DELMA MEDEIROS
Especial para o Hora Campinas
A pandemia foi um baque para os espaços culturais, especialmente os independentes. Essa situação já delicada tende a se agravar para o Centro Cultural Casarão, único equipamento público municipal em Barão Geraldo voltado exclusivamente à cultura. Localizado nos fundos do empreendimento imobiliário Terras do Barão, o prédio histórico corre o risco de perder suas características e ficar praticamente isolado do público. A Associação de Proprietários Terras do Barão entrou com um projeto na Secretaria Municipal de Urbanismo, pedindo autorização para criar um cinturão de segurança, que prevê transformar o bairro num condomínio fechado, com guaritas, controle de acesso, interdição de vias.
Para evitar esse isolamento, o coletivo gestor que administra o espaço, formado por artistas, educadores, fotógrafos e moradores, lançou um abaixo-assinado para sensibilizar a administração municipal sobre o problema. “O projeto preocupa porque restringe o acesso ao público, além de descaracterizar totalmente os aspectos arquitetônicos e paisagísticos do Casarão. O fechamento das ruas de acesso asfixia o Casarão como espaço cultural. É uma violência contra o patrimônio cultural e histórico. O Casarão pertence à população de Campinas”, destaca o ator Valdo Matos, integrante do coletivo gestor.
O fechamento das ruas de acesso asfixia o Casarão como espaço cultural. É uma violência contra o patrimônio cultural e histórico”, afirma Valdo Matos
Uma preocupação do coletivo, segundo Matos, é a falta de transparência sobre o projeto. A Associação de Proprietários realizou assembleias para discutir o assunto, mas não comunicou nada ao coletivo, que soube da iniciativa por vias indiretas. “Não tivemos acesso ao processo em tramitação na Secretaria de Urbanismo, nem fomos procurados pela Associação para discutir a questão, o que esperamos que aconteça o quanto antes”, diz Matos.
O Casarão funciona como espaço cultural desde 2005, numa parceria da municipalidade com o coletivo gestor. A Prefeitura arca com os gastos de iluminação, água e limpeza, além da manutenção de três funcionários. Já o coletivo se encarrega da programação artística e da manutenção do espaço de forma geral, como obras, reformas, consertos.
O local que era palco de todo tipo de atividades e linguagens artísticas antes da pandemia – encontros e festas da cultura de tradição, da infância, exposições, oficinas e apresentações – interrompeu as atividades presenciais e atualmente abriga ensaios, gravações e outras ações isoladas.
Com a implantação do cinturão de segurança no bairro, suas chances de retomar as atividades ficam ainda mais distantes. Vale lembrar que todas as atividades são oferecidas sempre na perspectiva de acesso gratuito ao público, com esquema de contribuição espontânea “no chapéu” após os espetáculos.
Posição Oficial
Na semana passada, integrantes do coletivo buscaram apoio da Comissão de Cultura da Câmara. O vereador Paulo Búfalo (PSol) disse que pediu informações sobre o processo à Secretaria de Urbanismo, mas não teve retorno até o momento.
“Ainda não tivemos respostas ao primeiro requerimento. Mas tomamos a iniciativa de abrir um espaço na última reunião da Comissão de Cultura para informe e encaminhamento de um manifesto, que será remetido à Prefeitura através da Comissão. A ideia central é que a análise de qualquer projeto urbanístico na cidade deve considerar a função social, cultural e histórica de sua vizinhança”, afirma o vereador.
Em nota, a Secretaria de Urbanismo informa que: “A Associação de Moradores e Proprietários do Terras do Barão entrou com pedido de autorização na Prefeitura para implantar cinturão de segurança, mas a análise ainda não foi concluída. A manifestação dos integrantes do Centro Cultural Casarão será levada em consideração nesse processo.”
A reportagem tentou contato com a Associação de Proprietários por telefone, foi informada que apenas o advogado pode falar em nome da entidade, deixou o contato, mas, até o fechamento desta reportagem, o advogado não retornou a ligação.
Histórico do Casarão
Neusa Aguiar, funcionária pública gestora do Centro, explica que o Casarão fica dentro de um loteamento, em área da fazenda que foi doada como contrapartida, como se fosse o fundo de uma mata. “A única entrada é pelo loteamento. O espaço ficou no fundo do loteamento.” Neusa conta que o empreendedor fez cinco condomínios fechados, e em contrapartida fez um loteamento aberto onde está o centro cultural. “Parece que o plano diretor prevê o cinturão de segurança”, coloca. Ela salienta que com a redução do acesso, o público não terá como chegar ao Casarão. “O espaço não tem entrada própria. Tudo está sendo feito sem discussão com a Secretaria de Cultura. É uma falta de respeito com a nossa inserção na comunidade.”
“Tudo está sendo feito sem discussão com a Secretaria de Cultura. É uma falta de respeito com a nossa inserção na comunidade”, diz Neusa Aguiar.
Destaca ainda que o Casarão é um equipamento público da Secretaria de Cultura. “Temos três funcionários públicos responsáveis pelo espaço. E tem a gestão coletiva e participativa, com artistas e moradores, aprovado no Conselho de Cultura.” As regras que disciplinam a instalação estão definidas na lei complementar nº 208, de 20 de dezembro de 2018, nos artigos de 55 a 58.
Abaixo-assinado
O abaixo-assinado pedindo que o projeto do cinturão seja embargado e que o direito de livre acesso à Casa de Cultura seja garantido, pode ser encontrado nos endereços: #CinturãoNão; #CinturãoNãoéSolução; #EmbargaOCinturão; #CentroCulturalCasarãoAberto; #CentroCulturalCasarão; #CentroCulturalCasarãoDeTodos