Em um cenário de inflação persistente, empregos instáveis e custo de vida em alta, cada vez mais brasileiros estão descobrindo que empreender no comércio é mais do que um plano de fuga: é uma rota concreta de autonomia, crescimento e rentabilidade.
Dados do Sebrae apontam que, em 2024, o comércio representou 39% das formalizações de novos microempreendedores individuais (MEIs) no Brasil. De bancas de bairro a lojas online via redes sociais, o setor se consolidou como a porta de entrada mais acessível para quem deseja trabalhar por conta própria.
O pequeno que vira grande
O técnico Claudinei Almeida é um exemplo dessa virada. Começou como funcionário em uma assistência de celulares na Lapa, zona oeste de São Paulo. Um convite inesperado do dono do local para assumir seu próprio box mudou sua trajetória.
“Comprei ferramentas com o que tinha guardado, montei minha própria bancada e comecei a atender. No início foi puxado, mas os clientes voltavam. Confiavam no meu serviço”, conta.
Hoje, Claudinei é dono de uma pequena rede com três pontos de manutenção e venda de acessórios. “Empreender no comércio me deu dignidade e liberdade. Sou dono do meu tempo e dos meus resultados.”
Comércio: margens apertadas, lucros reais
Diferente do que muitos imaginam, o comércio pode ser altamente lucrativo — desde que bem gerido. Mesmo com margens unitárias mais enxutas, o giro rápido de estoque, a fidelização do cliente e o controle de compras são fatores que, somados, constroem negócios resilientes.
Segundo especialistas, com gestão eficiente, é possível alcançar lucratividade líquida entre 10% e 18%. Isso supera facilmente a maior parte das aplicações em renda fixa e representa um diferencial frente a outros setores com maior complexidade regulatória.
E há escala: negócios iniciados em pequenos pontos ou no ambiente digital podem se expandir por meio de novos endereços, franquias ou modelos híbridos (físico + online).
A liberdade de decidir — e colher os frutos
A ótica de Caroline Elizabeth é outro bom exemplo. Após anos como vendedora em uma loja tradicional, assumiu o ponto quando o antigo dono se aposentou. “Eu já conhecia tudo: os clientes, o bairro, os fornecedores. Decidi me arriscar”, diz. Hoje, ela administra o próprio negócio e vê o esforço render resultados diretamente proporcionais à sua dedicação.
Com o avanço das maquininhas, apps de gestão, sistemas de estoque e as redes sociais como vitrine, é possível operar de forma profissional mesmo com equipes enxutas.
Os riscos existem — mas podem ser controlados
Empreender no comércio também exige preparo. A informalidade ainda é alta, dificultando o acesso a crédito e a segurança jurídica do negócio. Além disso, muitos pequenos empreendedores pecam pela falta de separação entre o dinheiro da empresa e o pessoal — erro que compromete o crescimento sustentável.
“O ideal é profissionalizar desde o início”, orienta a consultoria do Sebrae-SP. “Tenha controle de caixa, estoque, margens de lucro definidas e um plano de reinvestimento. Isso transforma um comércio de sobrevivência em um negócio próspero.”
Empreender não é mais exceção — é alternativa viável
Com um mercado consumidor ativo, criatividade abundante e oportunidades em cada esquina, o comércio se mostra, mais do que nunca, uma das formas mais rápidas e acessíveis de empreender com retorno consistente. Para quem tem coragem de começar pequeno, disposição para aprender e foco no cliente, os resultados vêm — e podem surpreender.
Em tempos de incerteza, trabalhar por conta própria deixou de ser um plano de emergência. Virou, para muitos, o caminho preferencial.
Ricardo Rays é administrador de empresas e advogado com quase 25 anos de atuação na OAB/SP. Especialista em Direito Empresarial, Tributário e gestão corporativa











