Um dos clássicos da dramaturgia mundial, “O Pai”, do autor sueco August Strindberg, volta aos palcos para uma temporada de circulação pelo Interior paulista. Após a aclamada estreia em abril de 2022 no Teatro João Caetano, na Capital, a obra dirigida por Regina Galdino será apresentada em sete municípios paulistas graças ao apoio do ProAC – Programa de Ação Cultural, prêmio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo. Campinas está na rota.
Escrita em 1887, “O Pai” permanece atual ao abordar questões relacionadas a gênero e poder, temas cada vez mais presentes nos debates contemporâneos. Na peça, pai e mãe protagonizam uma briga feroz pelo direito de educar a filha, a representação da geração futura. O alicerce social, fincado no exército, na ciência e na religião, é desestabilizado pela mãe, que lança mão de estratégias inescrupulosas para enfrentar o domínio paterno.
“É uma história sobre a luta pelo poder e como eliminar o opositor usando mentiras”, afirma Regina.
A turnê pelo Interior terá início no dia 2 de junho, em Campinas, seguindo depois para São José dos Campos (3/06), Sorocaba (9/06), Santos (11/06), Ribeirão Preto (16/06), Lençóis Paulista (17/06) e São Caetano do Sul (25/06).
Todas as apresentações têm entradas gratuitas.
“Nossa expectativa é muito grande, pois toda vez que viajamos entramos em contato com outras visões, e isso é muito importante. Outros públicos nos trazem coisas novas. Temos esta sede de trocar experiências”, comenta a diretora.
Palestras
Além das apresentações, o projeto também promoverá quatro palestras sobre a vida e obra de Strindberg, em parceria com instituições locais. As palestras ocorrerão na Fundação das Artes de São Caetano do Sul (29/05); na Unicamp, em Campinas (2/06); na UNISO, em Sorocaba (6/06); e no Sesc Ribeirão Preto (15/06), proporcionando uma oportunidade para os participantes mergulharem mais profundamente no contexto histórico e na relevância de “O Pai” como um marco do teatro moderno.
O elenco traz Marcos Damigo (Capitão Adolf), Tatiana Montagnolli (Laura), Gerson Steves (Doutor Ostermark), Daniel Costa (Pastor Jonas), Beatriz Negri (Bertha), Sérgio Passareli (Soldado Klaus), e a participação especial de Gabriela Rabelo (Margret). Para Marcos Damigo, neste momento, a classe artística está sendo convocada mais que nunca a se posicionar através de suas obras.
Sobre a obra
“O Pai” é conhecido como um dos textos mais contundentes do autor sueco, apresentando personagens complexos, ambíguos e profundamente humanos. Eles lutam desesperadamente para entender uma nova sociedade que estava surgindo, com novos papéis sociais sendo delineados para homens e mulheres.
A montagem é resultado de uma busca pessoal da atriz e idealizadora do projeto, Tatiana Montagnolli. “Em 2017, eu estava à procura de uma peça teatral que me impactasse profundamente e, após muitas buscas, encontrei a obra completa de August Strindberg. Foi a peça menos conhecida dele que chamou a minha atenção e, ao terminar a leitura de ‘O Pai’, senti como se tivesse levado um soco no estômago. Desde então, esse projeto se tornou meu sonho, desejo e obsessão, de trazer essa obra para os palcos e mostrar como as mulheres, mesmo em uma sociedade majoritariamente masculina, começavam a buscar seus próprios caminhos. Uma obra escrita há mais de 130 anos, mas que, em muitos aspectos, segue mais atual do que nunca”, relata a atriz.
Encontrado o texto, começava o desafio de sua tradução e adaptação para o nosso tempo. Tarefa que coube ao professor, dramaturgo e ator Gerson Steves. “Foi um processo que, ele mesmo, passou por adaptações. Iniciado em 2017, com um trabalho de atualização linguística, chegamos em 2019 com as primeiras leituras junto ao elenco, ainda com a ativa colaboração do ator Rubens Caribé, que nos deixou tempos depois, sem ter conseguido concluir o seu Capitão Adolf”, relembra Steves.
Outro revés viria para trazer novos desafios: a pandemia.
“Dois anos depois, quando voltamos a lidar com o texto, já não éramos as mesmas pessoas. O Brasil também não. Aquela obra do século XIX ganhou novos contornos e relevância ainda maior ao lidar com questões como masculinidade tóxica, construção de machismo estrutural, distorção da fé e da ciência, trazendo à pauta assuntos tão necessários para o entendimento das instituições e o decorrente conservadorismo contemporâneo”, completa Steves.
Sobre o autor
Johan August Strindberg (1849-1912), é considerado um dos maiores escritores escandinavos de todos os tempos. Com mais de 60 peças em seu repertório, ele é famoso por obras como “Senhorita Júlia”, “A Mais Forte” e “A Dança da Morte”.
“O Pai” foi concebido como uma resposta à peça “Casa de Bonecas”, de seu contemporâneo Henrik Ibsen, transformando o enredo em uma guerra de gêneros, segundo alguns críticos. Strindberg é conhecido por sua habilidade em explorar temas polêmicos e perturbadores em diferentes gêneros e estéticas teatrais, em uma época de fortes confrontos entre ciência e religião.
SERVIÇO
“O Pai”, de August Strindberg
Temporada 2023 – Circulação Interior de São Paulo
Entrada gratuita
Campinas – 2 de junho, 20h
Teatro Municipal José de Castro Mendes
Rua Conselheiro Gomide, 62 – Vila Industrial
Telefone: (19) 3272-9359