No fim de maio entra em vigor uma das mudanças na área da saúde mais relevantes dos últimos anos para as empresas brasileiras: a nova Norma Regulamentadora nº 1 (NR1), do Ministério do Trabalho. Pela primeira vez, a legislação exige que riscos psicossociais, como estresse, assédio, pressão e esgotamento, sejam formalmente incluídos na gestão de riscos das organizações. Isso significa que a saúde mental, que por muito tempo foi vista como “tema de RH” ou “algo legal de se fazer”, agora é norma. Passa a ter o mesmo peso que riscos físicos, químicos ou ergonômicos dentro do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).
Para o empreendedor brasileiro, principalmente o de pequena e média empresa, isso exige uma virada de chave. Muitas empresas ainda enxergam a saúde mental como um diferencial e não como um pilar essencial. É preciso mudar esse olhar.
A partir de agora, criar um ambiente emocionalmente saudável não é mais uma questão de escolha: é uma obrigação legal. E isso traz implicações concretas. Ignorar essa norma é abrir espaço para passivos jurídicos, ações trabalhistas, queda de produtividade e desgaste da cultura.
Em ações judiciais, o efeito dominó é frequente, muitas vezes quando um colaborador processa o empregador, outros o seguem, e a empresa se vê exposta. Mais do que isso: quando um funcionário está emocionalmente abalado, ele não performa, por melhor que seja tecnicamente. E um time desengajado não entrega resultado. Essa é a realidade.
Com sinceridade? A maioria das pequenas e médias empresas ainda não está pronta para implementar essas mudanças. Muitos empreendedores estão 100% focados em operação, vendas e caixa, por isso não conseguem (ou não querem) olhar para o emocional da equipe. Mas a nova NR1 não dá margem para isso. O cuidado com a saúde mental precisa ser incorporado à gestão.
O ideal seria já termos uma cultura estruturada, com líderes preparados, canais de escuta e políticas de bem-estar. Mas, se isso ainda não existe, o momento de começar é agora.
Nesse contexto, a liderança tem um papel central. É o líder quem molda o ambiente. A forma como ele cobra, comunica, reconhece e apoia define se o time vai se sentir seguro ou pressionado. E um ambiente psicologicamente seguro é condição básica para inovação, engajamento e performance. Como gestor tenho aprendido isso na prática. Criamos momentos de escuta, damos visibilidade às decisões e mantemos feedbacks regulares. Sabemos que cuidar da saúde mental não é supérfluo, e isso é o que permite que nossa equipe cresça junto com o negócio.
Também é importante lembrar que isso não é custo, e sim investimento. Investir em saúde mental reduz turnover, aumenta a produtividade e fortalece a cultura. Times saudáveis ficam mais tempo, entregam mais e viram promotores da marca, o que atrai novos talentos e melhora a reputação da empresa.
E o melhor: não é preciso começar com grandes orçamentos. Pequenas ações já fazem a diferença. Escutar o time, celebrar conquistas, criar rituais de integração, dar feedback claro. Tudo isso ajuda a criar segurança emocional e senso de pertencimento.
Para quem ainda acha que isso é “coisa de empresa grande”, vale um alerta. Empreender no Brasil já é um desafio por si só. Mas fazer isso com um time fragilizado é insustentável. Quem não cuida do seu time, vai perdê-lo para o burnout ou para o concorrente. Saúde mental, liderança forte e cultura organizacional não são acessórios. São o motor do crescimento sustentável. E agora, são também exigência legal. Não dá mais para ignorar.
Leonardo Guimarães é CEO da AG Antecipa, empresa especializada em antecipação de recebíveis. Formado em Marketing pela FACAMP, com bacharelado em Business Administration na França, iniciou sua carreira como analista de marketing, o que lhe proporcionou uma base sólida em gestão de marcas.











