Por muito tempo, desenvolvedores, tomadores de decisões e até o mercado cimentaram uma lógica disruptiva para fornecedores, prestadores de serviços e, em grande medida, consumidores: o caminho para o mundo das nuvens não tem volta. Estamos falando sobre cloud computing, que desde o começo da pandemia apresenta um crescimento de dois dígitos semestre após semestre graças à infinidade de servidores, ferramentas, recursos e suporte especializado. Desde então, a lógica de cloud native (nativo de nuvem) e a mentalidade de cloud first tornaram-se paradigmas formidáveis para o ecossistema de negócios como um todo, porque se mostravam um serviço benéfico ao cliente final.
Recentemente, no entanto, a primazia da nuvem sobre estruturas físicas sofreu um forte abalo. Empresas do Hemisfério Norte, sobretudo dos Estados Unidos e Canadá, introduziram um movimento contrário às expectativas de mercado: ao invés de concentrar esforços e recursos para a manutenção do ambiente cloud, algumas organizações decidiram se voltar para servidores localizados em escritórios ou empresas, também conhecidos como espaços on-premises.
Segundo um levantamento feito pela consultoria 451 research, 48% dos 600 tomadores de decisões norte-americanos já planejam reintegrar parte de suas atividades para dentro de seus servidores, ao invés de disponibilizá-las no ambiente de nuvem.
O motivo para o crescimento de organizações “migrantes” é claro: um aumento progressivo no custo de subscrições de cloud computing. Empresas consagradas no mercado, como a própria DropBox, ferramenta de armazenamento de dados digitais, trocaram a mentalidade cloud first para uma prática de funcionamento híbrido, no qual metade de suas cargas de trabalho são hospedadas na nuvem e outra parte dentro do ambiente on-premises. De acordo com a companhia, eles preferiram investir mais de US$ 53 milhões em infraestrutura e comandos físicos do que permanecer fiel a uma lógica fechada, em que devemos fechar os olhos e seguir em frente.
Um futuro híbrido em um ambiente aberto
Como todo mercado, o segmento de tecnologia funciona como um pêndulo: há momentos em que ele aponta para o lado que representa a inovação e a engenhosidade de novas soluções, ferramentas e mentalidades emergentes. Na outra ponta, ancora-se em soluções tradicionais, com uma taxa de eficiência baixa, mas ainda assim segura para o ritmo de negócios e fluxo de capitais. No caso da adoção de serviços de cloud computing, a lógica é a mesma: nem sempre a disruptividade consegue atender às demandas de nosso ambiente de negócios e estar aberto a discussões é essencial para a maturidade de organizações.
Com efeito, segundo o último panorama sobre a tecnologia, desenvolvido pela Flexera com 750 tomadores de decisões em todo o mundo, mais de 70% do mercado utiliza a metodologia híbrida para otimizar custos, reorganizar atividades e, em um último caso, capacitar colaboradores dentro dos dois ambientes. Para a consultoria de tecnologia, grande parte dessa migração ocorreu devido ao aumento da preocupação com tecnologia e governança de seus dados que cada vez mais estão expostos a ransomwares (sequestro informações sigilosas em ambiente digital) e a novas diretrizes de webproteção nacional e internacional, como o Marco Civil da Internet, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) e a ADPPA (Lei Federal Norte-Americana de privacidade e proteção) recém-aprovada.
Para além disso, sinaliza a consultoria, empresas de todos os tamanhos começaram a utilizar uma metodologia que potencializa o uso do ecossistema de nuvem de organizações e permite escalar essas operações de mediante o amadurecimento de culturas e a necessidade da expansão de atividades, trata-se do FinOps.
Desenvolvido em 2019, a disciplina apresenta um guia de boas práticas que integra os setores de tecnologia, finanças e de produto. Por meio de uso, gratuito e simples de ser executado, organizações obtêm uma compreensão global de seus usos e gastos com o ambiente de cloud e, no mesmo processo, descobrem os gaps operacionais e com equipes.
Em outras palavras, a solução permite uma análise ampla e direcionada para as necessidades de tecnologia, financeiras e até culturais de empresas de todos os tamanhos. Na avaliação da própria fundação que organiza a metodologia, que conta com mais 12 mil participantes ao redor do mundo, é o ecossistema de cloud, assim como as demais tecnologias e serviços presentes em seu universo, que deve se adequar às demandas de empresas e não ao contrário. Certamente, negócios de todos os tipos e realizados em vários formatos devem ter conhecimento sobre a solução; por outro lado, exigem planos de business, funcionários e culturas condizentes com as demandas impostas pelo padrão digital.
Uma jornada de mãos dadas: a inovação é nosso guia
O caminho da inovação é incontornável. Segundo previsões da IDC Brasil, o mercado de tecnologias terá previsão de crescimento de cerca de 6% até o fim do ano, com um aumento expressivo em investimentos em soluções de cloud e, em sua contrapartida, aplicação no ambiente on-premises. Em outras palavras, caminhando sobre as nuvens ou avançando pelas savanas de cabos, servidores e máquinas brilhantes, uma coisa é certa: navegar é preciso. Entre dados, ferramentas, infraestruturas, inteligência artificial e capacitação de colaboradores, o mantra da jornada digital corporativa deve ser resiliência, assertividade e colaboração.
Por meio desses três eixos, empresas de todos os tamanhos irão perseguir sua maneira singular de fazer negócios, assimilando todas as suas características fortes às demandas de seu mercado de atuação. Nesse sentido, a tecnologia torna-se um catalisador essencial para a transformação de culturas e criação de oportunidades.
Afinal, ela põe à prova todas nossas qualidades e expõe nossos defeitos de maneira transparente, fazendo com que, em poucos ajustes, tenhamos uma nova maneira de enxergar valores e ressignificar percursos. E para isso, a contribuição de fornecedores é cada vez mais essencial nessa trajetória.
Assim, nessa via de mão dupla, entre colaboradores e empresas, consultores e organizações, o caminho é um só: a transformação tecnológica. De acordo com as nossas convicções e alinhado à cultura que almejamos, esse objetivo em comum entre fornecedores e corporações apresenta-se fundamental para não apenas o desenvolvimento de soluções criativas, mas também para o todo o florescimento do mercado. cujos parâmetros de qualidade e de profissionalismo serão cada dia maiores: elevando a competitividade e tornando serviços e produtos inestimáveis para clientes. Isto é, a jornada digital de empresas representa sua trajetória única de maturidade e experiência, mas, se bem pavimentada, esta estrada também levará a Roma.
Paulo Ceschin é diretor de Vendas da Red Hat Brasil