Realizada entre janeiro e fevereiro deste ano, com jogos disputados em Camarões e desfecho inédito a favor de Senegal, que conquistou o primeiro título continental de sua história, a tradicional Copa Africana de Nações proporcionou uma situação bastante curiosa e inusitada envolvendo o futebol campineiro nas redes sociais.
Logo no início da competição, algumas horas após a estreia de Marrocos, com vitória por 1 a 0 sobre Gana, no dia 10 de janeiro, em Yaoundé, dezenas de torcedores marroquinos inundaram de comentários uma página de notícias sobre a Ponte Preta, ao descobrirem a incrível semelhança física entre o meia alvinegro Fessin, de 23 anos, e o atacante Soufiane Rahimi, de 25 anos, considerado uma grande promessa do futebol do Marrocos.
Embora separados por dois anos e meio de diferença de idade, o jogador da Macaca e o atleta da seleção marroquina parecem irmãos gêmeos. Cara de um, focinho do outro. Cópias quase idênticas.
A surpreendente “invasão árabe” aconteceu no Facebook, em uma publicação da web rádio Ponte News, contendo o vídeo da coletiva de apresentação de Fessin na Ponte Preta. A postagem, referente a junho do ano passado, gerou uma inesperada corrente com inúmeras replicações de internautas marroquinos, no último mês de janeiro. Coisas que só a internet pode proporcionar.
Nascido no dia 4 de janeiro de 1999, em Campina Grande, na Paraíba, Jefferson Gabriel Brito Nascimento, conhecido como Fessin, surgiu no ABC de Natal, onde se destacou e chamou a atenção do Corinthians, que o contratou em 2018.
Em 2019, aos 20 anos, Fessin defendeu o Timão na Copa São Paulo de Futebol Júnior, mas sofreu uma fratura na tíbia durante a competição, passou por cirurgia e ficou um ano afastado dos gramados.
Sem nunca ser aproveitado na equipe principal do Corinthians, Fessin foi repassado ao Bahia em 2020 e cedido um ano depois à Ponte Preta, com quem possui contrato de empréstimo até o fim deste ano.
Com a camisa da Ponte Preta, Fessin marcou quatro gols em 25 jogos na última Série B, além de um gol na atual edição do Campeonato Paulista. Titular do meio-campo da Macaca, o meia balançou as redes no empate em 2 a 2 com a Inter de Limeira, no último dia 29 de janeiro, no Majestoso.
Dois anos e meio mais velho que Fessin, Soufiane Rahimi nasceu no dia 2 de junho de 1996, em Casablanca, no Marrocos. Ele foi revelado e começou a carreira no Raja Casablanca, um dos principais times do norte africano, vice-campeão mundial de clubes em 2013, após eliminar o Atlético-MG nas semifinais. Na decisão, perdeu para o Bayern de Munique, então comandado pelo técnico Pep Guardiola.
Defendendo o Raja Casablanca, entre 2018 e 2021, Soufiane Rahimi empilhou taças e prêmios individuais até chegar à seleção principal de Marrocos. Atualmente, ele defende o Al Ain, dos Emirados Árabes Unidos.
Presente constante nas recentes listas de convocações do polêmico técnico bósnio Vahid Halilhodžić, que vem deixando de fora o craque Hakim Ziyech, do Chelsea, após um desentendimento, Soufiane Rahimi é uma das grandes esperanças do país e tem boas chances de aparecer na próxima Copa do Mundo, em caso de classificação de Marrocos.
A seleção de Rahimi precisa eliminar a República Democrática do Congo para conquistar uma das cinco vagas destinadas ao continente africano no Mundial do Catar, em novembro deste ano. Os duelos decisivos entre Marrocos e RD Congo acontecem daqui a um mês, nos dias 25 e 29 de março.
Após disputar quatro jogos e marcar um gol na Copa Árabe, evento-teste para a Copa do Mundo, realizado entre novembro e dezembro do ano passado, no Catar, Soufiane Rahimi atuou em dois jogos da última edição da Copa Africana de Nações, ambos em janeiro.
Ele entrou nos minutos finais da partida de estreia contra Gana, pela fase de grupos, e também jogou a metade final do segundo tempo do jogo diante do Egito, que terminou com derrota por 2 a 1 de virada e eliminação nas quartas de final.
“Há um clamor popular para que Rahimi tenha mais oportunidades desde o início das partidas”, revelou o jornalista marroquino Hamza Erresmy, em contato com a reportagem do Hora Campinas.
“Rahimi pode jogar em todas as posições de ataque, seja como ponta ou centralizado, mas seu melhor rendimento é pelo lado esquerdo. Rahimi é como uma raposa, pois é um jogador rápido e forte, sabe como fazer os adversários cometerem erros e conquista pênaltis com muita astúcia”, descreve Erresmy.
