Já parou para observar como o mundo anda pedindo socorro? Será que estamos escutando? Quem se preocupa com as ondas de calor e as calotas polares derretidas, ou as chances de todo o planeta entrar em conflito nuclear e um flagelo social incompreensível? Será assim sempre ou devemos pensar em nosso mundo como um tesouro extremamente frágil gritando em desespero?
Um alarme está tocando em resposta às mudanças climáticas e a outros desafios. A miséria que minha mente está expressando vem do mundo, não de algo que me toque diretamente, mas de todos os perigos que antevejo.
Por volta desse ponto, alguém poderia deduzir que tenho problemas pessoais. Não, não tenho. Ou se tenho são mínimos perto de tandos desafios que assolam o mundo. Mas minhas reflexões me colocam em um ponto em que me sinto agarrado por um urso que está me abraçando cada vez mais forte, e no qual sinto ou posso vislumbrar sofrimento, e ninguém consegue ver e me ajudar, pois parecem achar que é só carinho de urso.
A todos que encontro, a dedução é simples, e tento explicar, poucos ou quase ninguém quer ver a dor que sinto. A minha verdadeira preocupação parece estar encontrando valor no que pode ser tão facilmente perdido, mas que poucos conseguem ver.
E a solução é reconfigurar a própria ideia dessa perda para que ela se torne menos permanente, menos total e encontre uma forma de alertar do risco certo.
Ironicamente, isso também se torna a minha rota para sair do solipsismo. Minha vida é um mundo aberto onde várias vidas se encontram, um ‘lugar de convergência’ que me construiu. Quando olho no espelho, pergunto: por que tens tantas coisas e outros quase nada? Se o que vejo no espelho me diz algo, também contém vestígios do que representa a minha responsabilidade. Meu trabalho é negociar uma paz entre os dois. E sigo usando a equação que tanto norteia meu existir: “Meu privilégio é do tamanho de minha responsabilidade ao triplo.”
Se somos feitos quem somos por aquilo que flui através de nós, podemos acordar. Perto do final da minha vida produtiva, me indago, perguntando ao homem do espelho: Luis, qual deve ser sua proposta ou projeto para reverter esse quadro e tornar esse mundo bem menos sofrido e a perspectiva lindamente concreta?
Alguém me pergunta, por quê? E eu me pergunto, por que não? Mesmo que as chances sejam mínimas. Você está escrevendo sobre si mesmo ou sobre nós? E esse nós contém vocês e suas gerações futuras!
Queremos guerra ou paz? E com o espelho, olhando para minhas responsabilidades e possibilidades, vejo tantos homens e mulheres que, com muito menos do que tenho, se jogam com energia em direção à luz da verdade e do respeito humano. E eu, o que faço?
Sigo tentando achar caminhos para grandes problemas da humanidade que envolvem educação, fome, desemprego, desmatamento e tantos outros que vão surgindo pelo caminho. Mas se tem algo que os meus quase 75 anos me ensinaram nesse caminhar é que juntos podemos ir mais longe. Quem vem?
Luis Norberto Pascoal é empresário, empreendedor e incentivador de projetos ligados à educação e à sustentabilidade. A Fundação Educar Dpaschoal é um dos pilares de seu trabalho voltado ao desenvolvimento humano e social