Campinas tem respirado a essência misteriosa, ofegante e de intrigas dos bons dramas policiais. Justificável: a cidade abriga, até o sábado (17), as filmagens do longa-metragem independente O Ar Que A Gente Respira, da Santin Filmes, com direção e roteiro do cineasta campineiro Rafael Santin e produção de Lu Chagas.
O longa-metragem, em processo de pré-produção desde 2019, nasceu do fascínio de Santin pelos dramas de Michael Mann e John Cassavetes em um paralelo com personagens densos e psicológicos de clássicos da Sétima Arte, entre os quais os de Era uma vez no Oeste (1968), Os Implacáveis (1972) e À Prova da Morte (2007).
Na mesma sintonia, O Ar Que A Gente Respira traz à tona um dilema cruel: valores pessoais e profissionais colocados à prova durante a investigação de um assassinato.
“Com a suspeita de novos homicídios, surge uma corrida contra o tempo para descobrir quem são os culpados do crime. Observar o ser humano nesse contexto violento é uma necessidade que precisa ser explorada. Os limites que os personagens vivem nessa trama expõem uma realidade que muitas vezes as pessoas não querem discutir. Afinal, o certo e o errado perdem o significado quando os valores são questionados”, provoca o diretor.
Para ambientar o drama policial, a produção escolheu a dedo pontos distintos da cidade, entre os quais o Largo do Café (Taquaral), o Colégio Pe. Júlio Chevalier (Vila Industrial), a Capela São Roque (Vila Industrial), um bar no Jardim Flamboyant, estradas da região do Distrito de Sousas, ruas dos bairros Monte Cristo e Jardim Miranda, prédios do Centro, além de um haras localizado no Distrito de Joaquim Egídio, um Laboratório de Química da Unicamp e a fachada histórica da Delegacia Seccional de Polícia de Campinas, na Avenida Andrade Neves.
Sobre a escolha do elenco, composto por aproximadamente 50 artistas, há um intercâmbio entre atores da Região Metropolitana de Campinas (RMC), como Priscila Junqueira, Douglas Chaves, Vic Vergamini, Nic Nilson e Ronaldo Santiago, e do cenário nacional, com destaque a Pedro Pauleey, Adriano Arbool, Carol Hubner, Alexandre Sean e Clovys Torres.
Que tal alguns spoilers sobre a trama?
O ator Pedro Pauleey, intérprete do policial Adoniran, começa com alguns spoilers. “Por ser leal e focado no trabalho, o Adoniran não quer se prejudicar, nem que o mesmo aconteça com o seu parceiro de trabalho. Contudo, eles estão vivendo um turbilhão de acontecimentos que os deixam cada vez mais encurralados. Ele tem a esperança de que tudo se resolva, mas há muitas intrigas envolvendo os crimes. Há um grande clima de tensão, tudo é trabalhado no limite e ele se vê com a corda no pescoço”, revela o ator.
Nesse mesmo contexto, a atriz Carol Hubner, que vive a policial Cal, afirma que sua personagem representa a força feminina e a idoneidade.
“Ela acredita e defende o órgão em que trabalha e, por conta disso, ser investigadora da Polícia Civil não é apenas um trabalho, é a sua missão de vida. Descobrir a verdade, manter a ordem em sua cidade e colocar os corruptos na cadeia se tornam o seu objetivo de vida”, destaca a atriz.
Com parte do orçamento contemplada pelo ProAC (Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo), a partir do edital Expresso Direto – Artes Visuais, O Ar Que A Gente Respira conta com apoio de diversos empresários da região.
“Fazer cinema independente é um grande desafio, mas, como dizia Cacá Diegues, um dos maiores nomes do cinema nacional: ‘quando faltam recursos financeiros, a criatividade precisa estar aflorada para conseguir realizar a produção de uma obra’, e essa é a mais pura verdade. O nosso filme não foge à regra! Aqui temos muita garra, coragem, criatividade, reinvenção e parcerias”, destaca a produtora Lu Chagas.
A fotografia
A fotografia do longa é assinada pelo experiente diretor Isiel Miranda, que destaca alguns pontos do seu trabalho, entre os quais a relação dos contrastes.
“Em muitas cenas, a carga emotiva é forte e temos um suspense entre o bem e o mal. Sendo assim, trabalhamos em ambientes mais escuros (noturnos e internos) ou ainda com o rosto dos personagens em um misto de escuro e claro”, conta Isiel.
Os jogos de enquadramentos, destaca Miranda, vêm consolidar a emoção e o sentimento que as cenas pedem, propondo diversos climas e tensões ao longa. “Temos planos fixos e longos (criando a sensação de expectativa), planos-sequência em que vemos os personagens indo de um lugar para o outro, trazendo ao espectador a interação e o entendimento de que a vida está se movendo. Há ainda momentos com muitos conflitos em que utilizamos o recurso da câmera na mão para que o espectador se sinta mais dentro da cena e entenda a dimensão da situação.”
Efeitos práticos
Um dos destaques do longa são os efeitos práticos utilizados nas cenas. Israel Massei, o responsável, destaca os principais: réplicas de armas de fogo preparadas para simular disparos reais, efeitos de tiros em objetos (realizados com pequenos dispositivos pirotécnicos e munições de efeito disparadas pelo técnico de efeitos), tiros em corpo acionados via rádio, réplicas de objetos que foram quebrados em cena e próteses que simulam ferimentos.
“Todos esses efeitos garantem mais realismo ao espectador e auxiliam os atores em cena, que podem contracenar e reagir com os próprios efeitos. Isso seria impossível de se conseguir apenas na pós-produção. Desde o primeiro contato com a direção e a produção do filme, tive total liberdade para participar, opinar e sugerir o melhor em efeitos para essas cenas”, destaca Israel.
A trama
A investigação de um assassinato em uma pequena cidade põe a polícia local numa corrida para descobrir o culpado do crime. Falhas nos processos da corporação comprometem a integridade das ações desse grupo, que se torna alvo da Corregedoria.
Adoniran, de investigador a suspeito, precisa defender a própria vida e provar sua inocência. Em compensação, Saulo é o agente da Corregedoria destacado para apurar a conduta funcional da delegacia. De volta à sua cidade natal, conquista aliados, apesar da rejeição de alguns, e ainda terá de lidar com antigos traumas.
O cenário é de grande tensão. Valores pessoais e profissionais são postos à prova em busca da verdade.