Deus nos surpreende! A fé nos faz enxergar o essencial, que é invisível aos olhos, mas sensível ao coração. Na manjedoura o Pequenino de Belém se revela na sua fragilidade e inocência, bracinhos e olhos abertos, sorrisinho de amor, encantando os visitantes de boa vontade…
No nosso íntimo, a inquietação do questionamento: vemos, dimensionamos, aquilo que Deus é capaz de fazer? Ele é capaz de se tornar uma criança e vir até nós. Na noite em que Jesus nasceu realizou-se o sonho de Deus: “O Verbo se fez carne humana e veio acampar no meio de nós” (João 1,14).
Nessa bendita e santa noite encheu-se de encantamento todo o Universo, com a glória de Deus ( Lucas, 2,13-14). A Obra da Criação, terras, rios, mares, fauna e flora explodiram em êxtase de inefável regozijo. As cortes celestes entoavam cânticos de infinita alegria, anunciando a chegada do Messias, o prometido Salvador da humanidade. E os pobres de Javé acorreram para ver o Menino, o Príncipe da Paz, o Conselheiro Admirável, Deus Forte… (Isaías 9, 5).
Na gruta de Belém, a jovem Maria, extasiada pela maravilhosa dádiva divina em sua maternidade… Ao seu lado, o jovem José tomado de indizível alegria por ter sido agraciado com o dom da paternidade. A família de Nazaré estava ali formada, e assim nascia uma nova humanidade, fruto da benevolência do Altíssimo.
A Festa do Natal é a festa da origem do sêr “pessoa humana”. Até então, antes da chegada de Jesus, a humanidade era vista como simplesmente, criatura desenvolvida dentro dos limites do gênero “sêr criado” uma espécie superior pensante, pertencente à hierarquia de classes, de um lado, as poderosas e abastadas, de outro. as carentes e empobrecidas, servientes aos interesses dos dominadores, detentores de posse e poder.
O Pequeno Messias rompe com os esquemas ideológicos, e entra pela porta dos fundos da História. Sua origem não provém das castas sacerdotais, ou de famílias das oligarquias dominantes, nem dos escribas e fariseus. Não traz consigo os símbolos das realezas, das dinastias dos impérios da época: cetro, ou coroa, e nem manto solene, e nem tampouco se faz acompanhar de súditos e pajens. Não nasce num palácio ou algum lar abastado de mordomias ou requintadas cortes ensoberbadas de orgulho e vaidades.
Escolhe, no entanto, nascer entre os pobres, numa escura gruta feita estábulo de animais… Seu bercinho acolhedor é um cocho serviente para dar de comer ao gado nessa gruta emprestada… Uma mãe e um pai carinhosos e apaixonados… um colo aconchegante e muito amor… rodeado de gente alegre do povo, que lhe trouxe como presente: leite, pão caseiro, ovos, queijo de cabra, cobertorzinho, sapatinhos e casaquinhos de lã… e legumes e carnes para o caldo nutritivo para sustentar a mãe que amamenta… a lenha para o fogão improvisado…
Tudo ofertado com muito amor. Sem falar da alegria dos animais e da dança harmoniosa das forças da natureza: a terra, o vento, o brilho das estrelas e da lua e som borbulhante das águas e a ciranda mesclada de pessoas, plantas e animais.
Tudo era fascinante e envolvente. Os corações vibravam e os semblantes das pessoas perplexas, eram possuídos de um arrebatamento, um contentamento sem igual… Ali, na cena em que se materializava as promessas de Deus… Tudo isso acontecendo era um clamor uníssono que enchia todo o Universo: Deus é Surpreendente.
E quanto a nós, que a cada ano somos convidados a mergulhar nesse “misterium fidei” (mistério da fé)…
Entremos em cena e procuremos nos identificar com esses personagens do presépio original e vivenciar todo esse clima de encantamento trazido pelo “Bambino Gesu”. Saibamos com carinho preparar a manjedoura do nosso coração para acolher Maria e José, que vêm trazendo novamente a esperança e o amor em nossas vidas.
Natal feliz é Natal com Cristo! É a festa do nascimento de Jesus. É a festa do ser humano que, uma vez que encontrou Jesus e se apaixonou pela sua pessoa e sua doutrina, tomou a decisão de incondicionalmente segui-lo pelo Caminho do Bem, sempre testemunhando seus ensinamentos…
Possamos nós também confirmar com intenso júbilo que Deus é Surpreendente, pois nos deu o seu Filho como prova de amor e nos criou para o louvor de sua glória. “Parabéns, Jesus”.
Padre Luiz Roberto Teixeira Di Lascio, Arquidiocese de Campinas – São Paulo, Assessor da Pastoral Carcerária – E-mail: padredilascio@uol.com.br











