No mundo digital de hoje, o tempo de tela se tornou uma parte incontornável da vida diária e, com o aumento do acesso a dispositivos digitais, surge uma preocupante questão: qual é o impacto do tempo excessivo de tela no desenvolvimento infantil?
Por isso, neste artigo, compartilho os prejuízos que o uso excessivo pode causar, exploro a recomendação de tempo de uso indicada pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e cinco dicas práticas para o uso equilibrado dos dispositivos digitais, visando o desenvolvimento saudável das crianças.
Estudos têm mostrado que o tempo excessivo diante das telas pode ter efeitos negativos no desenvolvimento cognitivo, físico, emocional e social das crianças.
O sedentarismo, por exemplo, frequentemente associado ao uso prolongado de dispositivos eletrônicos, aumenta o risco de problemas de saúde, como obesidade, estresse e dificuldades motoras. Além disso, a exposição à luz das telas nos momentos antes de ir para a cama compromete o ritmo circadiano das crianças, afetando negativamente a qualidade do sono e, por conseguinte, suas habilidades cognitivas, como atenção, memória e funções executivas, prejudicando a aprendizagem, o comportamento emocional e o bem-estar geral (Carter et al., 2016; Rocha et al., 2021; Walsh et al., 2018).
Outro aspecto preocupante do uso excessivo de telas é a diminuição do tempo dedicado às brincadeiras com movimentos corporais e atividades que estimulam a imaginação, pois, o conteúdo passivo de muitos programas e jogos digitais limita as oportunidades de estimulação da criatividade e da interação social ativa entre os pequenos.
Dada a importância de limitar o tempo de tela, a SBP recomenda:
♦Menores de 2 anos: nenhum contato com telas ou videogames.
♦Dos 2 aos 5 anos: até uma 1 hora por dia.
♦Dos 6 aos 10 anos: entre 1 e 2 horas por dia.
♦Dos 11 aos 18 anos: entre 2 e 3 horas por dia.
5 estratégias para garantir o equilíbrio no uso de telas:
1. Estabelecer horários específicos: definir e aderir a horários específicos para o uso de telas ajuda a criança a entender limites e expectativas.
Por exemplo, permitir o uso de telas somente após a lição de casa ser concluída, ou limitar o tempo de tela a 30 minutos antes do jantar.
Isso ajuda a criar uma rotina equilibrada, em que o tempo de tela é apenas uma das várias atividades do dia.
2. Promover atividades alternativas: encorajar atividades que não envolvem telas, como brincadeiras ao ar livre, ouvir música, realizar atividades com artesanato e a leitura de livros é essencial e são ótimas estratégias. Essas atividades oferecem um contraponto saudável às telas
e estimulam a criatividade, a atividade física e o desenvolvimento cognitivo.
Por exemplo, organizar uma caça ao tesouro no quintal, fazer avião de papel, brincar de dobradura, jogar bola ou ainda um projeto de artesanato temático no fim de semana.
3. Supervisionar o conteúdo: é importante garantir que o conteúdo acessado nas telas seja apropriado. Isso pode incluir a escolha de programas educativos, aplicativos que promovem a aprendizagem ou jogos que incentivam a resolução de problemas. Um exemplo prático é
selecionar aplicativos de aprendizagem de idiomas ou jogos de matemática e raciocínio que sejam ao mesmo tempo divertidos e educativos.
4. Participação familiar ativa: engajar-se junto com as crianças nas atividades de tela pode ser uma excelente forma de tornar esse tempo mais produtivo e consciente. Por exemplo, assistir a um documentário educativo juntos e depois discutir sobre o que foi aprendido, ou jogar
um jogo eletrônico que promova o pensamento crítico e a resolução de problemas. Essa participação, além de ajudar a monitorar o conteúdo,também transforma o uso de tela em uma experiência de aprendizado compartilhado.
5. Criação de “zonas sem tela”: estabelecer áreas na casa onde o uso de dispositivos digitais é limitado ou proibido pode ajudar a diminuir a dependência das telas. Por exemplo, fazer das refeições e dos quartos “zonas sem tela” encoraja a interação familiar e o descanso adequado,
respectivamente. Isso ajuda a criar um ambiente em que as telas não dominam todas as atividades e momentos do dia.
Compreendo que encontrar o equilíbrio ideal no uso de telas é, sem dúvida, um desafio na realidade de hoje e com os dispositivos digitais permeando quase todos os aspectos de nossa vida cotidiana, pode parecer uma tarefa árdua estabelecer e manter limites saudáveis para as crianças. No entanto, é importante lembrar que, embora desafiador, não é impossível.
Sendo assim, ao adotar estratégias práticas e conscientes, podemos navegar com sucesso nesse cenário digital, assegurando que o bem-estar e o desenvolvimento saudável dos pequenos permaneçam no centro de nossas escolhas.
Esse esforço conjunto, que envolve pais, cuidadores e educadores, é fundamental para garantir que as crianças cresçam e se desenvolvam em um ambiente em que a tecnologia é usada como uma ferramenta enriquecedora, e não como um obstáculo no desenvolvimento e na aprendizagem.
Junior Cadima é Mestre em Educação Esp. em Neurociência educacional