Você ao ler o título desse artigo deve ter tido um enorme espanto não é mesmo? Pois bem, o que irei abordar aqui é uma leitura do filme da Barbie à luz da filosofia e sociologia, sei muito bem que tal análise divide opiniões e você aí já deve estar curioso (a) para saber meu posicionamento ou ponto de vista, certo?
A resposta é simples: não defendo nem A nem B, pois essa é a atitude fundamental praticada por um filósofo, apenas levantar fatos e pontos de vista e instigar seus leitores a refletirem por si mesmos. Você topa refletir sobre isso? Então vamos juntos nessa sessão.
Eu cresci acompanhando as meninas brincarem com tal boneca. Realmente o marketing atrelado ao capitalismo era grandioso nos meados dos anos 90, se tratava de uma boneca, um brinquedo, mas que por detrás trazia o estereótipo de como uma moça, uma mulher deveria ser, ou pelo menos: parecer ser.
Sempre maquiada, cabelos penteados, cintura fina, sendo assim valorizada pela sociedade como um modelo ideal de mulher. Só a partir do que expus aqui certamente já dividi opiniões entre esquerda e direita que aqui estão lendo, mas seguirei em frente com minha reflexão.
No filme podemos sim extrair militância, feminismo, distorção dos valores familiares tradicionais, mas meu foco aqui não é o político, mas sim o do viés emocional e para tanto quero trazer como referência dois pensadores de grande prestígio na história: Platão e Bauman. Pois bem, Platão foi um filósofo grego importantíssimo que expôs o famoso Mito (ou Alegoria) da Caverna que basicamente diz respeito a uma enganação que um grupo de pessoas vivenciou por acreditar que as sombras na parede dentro de uma caverna eram de fato a realidade.
Platão instiga o leitor de suas obras a “sair da caverna”, a parar de encarar as sombras do mundo como sendo o verdadeiro mundo. Agora trago ao palco o grande sociólogo polonês Bauman, este foi o criador do conceito de Modernidade Líquida, era na qual estamos vivenciando atualmente onde nada foi feito para durar, tudo é em nome do parecer ser.
A partir desses três nomes você consegue deixar o viés político fanático de lado e enxergar meu ponto de vista unindo: Barbie, Platão e Bauman? Não estou aqui para falar de esquerda ou direita, meu foco aqui é guiar você, minha querida leitora, meu caro leitor, a enxergar como o Mito da Caverna de Platão escrito há 500 a.C tem enorme ligação com a Modernidade Líquida de Bauman, era na qual vivemos e na qual o filme foi lançado.
A crítica do início do filme é interessante, pois faz a protagonista referência de mulher ideal, sair de seu universo, da chamada Barbieland e conhecer o mundo tal como ele é, aqui seria como se saíssemos da caverna com bem propôs Platão e saindo de tal caverna da Barbie nos deparamos com um universo que não é lindo nem maravilhoso, nos damos conta de que estamos sendo paulatinamente adestrados a ser uma peça no quebra-cabeça social, seguindo a massa, as normas, para pertencer a um grupo, seja lá qual ele for, e tal processo passa necessariamente pela imagem de si, uma imagem que se vende, que se passa, que se expõe mundo a fora dada as postagens nas mais variadas redes sociais.
Quem resolveu fazer uma profunda reflexão semelhante a essa que estou expondo foi o comediante e astro de Hollywood, Jim Carrey. Ele parou e se perguntou quem de fato era? Em que mundo estava vivendo? Por que agia de tal forma? Por que precisava ser aceito? Isso é quase que como um “curto circuito” no cérebro que no caso dele o deixou depressivo, e em meu caso sendo eu um professor de filosofia também me deixou bastante cético e angustiado sobre o que é a vida, como nos devemos comportar, por que a necessidade de ser aceito e tantas outras perguntas que só trazem mais e mais angústia. Bem vindo ao universo da filosofia.
Como disse no início, esse artigo não buscou defender A ou B, esquerda ou direita, esse artigo teve e tem o intuito de estimular você a parar e refletir sobre a diferença do mundo ideal para com o mundo real.
Refletir até que ponto você precisa se parecer com a tal boneca? Até que ponto ela é apenas uma boneca cuja finalidade é a de entreter a criança e instigá-la à criatividade? Até que ponto preciso alcançar o perfil estético dela comprometendo minha saúde? Até que ponto preciso ser protagonista de minha vida? Mas para que isso tenha legitimidade é necessário dez, vinte, trinta, cem mil seguidores?
Por que parecer ser quando se pode apenas ser? Ser humano, ser imperfeito (a), ter diversos papéis nas relações sociais ocupando o papel de pai, de mãe, de filho (a), não menosprezando quem opte por seguir o padrão conservador, mas nem se achando superior aos conservadores vendo-se como ser supremo livre e independente, porém necessitando de uma curtida em sua postagem que queira transmitir tal ideal.
O mundo gira, ele não para de girar, como bem disse Lincoln Falcão (personagem de Sylvester Stallone no filme Over the Top), os tempos mudam, os valores e princípios mudam, mas o respeito, ah, esse sempre deve permanecer.
A respeito sobre sair da Barbieland (a Caverna de Platão), esteja ciente de que a vida não é um mar de rosas, mas perante os desafios do cotidiano, faça-se uma pessoa forte e independente, sem se deixar ser manipulado (a) apenas para não se sentir só. Um grande abraço.
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista (PNL) – Instagram @institutopontes_oficial