Em tempos de transformações sociais aceleradas, é urgente e necessário voltarmos os nossos olhos — e corações — para os nossos jovens. A minissérie Adolescência, da Netflix, abriu uma janela incômoda, mas absolutamente necessária, para dentro das casas, das escolas e das mentes de uma geração que grita por atenção, por pertencimento e por compreensão. E nós, como educadores, pais, mães e sociedade, precisamos escutar.
Atuando no ambiente educacional e com especialização em Comunicação Não Violenta, posso afirmar: nunca a escola teve um papel tão crucial quanto hoje. Precisamos formar seres humanos integrais, conscientes e conectados com suas emoções.
A série não poupa o espectador. É intensa, visceral e por vezes, dolorosa. Mostra pais bem-intencionados, mas despreparados, escolas que falham em oferecer suporte emocional, e adolescentes em sofrimento profundo, reféns de um mundo digital que acelera inseguranças, distorce referências e cobra performances inalcançáveis. E, ainda assim, há esperança.
A Geração Alfa, como bem apontado em artigos recentes sobre a minissérie, não quer apenas ser ouvida — ela quer ser compreendida. Cresceram com telas, com acesso irrestrito à informação, e com uma hiperconectividade que, paradoxalmente, pode trazer solidão. Mas também cresceram mais conscientes de suas emoções, com mais liberdade para expressar vulnerabilidades, e mais sensíveis à empatia e à inclusão.
Nesse cenário, o papel da escola se transforma. Devemos ser espaço de acolhimento, de escuta ativa, de conexão real. Devemos formar professores que não apenas ensinem inglês ou matemática, mas que sejam agentes de transformação, capazes de enxergar o aluno em sua totalidade. Isso implica, também, envolver as famílias no processo educativo, não como coadjuvantes, mas como protagonistas da formação emocional de seus filhos.
A Comunicação Consciente, pilar do nosso trabalho na Seven Bilíngue, é um caminho essencial. Ensinar jovens (e adultos) a expressarem sentimentos sem julgamentos, a ouvirem com empatia e a construírem soluções em conjunto é mais do que um diferencial: é uma urgência. O diálogo precisa ser resgatado. Não o diálogo superficial, funcional, mas o profundo, o que envolve vulnerabilidade, escuta e disponibilidade real.
Ao refletirmos sobre a minissérie e o impacto que ela gerou, percebemos que não se trata de uma obra de ficção exagerada. Trata-se de um retrato fiel de dores reais, de relações frágeis, e de uma juventude que precisa ser acolhida com mais humanidade. A educação não pode ser apenas transmissão de conteúdo — ela precisa ser ponte entre o saber e o ser.
Como mãe, esposa e inserida no ambiente educacional, compreendo os desafios de criar filhos nesse mundo novo. Mas também acredito no poder da transformação por meio da escuta, da presença e do afeto. Precisamos nos despir da autoridade absoluta e vestir o manto da empatia. Precisamos admitir que não sabemos tudo, que erramos, mas que estamos dispostos a aprender com nossos filhos e alunos.
Por fim, precisamos falar — e muito — sobre adolescência. Mas, mais do que falar, precisamos agir. Rever nossas práticas educativas, nossas dinâmicas familiares, nossos modelos de comunicação. Precisamos ensinar, sim, mas também aprender. Olhar para nossos jovens com menos julgamento e mais curiosidade, com menos rigidez e mais ternura. Porque só assim construiremos, juntos, uma geração mais forte, consciente e preparada para o mundo.
Patrícia Romano é mãe, especialista em Comunicação Não Violenta e Diretora Executiva da Seven Bilíngue desde 2020.











