O surto de gripe que chegou no Brasil e atingiu cidades como Rio de Janeiro e São Paulo aparece com força nesses últimos dias do ano em Campinas. Desde essa segunda-feira, milhares de pacientes na cidade têm buscado atendimento público e privado para sintomas como dor no corpo, febre, dor de cabeça e coriza.
Na manhã desta terça-feira, o PS do Hospital Ouro Verde e a unidade Mário Gatti da Avenida das Amoreiras, onde será organizado o Hospital Mário Gattinho (antigo Metropolitano), ficaram lotados com o grande fluxo de pacientes. A espera por atendimento superou 3h.
O Hora Campinas percorreu as unidades e encontrou pessoas na fila, algumas deitadas ou sentadas por conta da prostração causada pelo vírus. A maioria aguardava em bancos no setor de recepção.
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde, o número de atendimentos nesta segunda-feira teve uma elevação média de cinco vezes em relação ao início do mês nas Unidades de Pronto Atendimento. Do total de casos atendidos, 70% representam síndromes respiratórias, e 30% gerais.
O aumento do número de casos de gripe é um fenômeno que se repete ano após ano durante o Outono e o Inverno, mas no Brasil ele ocorreu no final da Primavera e início do Verão. Esse surto é decorrente deuma cepa nova do vírus Influenza A Subtipo H3N2, chamada de cepa Darwin, por ter sido descoberta em uma cidade australiana que tem esse nome. A cepa Darwin ganhou força no Hemisfério Norte, e pode ter chegado ao Brasil por conta do fluxo de viajantes internacionais.
A baixa taxa de vacinação para a gripe, uma consequência natural dada para a imunização prioritária da Covid-19, também explica essa situação.
Especialistas reforçam que a flexibilização das medidas de prevenção contra o coronavírus em razão do avanço da vacinação, também deixou a população mais exposta a outros vírus respiratórios neste segundo semestre.
Um dos pacientes que procuraram atendimento no Hospital Ouro Verde nesta manhã reconheceu exatamente esse fenômeno de relaxamento das medidas sanitárias. Mauro Santos, 40 anos, aeroportuário, que está com sintomas de gripe desde o último domingo, com dor no peito, febre, dor de cabeça e cansaço, atribuiu o atual surto à renúncia das pessoas aos hábitos corretos de higiene. “Isso se deve à liberdade das pessoas de voltarem a interagir como se nada estivesse acontecendo. As pessoas estão abusando, não estão usando mais máscaras, não tem mais gente fazendo higienização”, relatou.
A auxiliar de limpeza Gabriela Leal, 20 anos, também procurou atendimento no Ouro Verde após dois dias de sintomas como garganta inflamada, coriza e dor no corpo. O filho dela, Luis Felipe, de três anos, também estava com sintomas.
Paulo Santos Silva, soldador, foi ao Ouro Verde. Ele esperou 3h pelo atendimento. “Faz três dias com estou com sintomas. Estou sentido febre, náuseas, dor de cabeça e dor no corpo. Um pouco de dor no peito e na costas. Está complicado”, relatou.
Balanço dos atendimentos
Dados disponibilizados pela Secretaria Municipal de Saúde indicam que procuraram o Hospital Ouro Verde nesta segunda-feira 847 pessoas, com 611 adultos (335 casos respiratórios) e 236 crianças (192 casos respiratórios). No Mário Gatti, no mesmo dia, foram 900 atendimentos (658 adultos, dos quais 288 com sintomas respiratórios e 242 crianças, sendo 200 sintomáticas respiratórias).
O mesmo padrão de atendimento e perfil de pacientes se repete no PA São José (325 atendimentos – 252 adultos e 73 crianças), PA Campo Grande (465 atendimentos – 343 adultos e 122 crianças), PA Carlos Lourenço (223 atendimentos – 223 adultos e 0 criança) e Anchieta/Metropolitana (349 atendimentos – 257 adultos e 92 crianças).
De acordo com a Pasta, a maioria dos casos atendidos nas unidades públicas é leve, com tratamento domiciliar. A Pasta reforçou que as equipes de atendimento nas unidades “estão completas” e que não esquema de “recesso” em virtude da transição entre o Natal e o Réveillon.
Adaptação na rede
A chegada dos casos de pacientes gripados às unidades de atendimento em Campinas exigiu adaptação rápida das equipes, como observa o diretor técnico do Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, Carlos Arca. Ele lembra que desde a segunda quinzena de dezembro já havia uma sinalização de que essa busca por atendimento ocorreria. O médico ressalta que a experiência obtida com o acolhimento aos pacientes com Covid-19 ajudou agora nesse surto de casos gripais.
Mas há diferenças, pontua Arca. Ainda que os sintomas sejam parecidos, a síndrome gripal, diferente do SARSCov2, tem evolução rápida, com prostração imediata aos primeiros sinais, entre eles, dor no corpo, dor de cabeça e mal-estar.
Carlos Arca reconhece que será preciso uma certa dose de paciência, em razão do grande número de pessoas com os sintomas que estão buscando suporte. Ele esclarece que os casos que exigem atendimento rápido (identificados pelas cores vermelha e laranja) têm encaminhamento compatível com a urgência e emergência, diferente dos pacientes nas cores azul e verde. Mas o médico salienta que a esmagadora maioria dos casos tem sintomas leves. Das 300 consultas do final de semana, apenas três ficaram em observação e somente um precisou ser internado.
Para os pacientes que estão buscando atendimento para as síndromes gripais, considerando os casos leves, são prescritos analgésico e antitérmico, além de repouso e boa hidratação. É preciso estar atento, avisa o médico, para a eventualidade de piora no padrão respiratório.
“Não temos confirmação ainda do vírus circulante em Campinas”, pondera Carlos Arca. Mas, provavelmente, seja o H3N2, acredita.
Ele lembra que esse fenômeno está ocorrendo, muito provavelmente, porque a população ficou mais desprotegida da gripe, buscando proteção para a Covid-19. “A vacina é muito importante”, defende Arca, referindo-se aos casos gripais. Sobre os pacientes que estão com sintomas febris e que estavam prestes a tomar a terceira dose da vacina contra a Covid-19, o médico orienta que é preciso esperar. “Tem que estar sem febre há 15 dias. Não se pode ser imunizado com quadros infecciosos”, alerta. “Mas, felizmente, a maioria dos casos que chegam às portas dos hospitais hoje não é de Covid”, finaliza.