa afirmação. Talvez, você a tenha escutado algumas vezes.
Se você, em algum momento, já ouviu esta inofensiva frase no ambiente de trabalho, espero, de verdade, que tenha sido uma experiência maravilhosa. Porém, segundo a psicologia organizacional, este tipo de abordagem pode afetar negativamente a relação com o emprego e trazer um desgaste psíquico acima do normal. Por isso, a dica é ficar esperto!
Segundo Alison Green, especialista em psicologia organizacional e autora do livro “Ask a Manager”[em tradução livre, “Pergunte a um gerente”], o trabalho como uma extensão da família pode desencadear situações complexas e nada agradáveis de se gerenciar no longo prazo.
O que ela sugere é que se nos portamos como família no ambiente de trabalho, abrimos margem para que os limites éticos e comportamentais sejam esquecidos. A partir deste ponto, os aspectos pessoais da vida – filhos, situação financeira, dificuldades em geral, entre outros -, passam a fazer parte do domínio público da empresa.
Ainda segundo a autora, por melhor que sejam as intenções, com o passar do tempo, esta dinâmica pode prejudicar a percepção de espaço de trabalho saudável, amistoso e/ou equilibrado e se tornar um mecanismo de controle e persuasão da empresa para com os seus empregados.
Por isso, é fato afirmar que as consequências deste comportamento para as pessoas não são nada legais.
Vem comigo:
Primeiro, as empresas que se autodenominam uma verdadeira “família” costumam promover um apagamento da divisão salutar que existe entre vida pessoal e profissional de seus líderes e colaboradores. Com isso, os acordos normais de um dia a dia de trabalho acabam saindo de cena para que a ideia de disponibilidade total e irrestrita seja instalada.
Segundo, se a metáfora da “família” for instalada com sucesso, logo mais um comprometimento de nível familiar será cobrado. Esta relação dá margem para inúmeras questões que colocam em risco a segurança psicológica no trabalho. Imagine aquelas cobranças normais do seu chefe acompanhadas de pressão afetiva e uso de questões pessoais?
Terceiro, se os limites não são mais corporativos, mas sim “familiares”, não é nada difícil que ocorram situações completamente instáveis ou prejudiciais para os colaboradores. Trocando em miúdos, aparecem os “favores” que não são contabilizados nem na carga-horária, nem no contrato e, muito menos, nas conversas oficiais de trabalho.
Por mais atraente que a ideia de se trabalhar em “família” possa parecer, dados estatísticos têm comprovado que essa relação é prejudicial, quase que exclusivamente, aos colaboradores. Ou seja, este “ambiente familiar” é um caminho sem volta para os excessos, que resultam num adoecimento sistemático dos trabalhadores.
Então, encare o seu “ganha-pão” como um viabilizador para alcançar seus objetivos pessoais. Apesar de romântica, gosto da máxima “viva mais, trabalhe menos”. E você, concorda comigo?
Flávio Benetti é professor, palestrante, publicitário e especialista em Comunicação interna e endomarketing. Considera-se um cara apaixonado pela vida, curioso por natureza, fã de tecnologia, design e fotografia