Repórter do portal Mountakhab.net, dedicado exclusivamente a notícias do futebol do Marrocos, Hamza Erresmy foi um dos internautas que agitaram as redes sociais em janeiro deste ano, ao se deparar com a imagem do meia pontepretano Fessin e notar vários traços semelhantes ao de Soufiane Rahimi.
“Em uma de suas declarações, Rahimi disse que seu principal espelho é o atacante brasileiro Roberto Firmino, do Liverpool, especialmente porque há algumas semelhanças entre o futebol deles”, acrescenta Erresmy.
Confira abaixo o relato completo do jornalista marroquino Hamza Erresmy, enviado exclusivamente para o Hora Campinas, sobre a história do atacante Soufiane Rahimi:
Soufiane Rahimi é “filho” do Raja Casablanca. Ele nasceu e cresceu dentro do clube porque seu pai [Mohamed Rahimi] é o responsável pelos equipamentos da equipe desde os anos 60 até hoje, e sua casa fica no centro de treinamento.
Soufiane Rahimi passou por todas as categorias de base do Raja até que, em 2015, o técnico holandês Ruud Krol o promoveu à equipe principal no Campeonato do Norte da África. No entanto, ele não chegou a jogar e permaneceu na equipe sub-21 até 2016.
Naquele ano, houve uma mudança na situação de Rahimi com o Raja. O pai dele pediu ao clube que desse uma oportunidade ao jogador, senão seria melhor deixá-lo ir embora, já que o desejo de jogar era muito grande.
A diretoria do Raja concedeu o desejo a Rahimi, que se transferiu com passe livre para o Étoile Jeunesse Casablanca, clube da divisão amadora de Marrocos. Neste time, ele jogou de 2016 a 2018, impondo-se como estrela e despertando o interesse de muitos clubes, inclusive do próprio Raja Casablanca, por meio do então novo diretor esportivo do clube, Fathi Jamal, uma das estrelas do passado do clube.
O brilhantismo de Rahimi levou o Raja a comprá-lo do Étoile Jeunesse e garantir a sua volta no verão de 2018. Desta vez, a história seria diferente. Logo no primeiro jogo da temporada, na qual se destacou bastante, Rahimi sofreu o pênalti que garantiu a vitória sobre o ASEC Mimosas, da Costa do Marfim, pela Taça das Confederações. Ao longo desta competição, que terminou como campeão, ele contribuiu tanto com assistências quanto gols, incluindo dois na partida final.
Mesmo com a saída do técnico espanhol [Juan Carlos] Garrido e a chegada do treinador francês [Patrice] Carteron no meio da temporada, nada mudou. Pelo contrário, Rahimi continuou seu desenvolvimento e contribuiu para a coroação da equipe com o título da Supercopa da África, em 2019.
Apesar da troca de Carteron pelo marroquino Jamal Salami no comando técnico da equipe, logo no começo da temporada seguinte, a 2019/2020, Rahimi manteve-se brilhante e ajudou o Raja a conquistar o título da Liga Marroquina, além de ganhar o prêmio de melhor jogador do campeonato. E não só isso. Rahimi também liderou sua equipe até as semifinais da Liga dos Campeões da África.
No início de 2021, Rahimi liderou a seleção marroquina local, formada apenas por jogadores que atuam no futebol doméstico, no título do Campeonato das Nações Africanas, onde foi coroado como o melhor jogador da competição e recebeu elogios especiais da estrela camaronesa Samuel Eto’o.
De volta ao seu clube após o título vestindo a camisa da seleção, Rahimi conduziu o Raja novamente à conquista da Taça da Confederação Africana. Ele e o seu companheiro de ataque, o congolês Ben Malango, marcaram, juntos, 60% dos gols do Raja naquela temporada, contando todas as competições, especialmente após a chegada do treinador tunisiano Lassaad Chebbi.
Rahimi tornou-se o foco das atenções e interessou a vários clubes da Europa, da África e do Golfo Árabe. Diante de uma crise financeira, o Raja precisou vender o jogador, que acabou negociado com o Al-Ain, dos Emirados Árabes Unidos, no verão de 2021.
Antes de assinar com o novo time, a direção do Raja Casablanca pediu permissão ao clube dos Emirados para que Rahimi jogasse a partida final da Copa de Clubes Árabes, contra o Al Ittihad, da Arábia Saudita, o que foi aceito.
Rahimi não apenas jogou a decisão contra o Al Ittihad, como marcou um dos gols do empate em 4 a 4 no tempo normal e converteu uma das cobranças na disputa de pênaltis que terminou com vitória e título do Raja Casablanca sobre o adversário saudita liderado pelo técnico brasileiro Fabio Carille, que contava com três jogadores brasileiros: Romarinho, Bruno Henrique e Igor Coronado.
Após a partida contra o Al Ittihad, Rahimi mudou-se diretamente para o Al Ain, onde se impôs rapidamente e já ganhou o prêmio de melhor jogador da liga local por dois meses.