A adoção de medidas apontadas pelas autoridades de saúde como essenciais para o controle da pandemia do novo coronavírus, como distanciamento social, reforço da higienização das mãos e o uso de máscaras, passa pela conscientização da população, e de acordo com especialistas, é fundamental que o poder público mantenha campanhas de informação de maneira regular.
Em recente reportagem publicada pelo Hora Campinas sobre o futuro da pandemia, o médico infectologista André Giglio Bueno, professor da PUC-Campinas, apontou que a falta de campanha do governo federal e mensagens equivocadas explicam o cenário dramático que o País enfrenta. “Pela falta de coordenação nacional, pela mensagem errada, falando justamente o contrário do que deve ser feito, contra as medidas de distanciamento, falando contra o uso de máscaras, promovendo tratamentos que não são eficazes, falando contra a vacina no momento inicial e retardando a compra”, elencou.
Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, também alertou sobre a necessidade de campanha. “Nós, talvez, poderemos comemorar daqui algumas semanas alguma melhora caso seja feita uma grande campanha educativa e que seja mantida por um tempo longo, reafirmando para as pessoas a importância do uso correto das máscaras sempre que precisar sair de casa, a necessidade de manter o distanciamento social, de não aglomerar e higienizar sempre as mãos”, alertou.
Em março, o governo de São Paulo promoveu campanha publicitária com exibição em emissoras de TV e plataformas digitais para alertar os jovens sobre os riscos de contaminação pelo coronavírus. A peça usada foi desenvolvida pelo governo do Mato Grosso do Sul e cedida a pedido do governador João Doria.
Contundente, o vídeo mostra uma jovem que, ao sair com as amigas, não tomou os devidos cuidados de distanciamento social e uso de máscara, contraiu o vírus e o transmitiu ao pai. O filme termina com o pai intubado em um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para dar dimensão do extremo risco de contágio da doença. Uma tragédia anunciada.
Em Brasília, peças de uma campanha do governo do Distrito Federal em rede sociais usaram imagens fortes de pacientes sendo intubados e em leitos de UTI para mostrar a gravidade da doença. “Isso é uma intubação. É melhor você não aglomerar”, foi uma das mensagens publicadas. No final do ano passado, os estados da Bahia, do Rio Grande do Sul e do Ceará lançaram propagandas impactantes em vídeos sobre os riscos de transmissão do vírus dentro da mesma família, com a falta de isolamento social. Os alvos foram as comemorações de Natal e Réveillon. Tudo com objetivo de tentar conter o avanço da pandemia.
Na região de Campinas, as prefeituras também têm apostado em campanhas e mensagens diretas para buscar maior conscientização da população sobre a pandemia. Dentre as ações da Prefeitura de Campinas, um vídeo divulgado em março, por exemplo, chama atenção por usar situações do cotidiano para fazer o alerta. “Era só um churrasco com amigos, era só uma cervejinha, era só uma visita rápida… E era só o que o vírus precisava” diz o texto. E finaliza: “quando você aglomera, automaticamente uma outra aglomeração acontece nas UTIs e nos cemitérios..E aí, já era. Faça o que é certo”.
Jaguariúna
Neste combate de informação, a Prefeitura de Jaguariúna é outra que tem se destacado com campanhas fortes e bem concebidas. Vídeos, textos, fotos e artes publicitárias são produzidos diariamente com o objetivo de informar e provocar as pessoas das mais diferentes idades. Em um deles, um grupo de amigos combina um churrasco e alguns se mostram descrentes com a doença, mas mudam de ideia sobre o encontro, após um deles alertar que o pai está internado em estado grave por conta do vírus.
“A comunicação só faz sentido quando o receptor entende e compreende a mensagem disparada, sua relevância, sua urgência e o seu significado. Formatos, linguagens e estilos precisam ser adequados de acordo com o público-alvo”, Edinho Baffi, jornalista responsável pelas campanhas de comunicação da Prefeitura de Jaguariúna.
De acordo com Edinho Baffi, jornalista responsável pelas campanhas de comunicação, Jaguariúna apostou numa comunicação criativa, ousada e bastante informativa para chamar a atenção dos moradores sobre a importância das medidas protetivas no combate ao coronavírus. “Não é uma missão fácil produzir conteúdos de interesse público durante uma crise tão longa. Um dos principais desafios da comunicação é a elaboração de ações que surpreendam o receptor da mensagem. A linguagem precisa ser forte e precisa. Comunicar na pandemia é um desafio permanente. Informar, argumentar, orientar e persuadir”, explica o jornalista.
Baffi avalia que quando o que está em jogo é a vida, a comunicação precisa ser direta, objetiva e ao mesmo tempo persuasiva. “Nesta realidade, apenas informar não é mais o suficiente. É preciso também emocionar e provocar, despertar sentimentos. É fundamental a construção de narrativas diversas, distintas, para que o ato de comunicar não se torne previsível e acabe perdendo a capacidade de surpreender”, diz.