Peguei-me a refletir sobre a espécie humana, conhecida como Homo Sapiens, uma espécie privilegiada, como muitos dizem, por ter a faculdade da razão. Uma espécie que tem em mãos a ciência, a medicina clássica, a matemática e a lógica para planejar, para calcular, para curar… Tudo isso pelo bom uso da faculdade da razão, faculdade essa que nos diferencia dos animais. Direcionei meus pensamentos para a parte delicada dessa nossa suposta superioridade racional. Ao fazer isso me surgiram algumas perguntas filosóficas do tipo: de onde viemos? Para onde iremos? Pra que tudo isso?
Reparei que somos uma espécie tão superior, mas tão superior, que nascemos frágeis e necessitamos dos cuidados maternos e paternos por longos anos. É como uma superioridade que esconde uma fragilidade que todos nós temos em maior ou menor grau.
Já parou pra pensar que os animais não se preocupam se e quando irão morrer? Enquanto eu conduzo você a refletir isso junto a mim, seu gato, seu hamster, seu periquito estão lá comendo e dormindo, sem se preocupar com contas no final do mês, sem se preocupar com a finalidade da vida, sem se preocupar em encontrar a cura da Aids. Não ocupam a mente, não precisam controlar suas emoções, pois o instinto animal é quem rege a vida de cada um deles.
O ser humano é uma espécie que sabe mais do que precisa, mas sabe menos do que necessita de fato. Temos um caminhão de informação, mas quase não temos formação, sabemos calcular a raiz quadrada de cem mil, encontrar o cateto adjacente, sabemos definir o que é uma mitocôndria e organelas, mas não sabemos sequer lidar com a morte, com a tristeza, com a decepção, com a solidão.
Sabemos tanto, mas não aprendemos o básico. Que criação educacional escolar e familiar é essa que nos faz aprender outro idioma; nos faz decorar a tabuada, nos faz aprender graus Celsius, mas não nos direciona a dominar nossas angústias existenciais?
É como se tivéssemos dentro de nós um vazio, que tentamos preencher com tudo o que estiver ao nosso alcance; seja lá com bens materiais, seja lá com crenças subjetivas. Tentativas e mais tentativas… Uns encontram uma forma de preencher e levam a vida assim, usando “um óculos” superficial no sentido metafórico, pois não querem retirá-lo e perceber que não enxergam de fato a realidade, nua e crua.
A espécie humana, a maior de todas, assim considerada por ser justamente a que utiliza da razão, é justamente essa que adoece pelo mau uso dela, e é nesse espaço que adentram os escritos de autoajuda baratos tentando nos ensinar como viver bem, nos ditando regras da boa vida. Somos tão sábios que cuidamos dos efeitos e não das causas, usamos da medicina para inventar remédios para ansiedade, depressão que basicamente foram geradas e manifestadas em nós pela loucura de vida que estamos levando e que as redes sociais têm grande impacto e responsabilidade nisso tudo.
A espécie das espécies, a humana, a poderosamente frágil, aquela que chega à Lua, mas não consegue chegar à sua própria essência (se é que há uma).
Essa nossa reflexão é provocante eu sei, eu sou o primeiro a refletir sobre todas essas questões, não me sinto melhor do que você. Aliás, é um tipo de provocação que nos faz colocar os pés no chão e perceber que somos diferentes e não superiores, acabando assim com toda a arrogância que infelizmente domina boa parte da sociedade, sociedade esta que se deixa conduzir em direção à maré, pois assim não precisa pensar.
Pensar cansa, já dizia Henry Ford. Termino pensando que a razão não nos classifica como melhores do que nenhuma outra espécie, ela traz consigo muitos prós e muitos contras. Enfim, as cartas estão na mesa, agora desça do pedestal e tire você as suas próprias conclusões.
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista (PNL)