Além da reação da classe política, sejam aliados e oposionistas, contra o deputado paulista Arthur do Val por suas falas sexistas sobre as mulheres ucranianas, um outro movimento segue forte entre grupos feministas, coletivos sociais e representantes da sociedade civil. Várias iniciativas estão sendo tomadas para pressionar o seu partido (Podemos-SP) e a Assembleia Legislativa de São Paulo a tomar medidas exemplares para os comentários machistas do parlamentar.
Uma das iniciativas em curso é do coletivo Juntas!. O grupo move uma petição on-line pedindo a cassação do deputado. Até a manhã deste domingo, a iniciativa contava com 43 mil assinaturas cobrando a cassação.
Em viagem à Ucrânia, o deputado comentou em grupos de WhatsApp como “enxergava” as jovens do país que está sendo atacado pela Rússia. “Ucranianas são fáceis porque são pobres”, disse num trecho. “Numa fila de 200m, só deusa”, comentou para amigos. E continuou: “Se você pegar a melhor fila da melhor balada no Brasil, não chega aos pés da fila dos refugiados”.
Assim que os aúdios começaram a pipocar nas redes sociais nesta sexta-feira (4), com grande repercussão em toda a mídia nacional, as reações se multiplicaram.
Na sequência, o deputado, mais conhecido como “Mamãe Falei”, detalha seu olhar sobre as jovens ucranianas, dizendo que “elas olham”, como se desejassem algum tipo de interesse sexual. “Eu não peguei ningém”, avisa no grupo do WhatsApp. O parlamentar viajou à Ucrânia para mostrar, segundo a sua versão, as mentiras da guerra. Ele gravou a mensagem assim que cruzou a fronteira com a Eslováquia. Ouça as falas e as zombarias abaixo em conteúdo do Poder360:
O que diz o coletivo Juntas!
Segundo o grupo, os áudios que se tornaram público expuseram “a maneira repugnante e objetificadora que tratou mulheres ucranianas”. E continua: “O deputado esteve na Ucrânia nos últimos dias, sem nem mesmo se licenciar devidamente de seu cargo, para fazer sensacionalismo em suas redes sociais em meio a uma guerra trágica. Na ocasião, enviou áudios comentando como as mulheres na Ucrânia seriam supostamente “fáceis por serem pobres” e sexualizando aquelas que estavam na fila das pessoas que buscavam refúgio e comparando-as às mulheres em filas de balada.”
Para o Juntas!, “é inadmissível que um sujeito como este ocupe um cargo público no parlamento e passe impune diante de tanta barbaridade machista. Exigimos que a Assembleia Legislativa de São Paulo casse o mandato de Arthur do Val e que ele seja responsabilizado na Justiça pelas atrocidades machistas proferidas.”
O coletivo afirma apoiar a iniciativa anunciada pela deputada Monica Seixas (PSOL-SP), que solicitou esclarecimentos ao parlamentar e indicou o pedido de cassação do deputado.
O perfil do coletivo
Em seu site, o Juntas! identifica-se como “um coletivo feminista anticapitalista e antirracista que atua em universidades, escolas, movimentos sociais, sindicatos e cidades por todo Brasil”. Esclarece ter surgido em 2011, e lembra que se fortaleceu “com a Primavera Feminista que correu o mundo”.
E finaliza: “Agora nos colocamos a tarefa de enfrentar Bolsonaro e construir uma alternativa feminista que possa superar as desigualdades sociais, raciais e de gênero”
O que já aconteceu e o que vem por aí
Até agora, vários desdobramentos ocorreram após o aúdio vazar à imprensa. O Podemos, partido do deputado estadual Arthur do Val (SP), decidiu abrir procedimento disciplinar interno contra ele.
Além disso, o candidato à Presidência, Sérgio Moro (Podemos), formalizou seu rompimento com o parlamentar. A namorada de “Mamãe Falei”, o apelido de Arthur do Val”, rompeu o relacionamento. Giulia Blagitz publicou a informação num Story em seu Instagram.
A Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) afirmou, em nota, que o episódio será tratado “com rigor e seriedade pelas esferas de investigação do Parlamento”. Uma investigação interna provavelmente será aberta.
“A Alesp se solidariza com as mulheres, em especial as ucranianas, e reforça sua luta em defesa e proteção de todas, representadas por conquistas históricas, ações efetivas e leis em vigor”, finalizou, em nota.
“Momento de empolgação”
Ao desembarcar em São Paulo, na manhã deste sábado, Arthur do Val, foi questionado pela imprensa sobre suas declarações. Ele afirmou ter cometido “um erro em um momento de empolgação”.
“Não é isso que eu penso. O que eu falei foi um erro em um momento de empolgação. A impressão que está passando aqui é que eu cheguei lá, tinha um monte de gente, e eu falei ‘quem quer vir comigo que eu vou comprar alguma coisa’. Não é isso. Eu fui pra fazer uma coisa, mandei um áudio infeliz e a impressão que passou é que fui fazer outra coisa”.
Ele afirmou que a “missão” que motivou sua viagem foi em um contexto e o áudio que enviou a amigos, assim que saiu da Ucrânia, era em um contexto diferente. “Não foi a melhor das posturas, mas é um áudio privado”, acrescentou. “Fui um moleque”, admitiu. Ele já teria, inclusive, desistido de concorrer ao Palácio dos Bandeirantes. Seu nome estava da lista dos pré-candidatos ao governo paulista.
(Com Agência Brasil)