O mundo em evolução torna-se cada dia mais complexo e interconectado. Isso não poderia nos surpreender. Afinal, nós, seres humanos, participamos desse contexto e promovemos a maioria dessas circunstâncias. Ultimamente, temos até nos criticado muito quanto às alterações climáticas que podem comprometer o nosso futuro.
Gerações vão e vêm, os mais velhos assustando-se com as novidades e iniciativas dos mais novos, e estes nem sempre respeitando a experiência daqueles…
Nesse imbróglio todo, a busca pela satisfação humana sugere ser paulatinamente mais desafiadora. Clima, economia, desigualdade social, globalização, políticas e ideologias radicalizadas, guerras e extremismos religiosos, questões de gênero e estigmas raciais estão aí para ser enfrentados.
Em plena Era da Comunicação, a rápida disseminação de informações vai oferecendo de tudo e muita gente não pensa criticamente a respeito. Vai consumindo a informação sem filtros ou distinções.
O conferencista e escritor paulistano Stephen Kanitz indica: “Informação é tudo aquilo que muda o meu comportamento futuro. O resto é ruído”.
A rigor, estamos mesmo lidando com grande excesso de ruídos. Isso incomoda bastante, atrapalha o foco, desconcentra as atenções e dificulta distinguir o que seria aproveitável ou descartável.
Informações boas, construtivas e capazes de mudar nosso comportamento são infelizmente raras. E o problema se agiganta quando nos deixamos levar pelas influências que são nocivas! Os fantasmas das fake news estão se divertindo…
De qualquer modo, não podemos e não devemos nos isolar, fugir do impacto das informações. Há que aprender a selecionar as ruins e as boas.
No exercício diário de aproveitar algumas informações, deparei-me com uma frase que me fez parar e refletir sobre ela.
O professor, jornalista, escritor e líder espiritual eubiota Henrique José de Souza, nascido na Bahia (1883) e falecido em São Paulo (1963), nos legou: “A humanidade é infeliz por ter feito do trabalho um sacrifício e do amor um pecado”.
Realmente, essa expressão merece ser vista, revista, pensada e repensada. E aplicada, vivenciada.
O autor viveu sua vida adulta no século passado. Em uma entrevista de 1956, período da chamada “Guerra Fria”, em que a bipolaridade mundial campeava, com União Soviética e Estados Unidos buscando confirmar uma hegemonia universal, cada um mais equipado para um conflito militar com armas nucleares, ele fez alguns comentários que parecem sincronizados com os dias de hoje.
Assim, ele falava de “julgamentos cíclicos” que o cristianismo e outras teogonias anunciaram ao longo da história… E “condições degradantes” em que se encontravam os homens daquela década, na metade do século 20.
Portanto, há cerca de sete décadas, quando televisão era peça rara na casa dos brasileiros, dispor de uma linha telefônica exigia entrar em longa fila de espera, jornais e revistas que dependiam de impressão eram a força da mídia, a insatisfação humana já incomodava bastante.
Quem se interessar por temas eubióticos, veja o site: https://www.eubiose.org.br. O lema da Sociedade Brasileira de Eubiose é: “Spes Messis in Semine” (A esperança da colheita reside na semente).
Bem, hoje estamos fruindo de tantos recursos tecnológicos, temos informações abundantes e até excessivas, mas a insatisfação continua. E, talvez, pior.
Possivelmente, então, continuamos vivendo o trabalho como sacrifício e o amor como pecado?
Sigmund Freud mostrou que a capacidade de amar e trabalhar são essenciais para a felicidade humana. Se amamos de modo desvirtuado e trabalhamos de modo torturante, estaremos irremediavelmente insatisfeitos, infelizes.
Desvincular o amor do pecado aliviaria tremendamente a pressão moralista sobre o sexo. Jovens sexualmente bem-educados, habituados à camisinha e à pílula anticoncepcional, não teriam que lidar com abortamento e gravidez precoce.
Eletricista trabalhou 35 anos em multinacional. Nunca faltou. Foi premiado na aposentadoria com um troféu de bronze inspirado no Pégaso (cavalo alado de força imortal), com a inscrição: “Para o funcionário infalível”. Depois, em casa, a esposa colocou o prêmio em destaque na sala.
Ninguém percebeu a decepção do ex-funcionário. Quando olhava para o cavalo da homenagem, ele revivia o sentimento que o acompanhou por todo o tempo que trabalhou: sou um burro de carga…
As formas minoritárias de amor ficaram acumuladas em “armários” por séculos. Agora, já se libertaram um pouco, mas ainda se submetem a seus próprios preconceitos, querendo destaques impertinentes e proteções exorbitantes.
Na Inglaterra vitoriana, um mordomo exigia que os empregados do sexo masculino fizessem a barba 2 vezes por dia, antes do desjejum e do jantar. Havia os que se torturavam e se cortavam. E os que caprichosamente se barbeavam, na expectativa de se tornarem um mordomo…
Apesar das pessoas atuais estarem cada vez mais exigentes e individualistas, só há este caminho para fugir da frustração simplista: amem e trabalhem insistente e continuadamente para estarem cada vez mais satisfeitos.
Joaquim Z. Motta é psiquiatra, sexólogo e escritor.











