Na última década, o Circuito das Águas Paulista notadamente migrou do café de commodity para o café especial, impulsionado também pelo movimento mundial da segunda e terceira ondas do café. A decisão vem dando bons frutos e já desdobra em um café premiado, de altíssima qualidade para o consumidor, e no desenvolvimento de produtos associados, um deles o turismo de experiência e conhecimento, que incrementa a produção agrícola e valoriza ainda mais o produto.
De visitas guiadas às fazendas até lugares charmosos para degustar o “queridinho” dos brasileiros, a região é um bom destino para experiências com café. Cada vez mais propriedades do Circuito das Águas Paulista se abrem para visitações, com atividades orientadas e sensoriais que apresentam o processo de cultivo do café até chegar à xícara.
“O turismo de café, de uma maneira geral, está se estruturando na região e representa um potencial de crescimento muito grande, principalmente como oportunidade de negócio para pequenos e médios produtores de café do Circuito das Águas Paulista”, afirma Luiz Eduardo de Bovi, produtor de café da Fazenda 7 Senhoras Speciality Coffee, que recebe turistas para experiência no cafezal.
Nesta onda do café, o protagonismo voltou-se às pessoas, os produtores, os profissionais, baristas e micros torrefadores que ampliam seu conhecimento no universo do café, estendendo-o ao seu público e formando os novos consumidores. Foi o que percebeu a produtora de café, Márcia Bichara, que também abriu sua propriedade para vivências com uma pousada ecológica no meio da produção de café, projeto chamado Cafezal em Flor, que recebeu agora em dezembro o prêmio de sustentabilidade da Braztoa.
No roteiro, os turistas têm a oportunidade de conhecer os pés de café, as diferentes variedades produzidas na propriedade, os processos de pós-colheita, a torra, o preparo, e deliciar-se em uma cafeteria com os diferentes métodos de extração.
“Verticalizamos nossa produção. Nossa proposta vai ao encontro da terceira e quarta onda, onde o consumidor quer conhecimento sobre o quê está consumindo e como foi produzido”, afirma Márcia.
Com o potencial brasileiro, segundo maior mercado global para café, cujo consumo percapta do brasileiro gira em torno de 6kg/habitante/ano, a região evolui para uma cultura do café, com uma nova geração de consumidores, que introduziu o público mais jovem e deixa o café cada vez “mais descolado” e ligado a um estilo de vida.
Não é por acaso, que o Café do Circuito das Águas Paulista tem alcançado prêmios e reconhecimento como região produtora de cafés especiais, com características intrínsecas ligadas principalmente a sua geografia e clima.
A região é apontada como ideal para o cultivo do produto, por conta do solo e altitude, melhoramento de variedades advindo das pesquisas do IAC – Instituto Agronômico, além de amplitude térmica com diferentes temperaturas (calor de dia e frio à noite) dentro de uma estabilidade equilibrada, que valoriza a maturação da fruta e resulta na principal característica do Café do Circuito da Águas Paulista, a doçura acentuada e marcante.
“Diferente de qualquer região do Brasil, nosso café tem uma doçura aguçada, que se brinca por aqui que o açúcar é colocado no pé de café”, explica a presidente da Acecap, Silvia Fontes, que é proprietária do Sítio São Roque e se dedica a expansão do café orgânico entre os cafés especiais, tendência também em alta na região.
Alguns cafés da região já exportam para diversos países, especialmente mercados da Europa Ocidental, Leste Europeu e EUA, e já chegaram a Austrália, China, Paraguai, Qatar, Rússia, Eslováquia, Emirados Árabes Unidos, Uruguai. Entre eles, estão os cafés da Fazenda Fronteiras e da Fazenda 7 Senhoras, entre outros.
Mais dados
Números da Casa da Agricultura mostram que a maior concentração do Circuito das Águas Paulista está em Socorro, com 1.033 produtores que cultivam 2365 hectares. Depois vem Serra Negra, com 207 produtores em 2.523 hectares, seguido de Amparo (147 e 900 hectares), Monte Alegre do Sul (120 e 486 hectares) e Águas de Lindóia (94 e 342 hectares) e as outras cidades, completando 1.800 produtores.
O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo, sendo que o café especial teve um crescimento de 5,2 milhões de sacas em 2015 para 8,5 milhões em 2017, de acordo com a Associação Brasileira dos Cafés Especiais (BSCA), além do que a exportação de cafés especiais é um mercado em crescimento de 20% ao ano.
Destaques do Café do Circuito das Águas Paulista nas últimas edições do Concurso Estadual de Qualidade do Café Paulista.
Sítio Santa Rosa de Lima – Paulo Rogério Marchi 2015 – 1º lugar Natural, no Estado de SP e no Prêmio Nacional
Fazenda Santana – Reginaldo Farias 2017 – 3º lugar Cereja Descascado
Fazenda Santana – Reginaldo Farias 2018 – 3º lugar Cereja Descascado
Fazenda Santana – Reginaldo Farias 2019 – 3º lugar Cereja Descascado
Fazenda Fronteiras – Ellen Fontana 2018 – 3º lugar Natural
Fazenda Florada da Serra – Carlos Makimoto 2018 – 2º lugar Microlote
Sítio São Geraldo – Roberto Broto Marchi 2020 – 2º lugar Natural
Sítio São Geraldo – Roberto Broto Marchi 2021 – 2º lugar Natural
Café do Circuito das Águas é destaque no turismo nacional
O Circuito das Águas Paulista mais uma vez foi destaque no turismo nacional, através de duas finalistas no 10º Prêmio Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo): Marcia Regina Poli Bichara, do Cafezal em Flor de Monte Alegre do Sul, e Silvia Kurebayashi Fonte, do Sítio São Roque Serra Negra. Após ambas passarem por três fases de avaliação, e concorrendo com iniciativas turísticas de todo o Brasil, o Cafezal em Flor recebeu o Prêmio Braztoa na categoria de Parceiros no Turismo Sustentável, no último dia dia 3 de dezembro.
Sylvia Fonte, presidente da Associação dos Produtores de Cafés Especiais do Circuito das Águas (Acecap), destacou que o turismo tem o potencial para contribuir, direta ou indiretamente, para todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), que define um quadro global para erradicar a pobreza extrema, combater a desigualdade e a injustiça e reparar as mudanças climáticas até 2030.
“O turismo sustentável está firmemente posicionado na Agenda 2030. Alcançar essa agenda requer uma clara estrutura de implementação, financiamento e investimento adequados em tecnologia, infraestrutura e recursos humanos”, destaca
O prêmio
Primeira premiação no mundo a receber a chancela da OMT (Organização Mundial do Turismo), o Prêmio Braztoa de Sustentabilidade é o principal reconhecimento em turismo sustentável no Brasil – tendo se consolidado como o único no país a lançar um olhar abrangente e integrado para todos os elos da cadeia produtiva nesse setor.
Lançado em 2012 pela Associação Brasileira das Operadoras de Turismo – Braztoa, o Prêmio completa 10 anos com mais de 900 iniciativas inscritas e 92 premiadas, provenientes de todas as regiões do Brasil.
“Desta forma fica evidente a alta qualidade do café e do turismo da região do Circuito das Águas Paulista e o nível de conscientização dos empreendedores rurais que vivem e oferecem um turismo Sustentável apoiado nos três pilares, social, econômico e ambiental, e acreditam que através do turismo podem atingir um grande número de pessoas que vão passar a fazer parte da Agenda de 2030”, conclui Sylvia.