O líder indígena, escritor, ambientalista e filósofo Ailton Krenak acaba de ganhar uma biografia com foco no público infantojuvenil. A obra relembra a chegada dos colonizadores na época do chamado Descobrimento do Brasil até o nascimento de Krenak, na década de 1950, no estado de Minas Gerais, às margens do Rio Doce.
O autor da biografia é Francisco Lima Neto, jornalista, assessor de comunicação e repórter do Hora Campinas. A Bienal acontece em São Paulo até o próximo domingo, 10 de julho.
A obra faz parte do recém-lançado selo Kariri, da Editora Mostarda, que também é de Campinas. “Eu levei para a editora a ideia de fazermos um livro sobre o Ailton Krenak, pois as Nações Indígenas ainda são sub-representadas no nosso país, mesmo sendo os povos originários. A gente ainda conhece pouco da imensa diversidade de línguas e culturas desses povos. Geralmente, são tratados como uma coisa só e de forma folclórica”, diz o escritor.
Segundo Lima Neto, o objetivo é que as crianças e adolescentes – público-alvo da publicação – tenham contato com parte da cultura indígena sob outra perspectiva.
“Ailton Krenak é um visionário e desde cedo sentiu na pele as violências perpetradas contra seu povo e contra os parentes, que é a forma que os indígenas tratam uns aos outros, independente de laços sanguíneos. Ele conseguiu organizar uma frente de resistência quando isso ainda nem tinha nome. Graças à articulação dele que foram incluídos na Constituição de 1988 capítulos de proteção às suas terras, culturas e tradições, e desde então a gente percebe que esses direitos estão sempre ameaçados”, conta.
O livro tem ricas ilustrações que representam o dia a dia dos indígenas e as principais passagens da vida de Krenak, que tem uma visão muito particular do mundo.
“A cosmovisão indígena é muito diferente da que está estabelecida na sociedade atual, em que tudo tem um valor a partir de sua finalidade. Krenak acredita que faz parte da natureza, assim como ela faz parte dele, por exemplo. O Rio Doce, que praticamente morreu após o desastre de Mariana em 2015, não tratado como um recurso natural, porque quando algo é um recurso ele pode ser utilizado de qualquer maneira. Para os indígenas, ele é Watu, que significa avô. As montanhas são como uma mãe, uma avó, têm outros significados, tem valor por si só”, explica o autor.
Esse é o terceiro livro lançado por Lima Neto, todos focados na diversidade. “No início de 2021, eu lancei a biografia da Laudelina de Campos Mello, que lutou contra o apartheid em Campinas e que conseguiu com sua atuação garantir que as trabalhadoras domésticas tivessem direito à carteira assinada e direitos previdenciários. Já em dezembro do mesmo ano, eu lancei, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, a biografia de Luiz Gama, que conseguiu se libertar da escravidão sozinho, se tornou um advogado sem formação e conseguiu libertar mais de 500 escravizados ao longo de sua vida”, conta.
Esses dois últimos fazem parte da Coleção Black Power, que nasceu junto com a editora e apresenta biografias de personalidades que mudaram o Brasil e o mundo.
O livro está à venda na Bienal desde o dia 2, e o evento oficial de lançamento ocorre no domingo (10), às 16h, seguido de roda de conversa, sessão de autógrafos e oficina de grafismo indígena. Os livros já estão disponíveis no site da Editora Mostarda.
Francisco Lima Neto é nascido em Campinas, formado em Jornalismo pela PUC-Campinas e tem Pós-Graduação em Matriz Africana. Aprendeu a ler aos quatro anos de idade. Atua como repórter, assessor de comunicação e apresentador de vídeo. É apaixonado pelo resgate de biografias, em especial, aquelas que foram invisibilizadas ao longo do tempo.
SERVIÇO:
O que: Lançamento Biografia Ailton Krenak
Quando: 10 de julho, às 16h
Onde: Bienal do Livro de São Paulo, Rua José Bernardo Pinto, 333, Expo Center Norte, São Paulo – SP
Site: https://www.editoramostarda.com.br/